Entrevista - Guilherme Boulos
“A elite brasileira é atrasadíssima e semeia o ódio”
progressistas de Dilma
por Renan Truffi
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publicado
15/11/2014 12:29
Kimi / MTST
Guilherme Boulos durante a concentração da manifestação "contra
a direita, por direitos", no vão do Masp, na avenida Paulista, em 13 de novembro
“É preocupante que os primeiros sinais da presidenta [Dilma] não tenham sido esses [de que o governo será progressista]", afirma. "Esse ato também tem o sentido de dar o recado que o povo vai lutar nas ruas pelo programa
Leia a íntegra da entrevista, feita antes da manifestação:
CartaCapital: Qual é o objetivo deste ato?Guilherme Boulos: O ato tem dois propósitos. O primeiro é fazer o enfrentamento a essa direita atrasada que tem ido às ruas nos últimos meses defender posições inaceitáveis para maioria do povo brasileiro. Defender não só intervenção militar e impeachment, como também semear ódio aos pobres, racismo, homofobia. Isso não pode ser admitido, essa marcha vem para fazer contraponto e mostrar que os golpistas do Jardins tão colocando mil pessoas nas ruas. Nós vamos pôr 15 mil [pessoas] só para começar. Em segundo lugar, também tem o objetivo de pautar reformas populares no Brasil. O programa
CC: Apesar de ter reunido pouca gente, essa parcela da população que pede impeachment e intervenção militar representa algum tipo de ameaça à liberdade da sociedade brasileira?
GB: Olha, só o fato de ter milhares de pessoas que não têm vergonha de mostrar a cara dizendo que defendem uma intervenção militar, um golpe militar, segregação do País, morte a nordestinos, morte a pobre, morte a homossexual, esse fato em si já é preocupante. Nós temos a clareza que esse sentimento é minoritário na sociedade brasileira. Um sentimento que vem de uma elite lá da Casa Grande. Um sentimento que é assimilado por uma classe média principalmente aqui no Sudeste, no Sul do País. Nosso ato vem para mostrar que a maioria da população não compactua com isso e condena esse tipo de percepção.
CC: Qual é a explicação para esse ódio? De onde vem esse ranço de uma parte da população em relação a nordestinos, classes sociais mais baixas e minorias? GB: Esse é um ranço de classe, de uma elite, de uma burguesia, que nunca aprendeu a conviver com o povo. Uma elite que sequer admitiu a abolição da escravatura. Então, para eles, falar de Bolsa Família é revolução socialista. Falar de investimentos sociais é algo inaceitável. A elite brasileira é atrasadíssima e é ela que semeia esse ódio. Então o povo vai dar a resposta, e vai dar a resposta à altura, vai dar a resposta defendendo as reformas populares.
CC: O PSDB rejeitou a manifestação a favor do impeachment e da intervenção militar. Você acha que o Brasil pode um dia ver algum partido ou movimento nacional atrair essa extrema-direita, semelhante ao Tea Party dos Estados Unidos?
GB: Isso naturalmente é sempre um risco e é algo que os setores democráticos e populares da sociedade brasileira têm de estar atentos. Agora o importante é ponderar também que o discurso do PSDB é um discurso hipócrita. Rejeita isso num dia e, no outro dia, um ex-presidente do partido, o José Aníbal, publica citações de Carlos Lacerda incitando o golpe. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz declarações de ódio minimizando o povo nordestino. O PSDB, na verdade, tem vergonha de assumir suas posições que se assemelham à extrema direita
CC: Essa eleição presidencial ficou caracterizada pela divisão do País. Você acha que agora a presidenta Dilma vai fazer um mandato realmente progressista?
GB: Bom, primeiro, é o mínimo que se esperaria: ela realizar o programa de mudanças para o qual ela foi eleita. Agora é preocupante que os primeiros sinais da presidenta não tenham sido esses. Passou a campanha inteira dizendo que Marina Silva e Aécio Neves iam governar para os banqueiros e cogita o presidente do Bradesco [Luiz Carlos Trabuco] para ministro da Fazenda. Isso é inaceitável também. Esse ato também tem o sentido de dar o recado que o povo vai lutar nas ruas pelo programa que foi eleito nas urnas.
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