sábado, 13 de dezembro de 2014

Operação Lava Jato

Gerente da Petrobras que fez denúncias teria sido ameaçada, diz jornal

Ainda segundo reportagem, Venina Velosa da Fonseca informou Graça Foster, hoje presidente da estatal, em 2011 a respeito de irregularidades em Abreu e Lima
por Redação — publicado 12/12/2014 13:53
Antônio Cruz / Agência Brasil
Graça Foster
Graça Foster durante audiência no Senado em abril. Ela se tornou presidente da Petrobras em 2012
Uma gerente da Petrobras que fez denúncias a respeito de algumas das irregularidades investigadas na Operação Lava Jato, antes de a Polícia Federal e o Ministério Público Federal começarem a apurar os desvios, foi afastada de seu cargo na estatal e ameaçada de morte, segundo reportagem do jornalValor Econômico.
De acordo com o jornal, a geóloga Venina Velosa da Fonseca, gerente da Petrobras e funcionária da empresa desde 1990, começou a fazer denúncias internas em 2009, referentes a contratos, licitações e compras irregulares, até ser destituída de seu cargo, em 19 de novembro, em meio a medidas tomadas após a repercussão da Operação Lava Jato. No dia seguinte, em e-mail enviado para a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, Fonseca relatou todas as denúncias feitas no passado, inclusive à própria Graça Foster, e contou ter sido ameaçada. "Ao lutar contra isso [os desvios], fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive", escreveu. De acordo com o jornal, Fonseca foi abordada no Catete, bairro do Rio de Janeiro, e ouviu a recomendação "de que ficasse quieta."
A reportagem conta que a primeira denúncia feita por Venina Velosa da Fonseca foi a respeito de contratos de comunicação, firmados com valores muito acima dos previstos. Fonseca teria procurado seu superior, o então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, denunciado pelo MPF como operador político do esquema de corrupção na estatal.Segundo o jornal, Costa "apontou o dedo para o retrato do presidente Lula e perguntou se ela queria 'derrubar todo mundo'. A denúncia foi encaminhada ao então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e culminou com a descoberta de desvios de ao menos 58 milhões de reais e na demissão do então diretor de Comunicação da Petrobras, Geovanne de Morais, que é filiado ao PT, segundo o Valor.
A segunda denúncia feita por Fonseca se refere à construção da refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE). A obra, cujo orçamento inicial foi ampliado em cerca de 18 bilhões de reais, é o principal foco da investigação da PF e do MPF no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo o Valor, em 2009 Fonseca fez 107 solicitações para modificar projetos da refinaria que não foram aceitas. Ela ainda teria recomendado mudanças na forma como as licitações eram realizadas e nas cláusulas dos contratos, de maneira a desonerar a Petrobras. Após as denúncias, a geóloga deixou o cargo de gerente, sob Paulo Roberto Costa, e transferida para Cingapura onde "lhe pediram que não trabalhasse e foi orientada a fazer um curso de especialização", segundo o jornal. Neste momento, afirmou Fonseca segundo a reportagem, Costa "levantou um brinde, apesar de dizer ser pena não poder me exilar por toda a vida".
Dois anos depois, em outubro de 2011, Venina Fonseca enviou e-mail a Graça Foster, então diretora de Gás e Energia, afirmando que os ocorridos na áreas de Abastecimento e Comunicação eram "um verdadeiro absurdo", pois técnicos lutavam por mudanças para evitar irregularidades, mas "o que acontecia era o esquartejamento do projeto e licitações sem aparente eficiência". No texto, ela se oferecia para entregar provas da corrupção a Graça Foster. O jornal não esclarece se houve e qual foi a resposta da atual presidente da Petrobras à correspondência.
Em nota, a Petrobras também não faz este esclarecimento, mas diz que apuração interna sobre Abreu e Lima "concluiu as apurações e encaminhou o Relatório Final para os órgãos de controle e autoridades competentes."
A terceira denúncia de Fonseca se refere a irregularidades na compra de combustível para navios, denominados bunkers. Em 2012, após passar cinco meses no Brasil sem ter funções a desempenhar, a geóloga voltou para Cingapura como chefe do escritório da Petrobras no país asiático, diz o Valor. Lá, ela constatou que a Petrobras estaria tendo prejuízos de até 15% nos valores do negócio por conta de irregularidades e desvios. A denúncia foi encaminhada a José Carlos Cosenza, substituto de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras. No inquérito da Lava Jato, a PF chegou a questionar diversos dos executivos de empreiteiras presos sobre Cosenza, mas depois afirmou tratar-se de um engano, pois não há elementos contra eleA reportagem do Valor afirma nada foi feito a respeito das denúncias encaminhadas por Fonseca sobre os bunkers. Em nota, a Petrobras respondeu que "aprimorou os procedimentos de compra e venda com a implementação de controles e registros adicionais".
Abaixo, a íntegra da nota enviada pela Petrobras:
Nota à imprensa
A Petrobras esclarece que, em relação à matéria publicada no Valor Pro de 11/12/2014, sob o título "Diretoria da Petrobras foi informada de desvios de bilhões em contratos", instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 03 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da companhia. Porém, a demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica, vindo a ocorrer em 2013. O resultado das análises foi encaminhado às autoridades competentes.
Em relação aos procedimentos na área de Bunker, após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.
Como mencionado em comunicados anteriores, a Comissão Interna de Apuração constituída para avaliar os processos de contratações para as obras da RNEST concluiu as apurações e encaminhou o Relatório Final para os órgãos de controle e autoridades competentes.
Assim, fica demonstrado que a Companhia apurou todas as informações enviadas pela empregada citada na matéria.

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