Podemos usar muitas palavras, mas talvez a mais assertiva seja: fraquejada. O ex-presidente Jair Bolsonaro se sentou no banco dos réus no Supremo Tribunal Federal ontem, 10 de junho, com a Constituição de 1988 sobre a mesa. Disse que nunca atacou as urnas eletrônicas. Argumentou que era retórica. Perdeu a ordem dos papéis que segurava. Chamou Alexandre de Moraes para ser seu vice. Disse que errou muitas vezes na vida pública. Pediu desculpas.
Como bem apontou a repórter Alice Maciel, Bolsonaro tentou atenuar tudo o que fez nos quatro anos de governo e as ações que hoje o levaram a estar no centro da acusação de tentativa de golpe de Estado. E ainda o fez em tom de brincadeira.
Você sabe bem que nenhuma dessas acusações são brincadeira. O que está em jogo no STF é uma denúncia grave de que o presidente e figuras de primeiro escalão das Forças Armadas teriam tramado dar um golpe após perderem as eleições.
O próprio Bolsonaro se contradiz, quando admite que cogitou decretar estado de sítio. Nas palavras ensaboadas do ex-presidente, “foi conversado hipóteses de dispositivos constitucionais”. Ora, dispositivos constitucionais discutidos às sombras e à revelia do Supremo, que é o guardião da Constituição, têm um nome: golpe.
Mas o sempre agressivo Bolsonaro não poderia repetir no STF o mesmo tom que usou durante seus anos de governo, ou gritar como fez no ato na Avenida Paulista, em 7 de setembro de 2021, que “qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá”. O Bolsonaro de agora, quatro anos depois, fraqueja – para usar um termo que o próprio já usou de forma machista contra sua filha – , pois sabe que seu futuro está nas mãos de um poder que ele tanto desdenhou.
Agora, o julgamento segue para que o Judiciário decida qual o envolvimento de Bolsonaro e de cada um dos agentes nessa trama. A acusação e as defesas terão um período para pedir novas diligências. Em seguida, um prazo de 15 dias para as últimas alegações. Só então o processo deve terminar na 1ª Turma do STF, com as sentenças e eventuais absolvições.
Nós vamos seguir acompanhando o julgamento na Agência Pública, ato a ato. Mas a verdade é que só esperar o importante papel da justiça institucional não basta. Se Bolsonaro está no bando dos réus, o jornalismo teve um papel fundamental ao denunciar e revelar camadas indesejadas que personagens da trama golpista não queriam que você soubesse.
A Pública existe para fiscalizar o poder. Mas só consegue seguir firme nessa missão se tiver você ao lado. Alie-se à nós e invista em um jornalismo investigativo, independente e de interesse público. |
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário