terça-feira, 28 de março de 2017

 
Jornal GGN - O presidente do grupo e do conselho de administração da Andrade Gutierrez, Ricardo Sena, disse à Folha de S. Paulo que o Brasil, hoje, é movido a Lava Jato e que isso tornou a economia do País mais frágil.
 
Na entrevista exclusiva, Sena ainda admitiu que qualquer empresário que não seja "tolo" não consegue negar que pagamento de propina é praxe quando envolve contratos públicos, e que isso ocorre desde o início dos tempos. Mas afirmou que a classe política tem feito uso de aparelhos públicos para aproveitar a situação e dificultar a vida das empresas.
 
Ele conta que, antes da Lava Jato, era mais fácil resolver situações em que o poder público tinha obras paralisadas por falta de pagamento. Mas com o Brasil pós Lava Jato, órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União passarem a intervir nessas questões criando empecilhos que impedem qualquer tipo de resolução amigável e legal, sem ter de passar por algum litígio.
 
"Não quer dizer que, no passado, tudo se resolvia com propina. Tinha claro. Só falta a gente negar, né. Mas tinha muita Renata [criando a figura de uma govenante hipotética] que fazia o correto. Pegava a caneta e falava: vou pagar isso, que entendo o correto. Hoje, a mesma Renata fala: acho que tinha que pagar tanto, mas não vou assinar o documento. Porque amanhã o TCU fala que a conta está errada e congela os bens dela. Virou um país de denuncismo para todo lado. O excesso sempre é ruim", disparou.
 
Sena ainda se disse "absolutamente favorável a esse processo de evolução" imposto pelas investigações da Lava Jato. "Sou brasileiro. Mas passou do ponto. Virou um negócio que a Lava Jato virou fim. O Brasil vive da Lava Jato. É a única coisa que se vê. (...) E quem quer trabalhar, quem quer produzir tem toda a dificuldade. Você saiu de uma vida complicada e entrou numa vida arrumada, mas todo mundo quer jogar [contra você]. Eu não consigo trabalhar, pô. Esse é um problema que nos afeta muito. Acabar com a empresa é uma teoria meio sem lógica, concorda?"
 
Segundo o empresário, "o TCU tem uma atuação ao meu ver completamente estabanada no processo. É um órgão de apoio ao Congresso. Ele tem de fiscalizar o governo e as atitudes do governo. Se faço contrato com o governo, fruto de uma licitação, ele quer que eu demonstre para ele... Não tenho que demonstrar nada para ele. É tudo errado. Ele acha que tudo que o governo faz de não pagar [as empresas], pode. No dia que paro a obra, ele manda congelar conta. Virou uma campanha contra o privado."
 
Por isso, disse, a Andrade Gutierrez hoje não faz mais contratos nem tem interesse futuro em tocar obras públicas, em função das disputas legais com a administração direta e arbitragem de órgãos como o TCU.
 
O mesmo não serve, porém, para projetos da Petrobras e outras empresas públicas que ele considerou boas parceiras. Ele disse que gostaria de ter o nome da Andrade Gutierrez retirado da lista negra da Petrobras, inserido em função da Lava Jato, principalmente porque isso atrapalha, também, negócios no exterior. Sena destacou que a Andrade já pagou o que tinha de pagar no acordo de leniência, mas que isso não trouxe nenhum fato positivo.
 
"A lista negra existiu por força da denúncia de corrupção. As pessoas foram presas, condenadas e nós pagamos. Ué, por que eu vou continuar na lista? Não consigo entender. Pegamos contrato agora de obras de refinaria na Argentina. Uma Petrobras de lá. Foi isso [faz um gesto de esforço] para o cara aceitar. E para ele interessava. Nossa proposta era melhor. Ele falou: Quero vocês, mas, caramba, vocês estão proibidos na Petrobras, como eu vou contratar? Olha o trabalho que dá...", relatou.
 
Ao fazer um prognóstico do governo Temer, Sena disse que "a economia tem reagido bem, mas o lado político é interrogação."
 
"Fico pensado que o Temer, de um jeito ou de outro, aos trancos e barrancos, vai chegar ao fim. Acho que botou na cabeça que precisa fazer um governo reformista porque, senão vai entrar para a história como? Só porque tirou a Dilma? Se for isso, vai ficar mais é como golpe. Ele vai fazer pressão enorme para passar as reformas. Se for feito, o país retoma certo rumo."
 
Ainda sobre propina, ele disse que as investigações deveriam centrar na "doença". "Isso que quero dizer. Não tem jeito de a pessoa viver no Brasil empresarialmente sem fazer. Ou pelo menos não tinha. De novo, não estou querendo jogar lenha na fogueira. Mas é um fato."
 

O presidente do grupo ainda disse que corrupção não é um problema do Brasil. "É no mundo inteiro. Tem mais e menos. O que acho que aconteceu é que no Brasil recrudesceu, esparramou. Antes era muito mais. Virou uma moda. Acho que tem muito a ver com a forma de funcionar do PT. (...) Antigamente as coisas eram mais veladas. Era uma coisa pessoal, não era a administração tal todo mundo rouba. Com o negócio do PT, como são mais democráticos e abertos, virou uma coisa que todo mundo mama."

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