sab, 09/12/2017 - 19:54
Atualizado em 09/12/2017 - 20:08

Peça 1 – o significado da nomeação de Marun
Um velho conhecido, que consegue tirar lições da história aplicáveis ao momento atual, me alerta para os seguintes pontos:
A
nomeação do gaúcho-matogrossense Carlos Marun para a articulação
política do governo Temer, é sinal de guerra. Tem o mesmo significado da
nomeação de Benjamin Vargas, o Bejo, em fins de 1945, que acedeu todas
as luzes da oposição para os propósitos continuístas de Vargas.o foi
nomeado para o Departamento Federal de Segurança Pública, o equivalente à
Polícia Federal de hoje. A nomeação recebeu a leitura geral no meio
politico e militar de que as eleições presidenciais prometidas não se
realizariam. Não havia outra explicação para a nomeação do agressivo
Bejo Vargas.
-
São nomeações indicativas de uma intenção. Qual a intenção clara a meu
ver? Temer deseja sua candidatura à reeleição e Marun tem o perfil de um
tanque Panzer para ser o aríete desse projeto.
Peça 2 – as fantasias de Michel Temer
Conhecedor
da psicologia dos políticos, não teve dificuldades em identificar o
óbvio Michel Temer e, por trás dele, o notório Eduardo Cunha.
Temer
foi convencido de que a recuperação econômica é consistente. Acha que o
mérito é dele e que Henrique Meirelles é apenas um usurpador. Porque,
então, entregar o capital da suposta recuperação econômica para
Meirelles, mero executador de uma politica que é politicamente
sustentada por ele Temer a duras penas?
Ele
não tem dúvida de que o projeto Temer é uma fantasia, mas políticos têm
sempre um lado fantasioso nas suas vidas ao lado do puro calculo
politico. Temer é político de ambição grande, mas de voo pequeno. Sua
megalomania é alimentada por Eduardo Cunha, do qual se tornou mera
criatura.
A
aliança temporária Temer-Meirelles é casamento de conveniência apenas,
constata o Espírito da Política. Fora das conveniências de ocasião nada
mais os une, da mesma forma que foi a aliança Lula-Meirelles. Uma forma
fácil de queimar Meirelles é trazer à tona sua hoje esquecida ligação
com o grupo JBS, que não foi tão rasa como se vendeu.
Peça 3 – a busca do outsider
Meu
interlocutor achou “coisa de maluco” o convite de Carlos Siqueira a
Joaquim Barbosa para ser candidato a Presidência pelo PSB.
Ele,
que acompanhou o PSB de João Mangabeira, considera Siqueira um “nó
cego”, uma derrapada na história digna do PSB, que só assumiu o comando
por conta da morte de Eduardo Campos. É um político desagregador e
confuso, se curvou convidando Barbosa e recebendo a resposta imperial,
de que responderá apenas em janeiro.
De
um lado, um megalomaníaco esnobando um partido histórico; de outro, um
medíocre que aceita esperar a prima-dona a quem falta tudo: carisma,
traquejo, discurso.
O episódio mostra a dificuldade na busca do cavaleiro andante, o tertius capaz de encarnar o novo.
Peça 4 – Alckmin, o chihuahua que ruge
Do
lado do PSDB, mais uma vez o partido tem que se curvar ao mais limitado
de seus presidenciáveis, Geraldo Alckmin. De cara, Alckmin adotou a
postura pitbull contra os adversários, tentando disputar espaço com
Bolsonaro. Mais uma vez, comprova a falta de timing político, repetindo o erro da campanha presidencial.
Sua
linha política tem afinidades com Bolsonaro. Sob seu governo, a Polícia
Militar atingiu níveis inéditos de violência e letalidade. É
conservador nos costumes, na política. Mas seu trunfo é disfarçar essa
tendência autoritária com uma postura pública discreta.
Ao
sair atirando, mostra a falta de traquejo para o grande palco nacional.
Alckmin é do tamanho da política paulista, pequena, sustentado apenas
pela incapacidade política do PT paulista e pelo antipetismo do estado.
É óbvio que sequer o antipetismo plantado nos últimos anos será suficiente para torna-lo competitivo nacionalmente.
Peça 5 – os porões do Estado de Exceção
Tem-se,
então, de um lado a incapacidade dos parceiros do impeachment – PSDB e
PMDB – de articular uma candidatura minimamente competitiva. De outro, a
candidatura Lula crescendo a cada pesquisa. E, no meio, o avanço do
estado de exceção, os personagens subterrâneos, dos porões do Estado de
Exceção, cuja sobrevida depende fundamentalmente do pacto anti-Lula ou
da alternativa Bolsonaro.
Setores da direita estatal, atuando de forma coordenada no Ministério Público Federal, AGU, TCU e CGU passaram a se valer dos fake prosecution – a variante jurídica das notícias falsas.
Trata-se
de uma aliança, inicialmente tácita, que se robusteceu quando radicais
de cada repartição se encantaram com seu poder político e passaram a
atuar de forma articulada visando preservá-lo.
A
invasão da UFMG é apenas a ponta mais truculenta desse jogo, ainda mais
sendo reiteração do episódio que levou ao suicídio do reitor da UFSC. E
não vai se parar aí enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF), Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e Conselho Nacional do Ministério Público)
não tomarem medidas drásticas de contenção dos abusos.
Agora, dá para confiar em órgãos presididos pela Ministra Carmen Lúcia? Tenho fundadas desconfianças que não.
Por
isso mesmo, meros problemas administrativos continuarão servindo de
álibi para ações truculentas, invasão de domicílios, intimidação e
humilhação de cidadãos, visando ampliar o clima de repressão.
Registre-se que, dando cobertura intensiva a esse jogo, a Globo é a principal estimuladora da barbárie.
Peça 6 – o fake prosecution
Entra-se,
então, em um campo minado que exigirá cautela e posições firmes. Existe
uma nítida perda de controle sobre a Polícia Federal e o Ministério
Público Federal.
No
caso do MPF, a Constituição previu unidade, indivisibilidade e
independência dos procuradores. Ou seja, confere autonomia funcional a
cada procurador, mas equilibrada pelos conceitos de unidade e
indivisibilidade –teoricamente definidos pelas câmaras de coordenação.
Mas
a militância nas redes sociais e a radicalização política dividiu o MPF
em grupos políticos que acabaram rompendo com qualquer veleidade de
coordenação, submetendo o CNMP aos interesses corporativistas mais
estreitos, permitindo a explosão dos fake prosecution – as falsas denúncias.
Os
últimos integrantes desse jogo são os procuradores Claudio Gheventer,
Gino Augusto de Oliveira Liccione, André Bueno da Silveira e José Silva
Nunes, do MPF-RJ, que denunciaram Dilma Rousseff, Graça Foster e Guido
Mantega, entre outros, pelo congelamento dos preços dos combustíveis,
com vistas às eleições de 2014 – medida condenável, do ponto de vista
econômico, mas a léguas de distância de ilícito penal ou administrativo.
Da
mesma lavra é o abuso de denunciar Lula pelo acordo FX, os aviões da
Aeronáutica, cuja decisão se deu no governo Dilma, atendendo à
recomendação expressa da própria Aeronáutica. Ou a ação extremamente
truculenta contra dezenas de funcionários do BNDES, pretendendo
criminalizar até financiamentos a exportações de serviços.
Peça 7 – fera à solta
Há
uma alcateia à solta, devorando todos os que atravessam a sua frente.
Em algum momento, as diferenças terão que ser deixadas de lado e
Congresso, Supremo, partidos políticos, Procuradoria Geral da República,
terão que se unir para botar ordem no suruba. E como exigir esse pacto
democrático de quem não tem a expectativa de vitória em eleições
democráticas?
Cria-se a ciranda fatal:
-
Quanto menos competitivos eleitoralmente, mais o PSDB-mídia alimentará o antipetismo.
-
Quanto mais antipetismo, mais poder se confere aos porões.
-
O antipetismo é o alimento mais estimulador de fantasias de intervenção militar.
No
extremo, poderá ocorrer o mesmo que no pós-impeachment, o mesmo que no
golpe de 64: os civis que alimentaram a fera serem os primeiros a serem
devorados por ela.
Por
tudo isso, chegará um momento em que o bom-senso se imporá. Resta saber
quanto tempo terá pela frente para impedir a grande fogueira.
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