CASO GUIMARÃES: A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O EXERCICIO DA VENDETA
qui, 23/03/2017 - 14:29
Atualizado em 23/03/2017 - 16:32
É sintomática a maneira como alguns
jornalistas tentam se prevalecer da condução coercitiva a que foi
submetido o blogueiro Eduardo Guimarães. Endossam a arbitrariedade, um
atentado evidente à liberdade de expressão – da qual nós, jornalistas,
somos os principais defensores e beneficiários – meramente por uma
questão pessoal: em algum momento sentiram-se atacados por Eduardo –
que, saliente-se, não é figura fácil.
Mas não é a simpatia de Eduardo que está em jogo: é a liberdade de expressão.
O episódio é exemplo maiúsculo do
tamanho minúsculo de pessoas que, por sua imagem pública, deveriam ser
trincheiras da liberdade de expressão. Mostra o maior problema
brasileiro, a ampla superficialidade e desconhecimento de pontos
centrais da construção democrática. Mais que isso, é demonstração de uma
mesquinharia, contra um adversário ameaçado, que conspira contra o
caráter dessas pessoas. Como bem observou Hilde Angel, “as pessoas não
gostam de quem tripudia” sobre a desgraça do adversário.
O ponto central de criminalização de
Eduardo é o fato de, recebendo as informações, ter entrado em contato
com o Instituto Lula antes de divulgar os fatos.
É um sofisma, por onde se olhe:
Sofisma 1 – ouvir o atacado
Recebendo a denúncia, qualquer
jornalista minimamente responsável trataria de ouvir o outro lado para
escrever sua reportagem. Mesmo porque seria uma maneira de conferir se
os fatos são verossímeis, para não cair em alguma barriga. Foi o que
Eduardo fez. Se foi para alertar ou para se precaver, trata-se de um
julgamento de caráter eminentemente subjetivo, que jamais poderia servir
de álibi para uma condução coercitiva.
No próprio post em que divulgou a notícia, Eduardo informava ter entrado em contato com o Instituto Lula.
Sofisma 2 – a consulta não atrapalhou em nada as investigações.
Pelos relatos, Eduardo recebeu as
informações de manhã, ouviu o Instituto Lula e divulgou à tarde. A tal
operação deveria ocorrer dias depois. O que o Instituto fez entre o
contato de Eduardo e a divulgação em seu blog, que não poderia ter feito
depois da divulgação no Blog?
Essa acusação de vazamento é uma bobagem monumental.
A intenção objetiva de Sérgio Moro ficou
explícita nas explicações dadas hoje. Nelas, acusa o blogueiro de ter
entregado a fonte espontaneamente - outra bobagem porque já era de
conhecimento da operação o nome da fonte - comprovando que a intenção
final dessas operações de condução coercitiva é a de desmoralizar a
vítima perante a opinião pública.
O recuo de Sérgio Moro é a comprovação
final de que não controla mais seu estado emocional. Só um desequilíbrio
emocional para explicar a truculência da ação de ontem, e o recuo
rápido de hoje.
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