Bolívia descarta ruptura com Brasil, mas quer relatório sobre fuga de senador
Do UOL, em São Paulo*
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Jorge Bernal/AGP
Senador da oposição boliviana Roger Pinto, que pediu de asilo político ao Brasil
Pinto, que estava abrigado há 15 meses na embaixada brasileira em La Paz, desembarcou em Brasília, na madrugada de hoje, em um jatinho particular vindo de Corumbá (MS) e acompanhado do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
A ministra da Comunicação boliviana, Amanda Davila, ressaltou que a relação entre os países continuará "em absoluto calor e respeito". Evo Morales evitou falar sobre o assunto em seu discurso, mas fontes oficiais disseram que o governante está "obviamente surpreendido" com o que aconteceu.
"Este caso não afetará as relações com o Brasil. As relações entre a Bolívia e o Brasil serão mantidas em situação de absoluta cordialidade e respeito. O governo boliviano e o presidente Evo Morales sempre manifestaram todo o seu carinho e respeito por todo à presidenta Dilma Rousseff e ao governo brasileiro", disse Davila.
A ministra boliviana frisou que o senador de oposição está envolvido em, pelo menos, 14 crimes e tem manipulado as informações para dificultar as relações da Bolívia com o Brasil.
Ainda assim o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, afirmou que "não há uma ruptura nas relações bilaterais". E citou casos de políticos bolivianos que fugiram para o Paraguai e para os Estados Unidos, quando não houve qualquer crise diplomática, para justificar sua afirmação.
"Com o Brasil temos que ser muito prudentes. O que é Roger Pinto no meio de uma dinâmica comercial de US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões? O que é Roger Pinto? Um suspiro no ar. Não se deve dar mais voo do que tem", disse.
A Bolívia, segundo Quintana, deseja que o Brasil explique o caso por vias diplomáticas, pois não acredita na versão do uso de um veículo oficial e do acompanhamento de militares brasileiros na saída de Roger Pinto.
Quintana também descartou uma possível solicitação de extradição, mas afirmou que Pinto fugiu como um "criminoso comum" e que a promotoria boliviana é quem deve pedir sua captura para a Interpol.
Itamaraty abre inquérito
O Ministério das Relações Exteriores informou que não tinha conhecimentos da chegada de Pinto ao Brasil. Em nota, o órgão disse ainda que vai abrir um inquérito para apurar o caso.O Itamaraty relatou que foi informado do desembarque de Pinto no sábado (24), mesma data do ingresso do político em território brasileiro. Diante da circunstância, o ministério disse que convocou o encarregado de Negócios do Brasil em La Paz, ministro Eduardo Saboia, para prestar esclarecimentos.
Senador é acusado de corrupção
Pinto, acusado de diversos crimes de corrupção na Bolívia, refugiou-se na embaixada brasileira em La Paz em 28 de maio de 2012. Após dez dias de ser recebido na embaixada, o governo brasileiro concedeu ao senador o status de asilado político.Em junho, o político foi condenado a um ano de prisão por um tribunal boliviano, que o declarou culpado de danos econômicos ao Estado calculados em cerca de US$ 1,7 milhão.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse dias depois que o governo da presidente Dilma Rousseff "garantia" a segurança do senador boliviano.
Ao desembarcar em Brasília, Pinto agradeceu às autoridades brasileiras, mas evitou comentar a sua vinda ao país sem o salvo-conduto do governo boliviano, que seria necessário para a viagem. "Devo agradecer uma vez mais a todo o Brasil e as suas autoridades. (...) Em um momento oportuno, uma vez que conheço a decisão das autoridades, poderei me pronunciar mais."
O chanceler também explicou que o governo prosseguia com negociações "confidenciais" com as autoridades bolivianas para tentar solucionar a situação. (*Com agências internacionais)
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