A Lava Jato quer preservar o poder de prender e soltar sem prestar contas, por Luis Nassif
dom, 24/12/2017 - 17:34

As declarações dos procuradores da Lava Jato contra o indulto de Natal são ilustrativas do seu amadorismo.
Segundo
Deltan Dallagnol, o indulto acaba com a Lava Jato, por comprometer sua
maior arma: a possibilidade de manter o sujeito preso até que abra o
bico.
Com
essa afirmação, Dallagnol dá razão a todos os que apontavam essa
característica da delação – que atropela qualquer princípio de direito.
Dallagnol confirma que a delação se vale dos mesmos recursos da
ditadura, de torturar o preso até que delate – em um caso, através de
tortura física; no outro, com a privação da liberdade e com as visitas
de procuradores praticando terror psicológico.
E,
olha, o Ministério Público Federal gastou bits e bytes com suas
campanhas para demonstrar que a maior parte das delações foi obtida de
forma espontânea, sem uso de ameaças. O craque Dallagnol, que conseguiu
desmoralizar a Lava Jato com um Power Point, agora desmoraliza a delação
com um mero Twitter.
O
segundo ponto relevante surge da comparação entre os apenados da Lava
Jato e os beneficiados do indulto de Natal. Os principais agentes da
corrupção estão ou soltos, ou em prisão domiciliar, gozando de parte da
riqueza acumulada no período. É só conferir Paulo Roberto Costa, Alberto
Youssef, João Santana.
Qual
a razão da indignação, então, com o indulto? O fato da Lava Jato querer
preservar para si o monopólio dos benefícios aos condenados. É a
capacidade de prender e soltar, sem prestar contas, que garante o poder
de juiz e procuradores. É por isso que agitam as redes sociais e as
manchetes da imprensa amiga a cada tentativa de prestação de contas,
mesmo aquelas exigidas pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Dispondo
desse poder absoluto, com definições puramente subjetivas sobre penas e
benefícios, quem garante a lisura do processo? O procurador cujo irmão
enriqueceu com as delações premiadas? O juiz cujo primeiro amigo tentou
entrar nessa seara? O advogado que atuava com a esposa do Juiz nas ações
das APAEs?
Hoje
em dia, já existe um acervo considerável de indícios, provas e dúvidas
sobre a atuação da Lava Jato. O que a sustenta exclusivamente é a
perspectiva de bloqueio da candidatura de Lula – a grande fatura que
permitiu à Lava Jato todos os abusos e extravagâncias.
Daqui
a algum tempo, haverá uma de duas possibilidades: ou Lula inocentado,
ou a candidatura Lula interditada. Em qualquer hipótese, não haverá mais
blindagem à Lava Jato.
Aí,
haverá um enredo já conhecido. Gradativamente, as matérias engrossando
as suspeitas contra a operação sairão dos rodapés para o meio das
páginas. Mais algum tempo, para as manchetes principais.
Na
série sobre a indústria da delação, puxamos vários fios da meada.
Quando começar a debandada, as torneiras das fontes em off jorrarão sem
parar, com cada fonte querendo montar sua própria blindagem comprando
apoio do jornalista por denúncias.
E,
aí, aprenderão sua última lição. Só existe uma categoria mais volúvel
do que a de delator: a de jornalista. Em pouco tempo verão famílias de
donos e famílias de jornalistas pulando fora do barco e, assumindo
contra a Lava Jato o tom mais radical dos neo-convertidos.
Está
certo Dallagnol em dizer que, ampliando o indulto de Natal, Michel
Temer está resguardando seu próprio futuro. Mas sua sagacidade não chega
ao ponto de entender que, quanto mais radicalizar o discurso agora,
maior será a volta do cipó de Aroeira.
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