Suape:
Belo Monte esquecida
Heitor
Scalambrini Costa
Professor aposentado da Universidade
Federal de Pernambuco
Um
amigo sulista, ao conhecer mais detalhes das violações socioambientais
ocorridas no território do Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS),
cunhou a frase utilizada como titulo deste artigo.
Sem
dúvida a comparação entre as duas realidades destas mega-obras tem tudo a ver.
Refletem a crueldade, perversidade, destruição, truculência, barbaridade,
improbidade, desumanidade , indignidade, crime; cometido contra as populações
nativas/tradicionais e contra a natureza. O que deve ser ressaltado é o papel do
Estado brasileiro; por um lado o governo federal e por outro o governo de
Pernambuco, como o grande e maior violador de direitos humanos e da natureza.
Sem dúvida, não esquecendo a responsabilidade das empresas
Com
relação ao número de trabalhadores envolvidos nestas duas mega obras, a de
Suape foi o dobro de Belo Monte. No ápice das obras de Belo Monte, em outubro
de 2013, atingiu 25 mil pessoas; e em Suape, entre 2012 e 2013 superou 50 mil
pessoas (segunda maior desmobilização de trabalhadores depois da construção de
Brasília). O que existe em comum neste caso foi a total falta de planejamento
na desmobilização dos trabalhadores finda a parte da construção civil destes
empreendimentos.
Diferentemente
do que prometiam os governos, a grande maioria dos empregados das construtoras
contratadas não eram da região, vinham de toda parte do Brasil. E nada foi
feito para realoca-los em outras atividades econômicas. O que gerou, e tem
gerado um alto desemprego, resultando em graves problemas nas áreas urbanas dos
municípios onde se encontra o Complexo Suape, como a favelização, violência,
prostituição, aumento significativo da criminalidade. Além de déficits em áreas
como saúde, saneamento, moradia, etc, etc. Nada diferente do que ocorreu em
Altamira.
Foram
incalculáveis a destruição ambiental promovida, tanto na construção da
hidrelétrica, a terceira maior do mundo, quanto na instalação das indústrias no
CIPS. Neste caso atingindo mangues (mais de 1.000 ha foram e continuam
sendo destruídos), restinga, resquícios da Mata Atlântica, corais marinhos.
Ademais a poluição de riachos, rios, e nascentes que compõem a bacia
hidrográfica da região metropolitana do Recife.
É
de ressaltar a atração e o incentivo para que as indústrias sujas
viessem se instalar em Suape. Como é o caso de termoelétricas a combustíveis
fosseis, estaleiros, refinaria, petroquímica, parque de armazenamento de
derivados de petróleo.
Hoje
estes dois territórios, o de Belo Monte, e o de Suape sofrem as perversas
consequências de um desenvolvimento predatório, excludente e concentrador de
renda. Cuja principal característica comum é a destruição da vida.
Enquanto
acontecem estes crimes contra as populações nativas e tradicionais (índios,
ribeirinhos, pescadores catadores de mariscos, agricultores familiares), com
reflexos nas áreas urbanas; a sociedade brasileira, em sua maioria, finge em
desconhecer esta triste realidade cometida pelo poder público com cumplicidade
das empresas. Tudo em nome do “progresso”. De alguns, evidentemente.
Até quando?
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