Janot muda explicação sobre impeachment de Dilma ao sabor da conveniência
sex, 15/09/2017 - 12:27
Atualizado em 15/09/2017 - 14:07
Na ação no Supremo que pode anular o impeachment, Janot disse
que o processo ocorreu dentro da normalidade constitucional e negou que
Eduardo Cunha tenha aceitado o pedido por vingança ou benefício próprio.
Já na denúncia contra o "quadrilhão do PMDB", procurador tratou o
impeachment como subproduto de um plano frustrado para frear a Lava Jato
Foto: Agência Brasil
Jornal GGN - O procurador-geral da República
Rodrigo Janot deu duas versões muito diferentes para os motivos que
levaram à derrubada do governo Dilma Rousseff (PT). A mudança de postura
ficou registrada em dois documentos enviados ao Supremo Tribunal
Federal no mesmo dia, quinta-feira (14).
Primeiro, para posicionar-se contra a anulação do impeachment,
Janot disse que o processo se deu dentro da normalidade constitucional,
afirmou que as pedaladas fiscais justificavam a condenação da
ex-presidenta e garantiu que não houve nenhum "desvio de função" por
Eduardo Cunha. O ex-deputado é acusado por Dilma de ter deflagrado o
impeachment por vingança e em benefício próprio e de seu grupo político,
interessados em escapar da Lava Jato. A narrativa ganhou força após o
vazamento de grampo sobre "botar o Michel [Temer]" no poder e "estancar a
sangria".
Depois, na denúncia que apresentou ao Supremo contra o chamado
"quadrilhão do PMDB", Janot mudou a narrativa ao sabor da conveniência:
disse que o impeachment foi subproduto de um plano frustrado do PMDB do
Senado para frear as investigações.
"Como não lograram êxito em suas tratativas, em 29.03.2016,
o PMDB decidiu deixar formalmente a base do governo e, em 17.04.2016, o
pedido de abertura de impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi
aprovado pela Câmara dos Deputados", admitiu Janot.
Na página 47 da denúncia que também chegou ontem ao Supremo, Janot
começou a narrativa: disse que apesar da vitória da chapa Dilma-Temer em
2014, a relação entre PT e PMDB começou a estremecer por causa da Lava
Jato, que teve início naquele ano, focada na Petrobras.
Ali, o PMDB começou a recear que as investigações atingissem outros
órgãos loteados por seus membros. Em 2015, a relação ficou "fortemente
abalada" especialmente porque Dilma exonerou Moreira Franco da Aviação
Civil sem "prévio ajuste" com Michel Temer.
Eduardo Cunha, então, decidiu romper compromisso com o PT e
lançar-se candidato a presidente da Câmara. Ganhou. " Esse episódio
marcou uma virada importante no relacionamento entre os integrantes do
núcleo político da organização criminosa do "PMDB da Câmara" e do PT."
"Os caciques do PMDB achavam que o governo não estava agindo para
barrar a Operação Lava Jato em relação aos 'aliados' por que queriam que
as investigações prejudicassem os peemedebistas; já os integrantes do
PT da organização criminosa desconfiavam que aqueles queriam fazer uma
manobra política para afastar a então presidente Dilma do poder e
assumir o seu lugar", disse Janot.
Na sequência, o procurador afirma que a desconfiança aumentou
quando o Supremo Tribunal Federal instaurou inúmeros inquéritos ligados à
Lava Jato. Em novembro de 2015, foi apresentado o pedido de impeachment
de Temer.
"A tensão originada entre os integrantes do núcleo politico da
organização criminosa, em especial integrantes que pertenciam ao PT e ao
"PMDB da Câmara", ocasionou uma forte crise política."
Em seguida veio a carta de Michel Temer rompendo com Dilma porque
sempre foi tratado como um "vice decorativo". "A crise dentro do núcleo
político da organização criminosa aumentava à medida que a Operação Lava
Jato avançava, desvendando novos nichos de atuação do grupo criminoso."
Nesse ponto, Janot afirmou que, no despesero, o PMDB no Senado
começou a "iniciar uma série de tratativas para impedir que a Operação
Lava Jato continuasse a avançar". Há menção, inclusive, à conversa de
Romero Jucá e Sergio Machado sobre "estancar a sangria". Mas, como "não
lograram êxito em suas tratativas", o PMDB decidiu abandonar o governo
Dilma e abrir o processo de impeachment.
"A partir daí, houve um rearranjo no núcleo politico da organização
apenas para se excluir dele os integrantes do PT, sem que isso tenha
significado o término das atividades ilícitas por parte da organização
criminosa. Com a mudança de mãos da cúpula do Poder Executivo Federal,
houve necessidade de reacomodação dos demais integrantes que
permaneceram na organização."
Nenhum comentário:
Postar um comentário