Nas últimas semanas, depois de voltar de Belém, fui questionada por muita gente – de amigos a parentes, de conhecidos em comércios do bairro e da academia, até mesmo pelos colegas de trabalho e pelos chefes que acompanharam de perto meu trabalho –, sobre o que eu tinha achado da COP30. Se deu certo, em alguma medida, ou se foi um fracasso, se o Brasil se saiu bem ou se passou vergonha. Teve gente que simplesmente me perguntou se eu gostei de ter ido para lá.
Acho que tem um bocado de curiosidade natural por ser um evento internacional tão grande, realizado em terras nacionais, e que mobilizou tanta atenção da mídia, da política, do empresariado. Mas também dos haters.
Arrisco dizer que nunca antes uma COP gerou tamanha quantidade de desinformação, com tanta gente se esforçando para minimizar os riscos do aquecimento global, para dizer que essas conferências não servem para nada e que Belém ia “flopar” (do inglês to flop, fracassar).
O Observatório da Integridade da Informação, que atua para combater desinformação sobre a crise climática, fez um levantamento sobre as mais de 900 mil menções à COP30 nas redes sociais durante as duas semanas de conferência e descobriu que entre os 700 posts que tiveram maior alcance, 227 eram enganosos, ou 35% daquilo que chegou a mais gente.
A equipe que conduz a iniciativa, também responsável pelo perfil Mentira tem Preço, no Instagram, destacou que “as histórias que se repetiam pareciam playlist de fim de ano”, com mensagens como “COP flopada”, “vergonha”, “hipocrisia”, “circo climático”.
Alimentando a curiosidade das pessoas, isso tudo se soma ao fato de que talvez para muita gente tenha sido mesmo difícil entender o que estava sendo discutido em Belém, o que a conferência precisava resolver e o que conseguiu na prática, qual é a efetividade desse tipo de reunião para lidar com o desafio da crise climática.
Como parte do corpo de milhares de jornalistas com a missão de traduzir aquilo, reconheço essa incompreensão com um certo pesar, mas também com humildade e uma boa dose de senso de desafio e de mea culpa. Se quase todos os anos estamos escrevendo, ao fim das COPs, que seus resultados ficaram aquém do necessário, que houve alguns avanços, mas ainda não na velocidade requerida pela urgência do problema – o que é verdade –, entendo que, no mínimo, isso possa gerar um desânimo ou, pior, reforçar a falsa ideia de inutilidade, de “flop”.
A gente, imprensa, precisa se esforçar mais para tornar mais palatável e acessível esse tema tão vital para a sobrevivência da nossa própria espécie e de todas as outras com quem dividimos esse planeta. (Inclusive, se puder, responda esta pesquisa rápida sobre nossa cobertura da COP30 e nos ajude a fazer matérias mais relevantes, mais cuidadosas e mais conectadas com o que realmente importa para você.)
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