BRASIL VIROU UM " PAÍS DE DENUNCISMO",APONTA APONTA PRESIDENTE DA ANDRADE GUTIERREZ
seg, 27/03/2017 - 16:20
Atualizado em 27/03/2017 - 17:16
Jornal GGN - O presidente do grupo e do conselho
de administração da Andrade Gutierrez, Ricardo Sena, disse à Folha de S.
Paulo que o Brasil, hoje, é movido a Lava Jato e que isso tornou a
economia do País mais frágil.
Na entrevista exclusiva, Sena ainda admitiu que qualquer empresário
que não seja "tolo" não consegue negar que pagamento de propina é praxe
quando envolve contratos públicos, e que isso ocorre desde o início dos
tempos. Mas afirmou que a classe política tem feito uso de aparelhos
públicos para aproveitar a situação e dificultar a vida das empresas.
Ele conta que, antes da Lava Jato, era mais fácil resolver
situações em que o poder público tinha obras paralisadas por falta de
pagamento. Mas com o Brasil pós Lava Jato, órgãos como o Ministério
Público e o Tribunal de Contas da União passarem a intervir nessas
questões criando empecilhos que impedem qualquer tipo de resolução
amigável e legal, sem ter de passar por algum litígio.
"Não quer dizer que, no passado, tudo se resolvia com propina.
Tinha claro. Só falta a gente negar, né. Mas tinha muita Renata [criando
a figura de uma govenante hipotética] que fazia o correto. Pegava a
caneta e falava: vou pagar isso, que entendo o correto. Hoje, a mesma
Renata fala: acho que tinha que pagar tanto, mas não vou assinar o
documento. Porque amanhã o TCU fala que a conta está errada e congela os
bens dela. Virou um país de denuncismo para todo lado. O excesso sempre
é ruim", disparou.
Sena ainda se disse "absolutamente favorável a esse processo de
evolução" imposto pelas investigações da Lava Jato. "Sou brasileiro. Mas
passou do ponto. Virou um negócio que a Lava Jato virou fim. O Brasil
vive da Lava Jato. É a única coisa que se vê. (...) E quem quer
trabalhar, quem quer produzir tem toda a dificuldade. Você saiu de uma
vida complicada e entrou numa vida arrumada, mas todo mundo quer jogar
[contra você]. Eu não consigo trabalhar, pô. Esse é um problema que nos
afeta muito. Acabar com a empresa é uma teoria meio sem lógica,
concorda?"
Segundo o empresário, "o TCU tem uma atuação ao meu ver
completamente estabanada no processo. É um órgão de apoio ao Congresso.
Ele tem de fiscalizar o governo e as atitudes do governo. Se faço
contrato com o governo, fruto de uma licitação, ele quer que eu
demonstre para ele... Não tenho que demonstrar nada para ele. É tudo
errado. Ele acha que tudo que o governo faz de não pagar [as empresas],
pode. No dia que paro a obra, ele manda congelar conta. Virou uma
campanha contra o privado."
Por isso, disse, a Andrade Gutierrez hoje não faz mais contratos
nem tem interesse futuro em tocar obras públicas, em função das disputas
legais com a administração direta e arbitragem de órgãos como o TCU.
O mesmo não serve, porém, para projetos da Petrobras e outras
empresas públicas que ele considerou boas parceiras. Ele disse que
gostaria de ter o nome da Andrade Gutierrez retirado da lista negra da
Petrobras, inserido em função da Lava Jato, principalmente porque isso
atrapalha, também, negócios no exterior. Sena destacou que a Andrade já
pagou o que tinha de pagar no acordo de leniência, mas que isso não
trouxe nenhum fato positivo.
"A lista negra existiu por força da denúncia de corrupção. As
pessoas foram presas, condenadas e nós pagamos. Ué, por que eu vou
continuar na lista? Não consigo entender. Pegamos contrato agora de
obras de refinaria na Argentina. Uma Petrobras de lá. Foi isso [faz um
gesto de esforço] para o cara aceitar. E para ele interessava. Nossa
proposta era melhor. Ele falou: Quero vocês, mas, caramba, vocês estão
proibidos na Petrobras, como eu vou contratar? Olha o trabalho que
dá...", relatou.
Ao fazer um prognóstico do governo Temer, Sena disse que "a economia tem reagido bem, mas o lado político é interrogação."
"Fico pensado que o Temer, de um jeito ou de outro, aos trancos e
barrancos, vai chegar ao fim. Acho que botou na cabeça que precisa fazer
um governo reformista porque, senão vai entrar para a história como? Só
porque tirou a Dilma? Se for isso, vai ficar mais é como golpe. Ele vai
fazer pressão enorme para passar as reformas. Se for feito, o país
retoma certo rumo."
Ainda sobre propina, ele disse que as investigações deveriam
centrar na "doença". "Isso que quero dizer. Não tem jeito de a pessoa
viver no Brasil empresarialmente sem fazer. Ou pelo menos não tinha. De
novo, não estou querendo jogar lenha na fogueira. Mas é um fato."
O presidente do grupo ainda disse que corrupção não é um problema
do Brasil. "É no mundo inteiro. Tem mais e menos. O que acho que
aconteceu é que no Brasil recrudesceu, esparramou. Antes era muito mais.
Virou uma moda. Acho que tem muito a ver com a forma de funcionar do
PT. (...) Antigamente as coisas eram mais veladas. Era uma coisa
pessoal, não era a administração tal todo mundo rouba. Com o negócio do
PT, como são mais democráticos e abertos, virou uma coisa que todo mundo
mama."
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