quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Chile reage contra Bolsonaro por ataques a Bachelet e defesa da ditadura

O presidente do Senado, Jaime Quintana, disse que falas de Bolsonaro devem "provocar uma rejeição transversal e contundente de todos os setores políticos do Chile", e que o mandatário do Brasil "feriu a memória dos chilenos"
Jornal GGN – Os jornais chilenos estamparam o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira (04), em nova polêmica bilateral, desta vez com o vizinho latino-americano, pelos ataques diretos do mandatário contra a ex-presidente do Chile e atual Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, e em defesa da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).
“O presidente brasileiro Jair Bolsonaro lançou nesta quarta-feira uma duríssima critica a alta comissária de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, a quem acusou de defender ‘vagabundos’ e atacou, inclusive, de forma pessoal”, foi a manchete de diversos jornais chilenos, entre eles El Mostrador, a Emol, a Cooperativa.
A reconhecida rádio Biobio também mostrou perplexidade ao noticiar: “Bolsonaro ataca a Bachelet com morte de seu pai: ‘Se não fosse por Pinochet, Chile seria uma Cuba’”. Mas foram os ataques diretos e gratuitos de Bolsonaro contra o pai da ex-presidente do país, opositor da ditadura militar que foi torturado e faleceu em decorrência dos maus tratos sofridos, que geraram as maiores repercussões no país.
“Um novo episódio de desencontros e frases mal intencionadas protagonizou, nesta quarta, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro”, introduziu a Radio Universidad de Chile. “Cabe lembrar que o pai da Alta Comissária, o general da Força Aérea Chilena Alberto Bachelet Martinez morreu em 1973 depois de sofrer um infarto na prisão publica de Santiago, logo após ser torturado pelos seus próprios companheiros”, continuou.
“Bolsonaro atacou a Bachelet com o homicídio de seu pai nas mãos da ditadura de Pinochet”, escreveu a radio ADN, pontuando que o mandatário brasileiro “lembrou a Michelle Bachelet o assassinato de seu pai”.
E não foram apenas os jornais que deram espaço para as criticas e perplexidade frente às palavras sem cautela do mandatário brasileiro. As reações do mundo político também não tardaram em chegar, principalmente em repúdio, entre elas do deputado Macelo Díaz, do Partido Socialista.
“Hoje corresponde, por coerência, por convicção e para erradicar toda possível interpretação de intencionalidade política, que o Governo [do Chile] dê respaldo público ao informe da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, a respeito da situação de direitos humanos a que vive o Brasil”, escreveu o parlamentar.
Díaz pediu, ainda, que o atual presidente Sebastián Piñera “expresse também, por meio de uma nota diplomática, a preocupação do Governo do Chile diante da situação de direitos humanos no Brasil, a partir deste relatório”, continuou o deputado.
O jornal La Tercera ressaltou que o presidente do Senado, Jaime Quintana, pediu do presidente chileno uma “reação imediata” frente às declarações acusatórias do presidente brasileiro. Para ele, as falas de Bolsonaro deveriam “provocar uma rejeição transversal e contundente de todos os setores políticos do Chile”, afirmando que o mandatário do Brasil “feriu a memória dos chilenos e as vítimas das violações de direitos humanos”.
“Lamento muito pelo povo brasileiro, por ter um presidente que faz apologia à ditadura, que reivindica a ditadura, o derramamento de sangue”, afirmou outra parlamentar, a deputada do Partido Comunista, Camila Vallejo, e pediu que Piñera responda diante das graves declarações “vergonhosas e inaceitáveis” de Bolsonaro”.
“Muitos dos nossos pais, dos nossos avós, irmãos foram assassinados, torturados e desapareceram pela ditadura que ele [Bolsonaro] reivindica. Isso para mim é aberrante. O Presidente da Republica, independentemente de sua posição política, deveria sair a responder a essas declarações, porque aqui esta em jogo também a democracia chilena”, acrescentou a deputada.

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