segunda-feira, 25 de junho de 2018

Manuela: 'Eleição não é um episódio de nossas trajetórias individuais'

por Carol Scorce e Miguel Martins — publicado 25/06/2018 00h30, última modificação 22/06/2018 16h51
Pré-candidata considera prioritário derrotar o atual projeto neoliberal e diz não abrir mão de vitória do campo progressista
Divulgação
Manuela D'Ávila
Candidata traz o feminismo para o centro do debate.
A mais jovem pré-candidata à presidência, Manuela D’Ávila iniciou sua trajetória política no movimento estudantil, em 1999, quando se filiou a União da Juventude Socialista. Na sequência ingressou na política partidária junto do Partido Comunista do Brasil. Foi a mais jovem vereadora de Porto Alegre, sua cidade natal, e depois conseguiu se eleger deputada federal e estadual, mandato do qual se licenciou para concorrer às eleições este ano.
A deputada é a primeira candidata à presidência do PCdoB – partido a que se filiou em em 2001 -  desde a formação da legenda a partir de uma dissidência do velho partidão nos anos 1960. Com forte discurso feminista e sem medo de defender pautas impopulares como o aborto, a deputada não demonstra vaidade na relação com concorrentes do campo da esquerda, como o ex-presidente Lula e Ciro Gomes. Embora considere importante o simbolismo de sua candidatura “após um golpe misógino”, ela defende ser ainda mais importante barrar o projeto conservador no País.
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Manuela admite até mesmo abrir mão da disputa, caso outros partidos de esquerda decidam unir-se em torno de um único candidato no primeiro turno. “Essa eleição não é um episódio factual das nossas trajetórias individuais. Se alguém está tratando assim não percebe a gravidade que é o atual governo brasileiro.”
CartaCapital: O PCdoB apoiou outros candidatos a presidente nas últimas décadas. O que levou o partido a lançar uma candidatura própria neste ano?
Manuela D’Ávila: O golpe abriu um novo ciclo, e o processo eleitoral é importantíssimo para o País debater saídas para a crise política e econômica. Diante desse quadro novo achamos por bem apresentar nossas próprias ideias para o enfrentamento da crise.

CC: As mulheres argentinas conseguiram pressionar os deputados argentinos a aprovar um projeto que descriminaliza o aborto. O mesmo é possível no Brasil?
MD: As argentinas nos deram muitas lições com esse movimento. A principal delas é que a pressão nas ruas é fundamental para se discutir questões importantes dentro dos parlamentos.

CC: A senhora acredita que o campo progressista ainda por se unir em torno de um mesmo candidato ainda no primeiro turno?
MD: Essa eleição não é um episódio factual das nossas trajetórias individuais. Se alguém está tratando assim não percebe a gravidade que é o atual governo brasileiro. E se eu sou o obstáculo para que os outros três se entendam, eu deixo de ser. A unidade não vai ser produzida por discurso. São gestos. Esse é o gesto máximo que eu posso fazer.

CC: Há risco de não termos um candidato de esquerda no segundo turno com essa fragmentação do campo progressista?
MD: Eu acho que o outro lado também enfrenta muitas dificuldades. O governo Temer está morto, é um fantasma que quer reencarnar e tem um monte de corpos à disposição. Vamos trabalhar para estar no segundo turno.

CC: A senhora já chegou a registrar 3% em pesquisas eleitorais. Como tem analisado os levantamentos recentes?
MD: Qualquer uma dessas pesquisas mostra que nosso campo tem muita força. Os tucanos e os corpos mais aptos à ressurreição do fantasma de Temer estão muito mal.

CC: A senhora se inspira na gestão do governador maranhense Flávio Dino, do PCdoB, em sua campanha presidencial?
MD: O Flávio é a melhor referência que existe no Brasil hoje. É um governador que enfrenta a crise com medidas anticíclicas.

CC: Qual a sua análise sobre a greve dos caminhoneiros?
MD: O movimento foi de alta complexidade. A ausência de legitimidade faz com que o povo flerte com soluções autoritárias, porque nota que ali está faltando alguma coisa. Se não há quem comande, então posso flertar com o ultra-comando, com uma intervenção militar?

 CC: Como a senhora acha que a esquerda precisa lidar com esses movimentos difusos? A esquerda está muito distante dessas bases de trabalhadores?
MD: Para mim, é difícil falar, porque minha origem não é o movimento sindical. Eu sou de uma geração nativa, nasci em 1981, para a mim a tecnologia já faz parte da constituição mais mental. Mas precisamos fazer uma reflexão sobre a legitimidade das angústias das brasileiras e brasileiros.

 CC: Como é possível governar em um horizonte de orçamento apertado e limitado pelo congelamento dos gastos públicos?
MD: O debate é sobre como vamos garantir a retomada da economia pensando em como recuperar a capacidade de investimento do Estado

CC: E já que estamos na Copa do Mundo... dá para torcer pela seleção nesse clima negativo?
MD: Tem que torcer, não acho que seja "dá para torcer". Os caras já nos roubaram tudo. O futebol é nosso, não é dessa elite não.

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