Imagine ser alvo de uma investigação secreta, não por um crime, mas por suas ideias. Por aquilo que você escreve, por aquilo que você busca revelar. Parece enredo de filme, mas é a realidade que a jornalista Alice Maciel, da Agência Pública, enfrentou. Ela foi monitorada ilegalmente pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, simplesmente por ser rotulada como "jornalista 'left'" – uma suposição ideológica sem qualquer base legal.
Descobrimos este monitoramento — no jargão policial é arapongagem mesmo — contra a nossa repórter na última quarta-feira, 18, com a queda do sigilo do relatório da Polícia Federal sobre a chamada "Abin paralela", uma espécie de polícia política tosca do governo Bolsonaro. O documento revela como a estrutura do Estado foi usada para perseguir, monitorar e vigiar jornalistas e opositores do governo anterior.
Alice, uma repórter da mais alta competência, foi alvo de um monitoramento que vislumbrava investigá-la “mais a fundo" para "ver o lado que a jornalista joga" e sua possível "ligação com políticos, que possam comprar matérias". Tudo isso, apesar de sua carreira impecável e ética inquestionável. Tudo isso, porque Alice devia estar incomodando gente graúda com seu jornalismo de interesse público.
Essa prática da Abin remete às piores páginas da ditadura militar, quando o Serviço Nacional de Informações (SNI) não hesitava em violar direitos individuais e cometer atos abusivos. É inaceitável que, em uma democracia, agentes do Estado usem conversas informais de WhatsApp para solicitar investigações ilegais, baseadas em rótulos ideológicos. A Abin nos deve um pedido público de desculpas por essa tentativa lamentável de calar a liberdade de imprensa.
Por que tanto esforço para monitorar uma jornalista? Porque o jornalismo independente incomoda. Incomoda quem tenta esconder a verdade, quem abusa do poder, quem trama nas sombras. Dias antes de ser monitorada, Alice Maciel havia publicado reportagens explosivas, revelando, por exemplo, o uso de verbas da Lei Rouanet para conteúdos pró-armas e o desvio de recursos do orçamento secreto.
Essas revelações são a essência do jornalismo investigativo: trazer à luz o que muitos preferem manter oculto. Mas faltam respostas: por que Alice foi monitorada? Quem mandou monitorá-la?
O caso de Alice não é isolado. Outros jornalistas renomados também foram alvos. É por isso que o jornalismo independente é tão vital. Ele é a sentinela da democracia, o contraponto aos desmandos, a voz que ecoa a verdade mesmo quando tentam silenciá-la. Mas para continuar fazendo esse trabalho essencial, precisamos do seu apoio para revelar o que aqueles que escondem seus crimes preferem que você não saiba.
A Abin monitorou nossa repórter, mas o que eles não sabem é que temos Aliados.
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