Também estiveram presentes outros representantes de criadores culturais, como a Associação Brasileira de Produtoras de Som (Apro+Som), Associação Brasileira de Autores Roteiristas (Abra), e a União Democrática de Artistas Digitais (Unidad).
Hoje, o projeto de lei aprovado pelo Senado e em discussão na Câmara preserva os direitos autorais de criadores brasileiros. O uso de conteúdos protegidos por direitos autorais em processos de mineração, treinamento e desenvolvimento de inteligência artificial vendidos comercialmente enseja remuneração aos criadores. Já o uso de imagem e voz de pessoas por sistemas de IA deverá respeitar os direitos da personalidade, conforme previstos no Código Civil; qualquer uso precisa de consentimento e pode resultar em ações judiciais e pedidos de indenização.
Há alguns poréns. Primeiro, a relatora na Câmara dos Deputados é Luísa Canziani, que é considerada uma “aliada” pelas Big Techs, conforme revelamos no especial A Mão Invisível das Big Techs, que detalhou como opera o lobby dessas empresas. E a derrubada do direito autoral é a prioridade número 1 de empresas como Meta, Google, Microsoft, e Open AI. Isso porque essas empresas, respaldadas pelo governo americano de Donald Trump, querem evitar um precedente que pode inviabilizar seu modelo de negócio se espalhado para todos os países – pagar pelo tanto de informação que elas já “sugaram” de graça traria um enorme ônus. No faroeste da falta de leis digitais, alguns países, desenvolvidos, como a União Europeia, se saíram melhor: como lá há lei, a busca do Google não pode usar aqueles resumimos de notícias feitos por IA, por exemplo.
Quem não tem força para resistir ao lobby e aprovar leis, fica no faroeste digital mesmo.
O próprio Orlando Silva se declarou um pouco pessimista quanto à aprovação da lei 2.338/2023.
Afinal, a audiência aconteceu na Apeoesp, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado, no centro de São Paulo, bem longe dos ouvidos da relatora, que não arrumou um espaço na sua agenda para vir ouvir os representantes dessas indústrias criativas – e nem mandou um assessor.
Há grandes chances de que, com o avassalador lobby realizado pelas Big Techs no Congresso, e sem espaço naquela casa, a visão daqueles que constroem a cultura e o conhecimento usados para alimentar as maquininhas de IA não seja levada em conta.
Eu estive na audiência para falar de como a IA já está afetando o jornalismo através da mineração de conteúdos produzidos por nós sem a menor compensação – e sem nem mesmo perguntar se permitimos esse uso.
Expliquei que uma reportagem nossa sobre as relações do FBI e Lava Jato, por exemplo, já é amplamente usada tanto pelo Chat GPT quanto pelo Deepseek e pelo Google AI Overview. Apenas o terceiro oferece link para o texto original – e mesmo assim, está no cantinho de um box à direita do texto e o leitor tem que se esforçar para clicar duas vezes e chegar até lá.
Para escrever essa reportagem, eu passei nove meses analisando documentos vazados, viajei até os Estados Unidos, entrevistei pelo menos 15 fontes, tive apoio de mais três jornalistas – tanto da Pública quanto do Intercept Brasil – uma editora, um designer e dois advogados.
Todo esse trabalho humano, que permite que o jornalismo investigativo de qualidade como esse venha a público, foi utilizado tanto pelo Google quanto pela Open AI sem nenhuma compensação financeira.
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