sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Festa, feira e reforma agrária juntam campo e cidade no centro do Rio

11 de dezembro de 2014
Por Alan Tygel
Da Página do MST
Fotos: Pablo Vergara

Coco, abacaxi, aipim, jiló, quiabo, batata doce, milho, abobrinha, berinjela, limão, pimentão, pães, bolos, doces, pamonha, tapioca, leite, queijo, laticínios, café, cachaça, graviola… A lista é grande, assim como foi grande a 6° Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes.

Cerca de 150 camponesas e camponeses ocuparam o Largo da Carioca durante 3 dias para comercializar mais de 70 toneladas de produtos vindos dos 17 assentamentos de reforma agrária do estado do Rio de Janeiro, e também de Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A feira é organizada pelo MST, em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e com apoio do Sindipetro-RJ. A tenda de 500 m2 montada no Largo da Carioca atraiu a atenção de aproximadamente 70 mil pessoas durante os três dias. “A receptividade das trabalhadoras e trabalhadores do centro do Rio é muito grande. O pessoal já está acostumado com a feira, e sempre nos pede para fazermos ela mais vezes aqui”, afirma Marina dos Santos, da coordenação do MST.

Neste sentido, o MST vem dialogando para que a feira seja reconhecida como de interesse cultural e social da cidade do Rio de Janeiro. Andreia Matheus, coordenadora da feira, avalia que ela cumpriu seu papel: “Conseguimos mais uma vez fazer o diálogo com sociedade carioca, que é o nosso objetivo principal. Viemos mostrar para o povo da cidade quem é que produz os alimentos saudáveis que chegam na nossa mesa, e é por isso que a Reforma Agrária tem que ser uma luta de todos”, afirma.

No estado do Rio de Janeiro, o MST está presente em 17 assentamentos distribuídos nas Regiões Norte, Sul e Baixada Fluminense, além Região dos Lagos. E é de lá que vem a produção 100% agroecológica do Assentamento Osvaldo de Oliveira, um dos mais recentes do RJ. Mesmo antes de completar um ano com a posse da terra, os assentados trouxeram frutas, feijão e milho produzido com sementes crioulas. Hoje, praticamente toda a produção industrial de milho no Brasil é transgênica, contém altas doses de agrotóxicos e causa diversos problemas de saúde.

Direito Humano à Alimentação Saudável

No dia Internacional dos Direitos Humanos, Marina dos Santos vê a luta pela terra como parte da luta por direitos humanos: “Para ter direito à terra e à alimentação saudável, é só com luta, organização e muita resistência. Por isso fazemos a nossa feira sempre no dia 10 de dezembro. O agronegócio nos nega o direito à alimentação saudável, e quem produz alimento saudável são as camponesas e camponeses deste país”, comenta.

Dentro das estratégias da Reforma Agrária Popular defendida pelo MST, as cooperativas e agroindústrias dos assentamentos cumprem um papel fundamental no fortalecimento da luta camponesa. Estiveram presentes na feira 3 cooperativas do Rio de Janeiro: Coopaterra, da Baixada e Sul Fluminense, e Coopscamp e Coopamab, do Norte Fluminense.

De Minas, vieram a Cooperarca, da Zona da Mata, e Asfapsul, do Sul de Minas. Do Sul, vieram os laticínios da Cooperoeste, de Santa Catarina, e o suco de uva da Cooperativa de Sucos Monte Veneto. O Espírito Santo também participou com as Cooperativas Coopalmares e Coopterra, de São Mateus.

Assim como o projeto da Reforma Agrária Popular não se restringe à luta pela terra, a feira também debateu outros assuntos trabalhados pelo MST. O Setor de Saúde trouxe os produtos fitoterápicos e cosméticos feitos de plantas e raízes, enquanto o Setor de Educação esteve presente com cartilhas e materiais sobre a Educação do Campo.

Os coletivos de jovens de Campo Alegre, e de mulheres, vindas de Campos dos Goytacazes conversaram com a sociedade sobre os desafios da juventude e das mulheres do campo. Também estiveram presentes a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que faz a denúncia do uso de agrotóxicos no agrotóxicos e também pauta a agroecologia como forma de superação do capitalismo no campo.

No mesmo campo da defesa da agroecologia e agricultura camponesa, organizações como o Movimento dos Pequenos Agricultores e a Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro trouxeram seus produtos para a feira. O destaque foram as bananas e hortaliças produzidas em Vargem Grande, na cidade do Rio de Janeiro, fortalecendo o movimento de agricultura urbana.

Atrações culturais

Para fazer jus ao termo agri-cultura, a cultura da terra, não faltaram atrações musicais para balançar quem passava pelo Centro do Rio. O xote e o baião vieram pela sempre presente voz de Geraldo Junior e seu trio, enquanto o grupo Maracutaia fez Recife aterrissar na cidade. Us Neguin Q Ñ C Kala, parceiros de muitas feiras, cantaram seu rap de luta mostrando a unidade entre o campo e cidade. O tão criminalizado Funk também teve vez, mostrando que não só é música de favelado, mas também é de Sem Terra. O bloco da APAFunk, e os Mcs Pingo e Mano Teko representaram o ritmo de resistência da cidade, e não deixou ninguém parado.

Trazendo mais elementos culturais, a Cooperativa Jataí e a Editora Expressão Popular ofereceram livros a preço populares para formação política, porque a dimensão da formação também faz parte da Feira da Reforma Agrária. Oficinas sobre Saúde pela Terra, Mulheres e Agroecologia, Agricultura Urbana, e sobre a conjuntura de luta do Rio de Janeiro cumpriram um importante papel.

No encerramento da feira, a simbologia escolhida foi justamente a ligação campo-cidade, reforçando a urgência da união entre todas e todos os trabalhadores. Cada camponês e camponesa depositou um produto representativo de sua região em duas cestas, que foram entregue a dois trabalhadores da cidade: o gari Igor, e a profissional de limpeza Elisângela.

Ato lembrou as origens da Feira da Reforma Agrária no estado do RJ. No final dos anos 1990, em Campos dos Goytacazes, Cícero Guedes e os demais Sem Terra da região faziam semanalmente doações de alimentos no centro da cidade para mostrar a importância da reforma agrária para toda a população. E prestes a completar 2 anos do assassinato de Cícero, sua memória continua presente na luta dos Sem Terra. Além de dar seu nome à Feira, seu sítio Brava Gente segue sendo cultivado pelos filhos Ruth e Matheus, e a produção enchendo barrigas, corações e mentes de quem conhece sua história.

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