O PL diz que o licenciamento ambiental de pavimentação em instalações preexistentes será realizado mediante emissão de uma simples licença de adesão e compromisso LAC, sem realização de estudo de impacto ambiental. O texto abre a possibilidade também para que estradas secundárias sejam licenciadas pelos estados pela chamada Licença por Adesão e Compromisso (LAC), uma espécie de licenciamento autodeclarado, sem medidas preventivas, nem mitigadoras.
Fora o efeito simbólico. Só de a lei ser aprovada, já vai ter grileiro se antecipando na especulação de terra no entorno. E isso, gente, não só vai ser o fim dos planos de zerar o desmatamento da Amazônia como ainda vai ser um tiro no pé do agronegócio.
Há uma desconexão clara entre as discussões no âmbito global e no âmbito nacional. Combater o desmatamento é a principal contribuição que o Brasil pode entregar no curto prazo para os esforços globais de combate às mudanças climáticas – resultado que Lula vai querer mostrar na COP30. Mas ele não vai se sustentar pelo rumo que as coisas estão tomando.
De fato é mérito deste governo a queda do desmatamento. Assim como tinha ocorrido na passagem anterior de Lula pelo Palácio do Planalto. Em 2012, já sob Dilma, o desmatamento na Amazônia chegou à menor taxa histórica.
Porém, em uma dinâmica muito parecida com o que estamos vendo agora, naquele ano, também sob forte pressão da bancada ruralista, houve no Congresso a alteração do Código Florestal. Muitos especialistas atribuem àquela mudança, que anistiou desmatamentos antigos, o início da inversão da curva do desmatamento, que chegaria ao ápice depois com Bolsonaro. Outra similaridade entre as duas leis é que o novo Código Florestal criou o Cadastro Ambiental Rural, o CAR, que é autodeclaratório e abriu a porteira pra grilagem, do mesmo modo que o PL do licenciamento cria a LAC, também uma autodeclaração por parte do empreendedor. É mais uma lei jogando contra o programa de combate ao desmatamento.
“É um governo cheio de contradições e na agenda ambiental não dá pra ter contradição, tem de ter linha unificada de ação, porque momentos ruins invalidam os momentos bons”, me disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. O fato de o desmatamento ter caído ainda deixa o governo bem na fita, mas se voltar a subir, disse ele, a conversa muda de patamar, e aí a pressão, inclusive internacional, pode crescer.
Marina, que não só é muito coerente, como também fiel, costuma dizer que os resultados bons até o momento só foram obtidos porque o governo todo agiu para conter o desmatamento (o plano de combate na Amazônia, o PPCDAm, é composto por 19 ministérios). É sua forma de argumentar que não está sozinha, apesar das contradições dos companheiros de Esplanada.
Mas ela bem sabe que só mesmo uma enorme mobilização social pode agora parar o desmonte em curso, como Marina mesma disse ao sair do Senado: “O licenciamento ambiental é uma conquista da sociedade brasileira. Neste momento, sinceramente, só o povo brasileiro pode evitar esse desmonte que está sendo proposto. Eles pensam que estão agredindo uma pessoa. Estão agredindo um povo. O futuro de um povo. Os direitos de um povo. E até mesmo os interesses econômicos e estratégicos de um povo com esse tipo de atitude. Eu quero ver como a gente vai continuar conseguindo os mesmos resultados positivos (…) se demolirem a vértebra da proteção ambiental, que é a lei do licenciamento.” |
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