Sob leis antigay, filme russo omite sexualidade do compositor Tchaikovsky

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AURÉLIO ARAÚJO
DE SÃO PAULO

Um filme que está sendo produzido na Rússia sobre o compositor Pyotr Tchaikovsky (1840-1893) teve seu roteiro alterado e não abordará a sexualidade dele na trama. Acredita-se que Tchaikovsky era homossexual.
O presidente russo, Vladimir Putin, recentemente sancionou leis que proíbem a "apologia" à homossexualidade, a adoção de crianças nascidas na Rússia por casais gays no país e no resto do mundo e autorizam a prisão de turistas gays ou suspeitos de serem homossexuais ou simpatizantes.
Segundo disse ao jornal britânico "The Guardian" a produtora da cinebiografia, Sabina Yeremeyeva, a obra "não entrará em conflito" com a lei contra "propaganda gay" vigente no país.
Tchaikovsky compôs, entre outras obras, os balés "O Lago dos Cisnes" e "O Quebra-Nozes", além da famosa "Abertura 1812".

	Reprodução
	O compositor russo Pyotr Tchaikovsky (1840-1893)

O roteirista Yuri Arabov negou que Tchaikovsky tenha sido gay e disse que, embora tenha feito revisões no script do filme, retratará o compositor como "um homem sem família que ficou marcado e sofreu com os rumores de que amava outros homens".
Depois que o cineasta por trás do projeto, Kirill Serebrennikov (que também é diretor artístico do Teatro Gogol, em Moscou), anunciou em 2012 que estava tendo dificuldades para obter financiamento para o longa, o Ministério da Cultura do país resolveu patrocinar o filme.
Segundo a jornalista Larisa Malyukova, que cobre cinema para o jornal "Novaya Gazeta", ela chegou a ler uma primeira versão do projeto na qual Tchaikovsky se mostrava apaixonado por um homem mais jovem, sofrendo por não ser correspondido.
De lá para cá, o roteiro foi revisado cinco vezes, e, segundo Arabov, a versão final "não tem absolutamente nada sobre homossexualidade".
Serebrennikov se negou a comentar o assunto, mas Yeremeyeva negou que as mudanças no roteiro tenham sido por causa da abordagem da sexualidade de Tchaikovsky.
Para o historiador Alexander Poznansky, que já publicou diversos livros sobre o compositor, "negar que ele era homossexual não faz sentido".

"A situação desse filme é outro exemplo da atual atmosfera cultural da Rússia, que torna o país um alvo de piadas para o Ocidente", disse Poznansky em entrevista ao "Guardian".