Ou se em vez de operações como a Carbono Oculto, da PF, que apreendeu mais de 6 bilhões de reais do crime organizado e chegou aos fundos de investimento e fintechs da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, a gente pudesse contar apenas com massacres como o perpetrado pelas autoridades do Rio Janeiro no Complexo da Penha e do Alemão, mais sangrentos do que eficazes para combater o crime organizado?
Derrite foi obrigado a reformular mais uma vez o projeto em substituição ao enviado pelo governo, mantendo as competências da PF e limitando-se a abocanhar uma parte dos recursos federais para as polícias estaduais, mas manteve a proteção dos bens dos chefes do crime até que a sentença tenha transitado em julgado. Alguém pode explicar que rigor contra o crime justifica essa preocupação do relator?
Em compensação ao alívio proporcionado aos chefões do crime, o tal do “rigor” foi direcionado aos peixes pequenos. Pela proposta do relator, todos os acusados de ligação com facções criminosas teriam a mesma faixa de pena - de 20 a 40 anos - sem diferenciar o papel e o grau de envolvimento de cada um (ou seja, comandantes e soldados do crime teriam a mesma punição); além de exigir o cumprimento de 85% da pena em regime fechado, sem prever nenhum tipo de mecanismo para evitar a reincidência e o recrutamento feito pelas facções dentro dos presídios - quase uma necessidade de sobrevivência para os presos no atual regime carcerário.
No livro, “A Pauta é uma Arma de Combate”, a jornalista e acadêmica Fabiana Morais questiona a pretensa objetividade da imprensa desnudando alguns de seus expedientes, como as falsas equivalências, a seleção de fontes (privilegiando os que detém o poder) e a exclusão de vozes e de fatores estruturais de nossa realidade, como o racismo, das notícias, distorcendo por completo a informação.
Em um país em que a polícia e a política estão infiltradas pelo crime organizado, em que a violência mata preferencialmente jovens negros e pobres, e com um sistema carcerário desqualificado - o que está na própria origem e das facções e se traduz em altos índices de reincidência - o jornalismo só tem valor se não aderir a respostas simples, eivadas de preconceitos, a pretexto de satisfazer o desejo legítimo de segurança da população. Do contrário, está apenas jogando água no moinho da extrema direita, que utiliza o medo como capital político, explorado nas redes sociais.
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