quinta-feira, 4 de setembro de 2014

SEMENTES

"Vamos semear a semente em terra boa"
Entre partilhas de vida e de sonhos agricultoras e agricultores de Iracema, no Ceará, participam de curso de Gapa
Thiago Silveira - comunicador popular da ASA
Barreira | CE
28/08/2014
Para além das questões mais técnicas, o Gapa aborda temas da vida dos agricultores/as | Foto: Thiago Silveira / Arquivo Obas
“Se ficar todo mundo na cidade vão comer o quê?”. Não precisa ser nenhum grande estudioso pra responder a pergunta de Miguel Belo, aliás, pergunta que ele faz tendo a resposta na ponta da língua. Miguel sabe que as áreas urbanas das cidades não comportam tanta gente, e mais que isso, sabe também que as cidades não se sustentam sem o que o campo produz.

Essa e muitas outras discussões deram o tom do curso de Gestão de Água para a Produção de Alimentos (Gapa) que aconteceu no município que homenageia a mais célebre personagem do romancista José de Alencar, Iracema. Com 13.722 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município situado na mesorregião do Jaguaribe tem um povo receptivo e muito aberto ao diálogo, não pararam de participar um só momento em todo o curso.

Iracema vai receber 100 implementações do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), sendo 50 cisternas-calçadão e 50 cisternas-enxurrada. O curso capacita as agricultoras e agricultores para gerir com maior eficiência a água da cisterna de 52 mil litros. De forma coletiva, o grupo apontou mediante a assessoria de quem ministra o curso, nesse caso de Dona Santa, também agricultora, o que pode ser produzido com essa quantidade de água.

“Eu sou desatado de pé e mão”
Para além das questões mais técnicas, o curso de Gapa aborda outros temas pertinentes, não só da lida diária no campo, mas da vida das agricultoras e agricultores. O grupo fez a memória das espécies nativas da região e sua incidência hoje; partilhou as práticas de cultivo na comunidade e diagnosticou as que são maléficas ao solo e ao que produzem; além de fazer uma reflexão sobre as relações de gênero nas famílias e na comunidade, apontando as deficiências e caminhos para uma relação mais igualitária entre homens e mulheres.

 
"É muito bom ser agricultor!" | Foto: Thiago Silveira / Arquivo Obas
“Eu sou desatado de pé e mão”, lembra Miguel Belo que, como já deu pra perceber, foi o personagem que animou o povo no curso. Miguel quer dizer que ele é desenrolado, dono do próprio nariz, corre atrás dos seus objetivos. No geral o sertanejo é assim, desatado, ou melhor, criativo.

Há de se ter disposição e muita criatividade para conviver com a escassez de chuvas em boa parte do ano. A estiagem pode desanimar, mas não faz essa gente corajosa desistir de seus sonhos e acreditar.

“É muito bom ser agricultor! Eu tenho orgulho de ser agricultor e digo pra vocês, acreditem!”, diz Gilmar Santos, que mostra com alegria as verduras e legumes que produz na sua propriedade. Na partilha da vida e da mandala que foi se formando com o que cada uma e cada um produzem em casa, o exemplo de Gilmar é mais um que contagia e encoraja: é possível viver de forma mais digna e sonhar no Semiárido.

“Vamos semear a boa semente,
vamos semear a semente em terra boa,
o mundo passa a terra gira, o tempo voa,
nós nascemos pra viver eternamente”

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