Reinaldo Azevedo diz que Moro mentiu, Dallagnol mentiu e a Globo mentiu: Laura Tessler foi afastada, sim, do caso Lula

Da coluna de Reinaldo Azevedo no UOL:
Resolvi seguir uma sugestão de Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, e, ora vejam, cheguei a novas evidências do teor mentiroso de sua nota malcriada, divulgada nesta sexta.
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Você vai constatar que a procuradora Laura Tessler foi afastada do caso que dizia respeito ao ex-presidente Lula DOIS DIAS DEPOIS DE SERGIO MORO RECLAMAR DE SEU DESEMPENHO. Influente que é em certos meios, Dallagnol conseguiu emplacar a sua nota mistificadora no “Jornal Nacional” e no “Jornal da Globo”.
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Revelei neste blog e no programa “O É da Coisa”, da BandNews FM, que não procedia a afirmação do ministro Sérgio Moro, em depoimento à CCJ do Senado, na quarta, segundo a qual a sua restrição ao trabalho de Laura Tessler, revelada pelo site “The Intercept Brasil”, fora inócua.
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A interferência é escandalosamente ilegal porque não cabe a um juiz orientar o trabalho da defesa ou da acusação. Ao fazê-lo, Moro se comportava como aquilo que ainda é: o real coordenador da força-tarefa.
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A nota de Dallagnol, cujos trechos ganharam destaque nos dois noticiários da Globo, negava que a procuradora houvesse sido afastada da Lava Jato. Contestava-se o não-dito. Escrevi com todas as letras: “Laura Tessler não foi expulsa da Lava Jato”. Eram esforços conjugados para esconder os fatos.(…)
Como resta escancarado, e foi o que informei na quinta, Deltan repassa a Carlos Fernando mensagem de Moro com críticas ao trabalho de Laura, e a dupla de procuradores começa a tomar providências para afastar a colega do caso. A reação foi rápida. E isso não tem contestação. Aquilo a que os dois jornalísticos da Globo deram destaque, em parceria com Dallagnol, contestava o que ninguém afirmou, mas buscava passar a impressão de que a força-tarefa estava desmentindo o jornalista — embora os noticiosos não tenham citado o autor da matéria.
Atribuíram-na ao site “The Intercept Brasil”, o que é mentira. Também isso não muda o fato. Já foi o tempo em que comício em favor das diretas virava comemoração do aniversário de São Paulo.
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Dallagnol sugeriu que eu fosse consultar os processos. E eu fui. E essa consulta torna ainda mais estúpida a sua nota. Não sei se ele engabelou os dois programas jornalísticos ou se houve uma parceria contra os fatos.
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Deltan repassa a Carlos Fernando mensagem de Moro com críticas ao trabalho de Laura, e a dupla de procuradores começa a tomar providências para afastar a colega do caso. A reação foi rápida.
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Como se nota acima, as trocas de mensagens ocorreram no dia 13 de março de 2017. Pergunta: o que teria acontecido antes para deixar o então juiz Sergio Moro descontente com Laura Tessler, levando Dallagnol e Carlos Fernando a temer por seu mau desempenho no caso Lula?
No dia 10 de março de 2017, uma sexta-feira, Laura participou de uma audiência relativa ao “caso do tríplex” (Processo nº 5046512-94.2016.404.7000), em que figura como acusado, entre outros, o ex-presidente Lula. Na ocasião, foram ouvidas duas testemunhas de defesa do petista: Henrique Meirelles e Luiz Fernando Furlan. Os depoimentos de ambos foram favoráveis ao ex-presidente. A procuradora não fez perguntas às testemunhas.
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No dia 13 de março, data da troca de mensagens de Moro com Dallagnol e deste com Carlos Fernando, Laura havia participado de audiência relativa a outro processo, nos quais figuram como acusados, dentre outros, Antônio Palocci, João Vaccari Neto e Marcelo Odebrecht (Processo nº 5054932-88.2016.404.7000).
A audiência começou às 9h30. Foram, então, ouvidas como testemunhas de defesa Emilio Odebrecht, José Eduardo Cardozo, Marcio Faria, Ivo da Motta Corrêa e Newton de Souza.
Segundo a ata, Laura se manifestou pela publicidade dos depoimentos de Emilio e de Faria, o que contrariou Moro, que decidiu “colher os depoimentos, mas manter o sigilo sobre eles até que nova deliberação ou até o levantamento do sigilo pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, seguindo, neste ponto, recente decisão tomada pelo Min. Herman Benjamim no Tribunal Superior Eleitoral”.
Encerrada essa audiência, o então juiz pegou o seu celular, entrou no Telegram e detonou o trabalho de Laura em conversa com Dallagnol.
Depois da mensagem, Laura participou, sim, de audiências no processo envolvendo Palocci, Vaccari, Marcelo Odebrecht e outros (Processo nº 5054932-88.2016.404.7000) — E NINGUÉM DISSE O CONTRÁRIO —, mas jamais voltou a participar de audiências do Processo nº 5046512-94.2016.404.7000: o do triplex.
No caso do processo contra Lula, foram realizadas audiências em 15/03/2017 (dois dias depois da mensagem de Moro), 20/04/2017, 26/04/2017, 04/05/2017 e 10/05/2017 — quando se deu o interrogatório do ex-presidente. O MPF foi representado em todas elas por Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, como havia sido combinado entre Deltan Dallagnol e Carlos Fernando. Este último fez questão de estar presente ao depoimento do petista.
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E quem presidia a sessão? Ora, Sergio Moro, aquele que chegou a combinar com Dallagnol até o conteúdo da reação do Ministério Público Federal à peça apresentada pela defesa.
Como se nota pelas datas, dois dias depois da mensagem de Moro, Laura já estava fora do caso.
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Laura Tessler atuava no Processo nº 5046512-94.2016.404.7000, que diz respeito ao triplex. Depois das críticas de Sérgio Moro, foi afastada por Deltan Dallagnol. E ele cortou a cabeça da colega sem demora: 48 horas depois, estava fora do caso.
Esses são os fatos. Quem sabe o Jornal Nacional e o Jornal da Globo se interessem por eles. Mesmo que não ocorra, a verdade segue sendo a verdade, a exemplo daquele comício das diretas…
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