Greta, Gaza e a impossibilidade de haver justiça climática sem justiça social Quando ainda estava a bordo do barco Madleen, da Coalizão Flotilha da Liberdade, a caminho de Gaza, a fim de dar visibilidade ao bloqueio imposto por Israel à ajuda humanitária, a ativista sueca Greta Thunberg respondeu em uma entrevista o que conectava a luta pela Palestina com a crise climática, sobre a qual ela sempre alertou.
“Para mim, não há como distinguir os dois. Não podemos ter justiça climática sem justiça social. A razão pela qual sou ativista climática não é porque quero proteger as árvores. Sou ativista climática porque me importo com o bem-estar humano e planetário, e esses dois aspectos estão extremamente interligados”, disse ao programa Democracy Now na semana passada.
“Quando vemos o genocídio em Gaza, é claro que há algumas ligações muito óbvias: o ecocídio, a destruição ambiental, é um método muito comum usado em guerras e para oprimir pessoas. Mas também deveria ser muito mais simples do que isso. Não importa qual seja a causa do sofrimento, seja o CO2, sejam bombas, seja a repressão estatal ou outras formas de violência, temos que nos opor a essa fonte de sofrimento”, explicou.
“E se fingirmos nos importar com o meio ambiente, se fingirmos nos importar com o clima e o futuro dos nossos filhos, sem ver, reconhecer e lutar contra o sofrimento de todas as pessoas marginalizadas hoje, então essa é uma abordagem extremamente racista à justiça que exclui a maioria da população mundial”, disse, por fim.
Greta, quando ainda era apenas uma adolescente, ficou famosa por protestos, inicialmente bastante solitários e silenciosos, que fazia em frente ao parlamento de seu país para pedir ação dos governantes contra as mudanças climáticas. Ela começou a atrair outros jovens, num movimento que ganhou corpo até resultar nas marchas pelo clima com milhares de pessoas.
Líderes autoritários e negacionistas já destilaram todo tipo de veneno contra ela. Bolsonaro a chamou de pirralha. Agora, em razão dos protestos contra Gaza, Donald Trump a chamou de “estranha”, de “pessoa raivosa”. O governo de Israel ironizou a campanha da Flotilha da Liberdade dizendo que se tratava de um “barco de selfies”.
Greta e companhia, que inclui o brasileiro Thiago Ávila, ainda detido em Israel, pretendiam – mais do que tentar levar ajuda humanitária, que era simbólica – colocar sob holofotes o fato de que, por ordens de Benjamin Netanyahu, os palestinos estão correndo sério risco de morrer de inanição.
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