Conheça os "vagabundos" da ocupação de São Bernardo!
62% trabalham ou buscam trabalho! 42% estão desempregados!
publicado
09/12/2017

Como pagar aluguel se não há emprego? (Crédito: MTST)
O Conversa Afiada republica da Carta Capital trechos do artigo do líder do MTST, Guilherme Boulos - não perca entrevista dele à TV Afiada - a propósito de pesquisa do DIEESE com as 7 mil famílias que ocupam uma área de São Bernardo do Campo, SP:
Em tempo: não deixe de assistir à TV Afiada "Ocupação de 7.000 famílias denuncia fracasso do Golpe"
(...) A maioria dos ocupantes são mulheres
(53,4%) e negros (61,6%). Mais de um terço estuda (35,5%) e a enorme
maioria paga ou tenta pagar aluguel (69,3%). O que leva esse montante de
pessoas para a ocupação não é uma opção por facilidades, mas sim o fato
de 78% dessas famílias receberem menos de um salário mínimo e meio,
comprometendo grande parte desse ordenado com o pagamento de aluguel.
Diferentemente de opinião difundida, a maioria
das famílias pesquisadas é composta de três pessoas ou menos (70,2%) e
somente uma minoria tem acesso ao Bolsa Família (30,7%).
Entre os pesquisados, 23,8% eram trabalhadores
da indústria e 50,1% dos serviços. Os sem tetos são diaristas, ajudantes
gerais, auxiliares de limpeza, garçons, motoristas, auxiliares
administrativos, operadores de máquinas, operadores de telemarketing,
pedreiros, porteiros, vendedores ambulantes, cozinheiros e vigilantes,
para citar as profissões principais identificadas pela pesquisa. Todas
essas categorias, que já há anos vem sofrendo com a precarização do
trabalho, sofreram perdas com a recessão e o aumento do desemprego e
enfrentarão dias ainda mais duros com a entrada em vigor da reforma
trabalhista.
Talvez os dados mais fortes da pesquisa sejam a
taxa de participação - número de pessoas que está empregada ou buscando
emprego - e de desemprego. A taxa de participação na ocupação Povo Sem
Medo é de 73,1%, consideravelmente acima da média da Região
Metropolitana de São Paulo, que é de 62,1%. Ou seja, a enorme maioria
dos ocupantes estão trabalhando ou buscando oportunidade de trabalho.
Por que então ocupam? A resposta vem no índice seguinte: a taxa de
desemprego entre os ocupantes é de 41,8%, mais que o dobro da média da
Região Metropolitana (17,9%). Ali está, portanto, uma parcela dos
trabalhadores que foram mais afetados pela recessão e a política
criminosa de austeridade.
A instabilidade da situação de emprego e renda
obviamente se reflete na instabilidade das condições de moradia, não
apenas para os que hoje estão nas ocupações de terrenos e prédios, mas
para a enorme maioria do povo brasileiro. Afinal, como pagar o aluguel
se não há emprego? A escolha entre comer e morar é um dilema gritante
para cada vez mais gente em nosso país.
O que os pesquisadores encontraram na ocupação
Povo Sem Medo de São Bernardo é um retrato do que é o Brasil e que
insiste em desmentir o otimismo oficial. Um povo batalhador que se
espreme para sobreviver a salários de fome. Esse cenário agrava-se ainda
com a queda do investimento público, que se expressa na redução
drástica de praticamente todos os programas sociais, a começar pelo
próprio “Minha Casa Minha Vida”. Se olharmos adiante, o ataque aos
direitos trabalhistas e previdenciários anuncia um futuro sombrio para o
povo brasileiro. Um presente de trabalho intermitente, quando tiver, um
aluguel incerto em um barraco qualquer e um futuro sem aposentadoria
para a enorme maioria dos trabalhadores.
Longe de ser uma opção “vitimista” dos que
vivem do Bolsa Família, ocupar uma área abandonada - e portanto, fora da
lei - é uma necessidade de quem trabalha e vê o sua renda ser
insuficiente até mesmo para assegurar um teto para sua família. Que esta
pesquisa do Dieese sirva para enfrentar a violência simbólica que pesa
contra aqueles que tiveram a coragem de lutar dignamente por um direito.
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