sexta-feira, 17 de março de 2023

 

Jornalismo na democracia

Comemoramos os 12 anos de Agência Pública em um governo democrático. Não é pouco. Depois de quatro anos em regime de exceção, quando cidadãos foram mortos por estratégia de governo - das vítimas da Covid-19 aos indígenas massacrados pelo garimpo - podemos exercer nosso papel de jornalistas sem sofrer ofensas nem perseguição por parte de um presidente da República e seus aliados, com acesso a documentos e informações do governo e, sobretudo, com um potencial maior de impacto das denúncias de violações de direitos humanos, o foco do nosso jornalismo desde a fundação.

Estamos preparadas para esse momento. A Agência Pública, que nasceu pequenininha mas com ganas de mudar o cenário do jornalismo no país, é agora uma organização com mais de trinta pessoas comprometidas com o combate à injustiça, ao autoritarismo e a violações de direitos fundamentais dentro do nosso campo de trabalho. A cobertura sobre os Yanomami, as reportagens que trouxeram à luz as ações do governo durante a pandemia e também do general Mourão no Conselho Nacional da Amazônia, assim como os bastidores do 8 de janeiro, estão entre aquelas que mostram o fôlego de nosso jornalismo investigativo. 

A partir do final deste mês, também a sucursal de Brasília, composta de sete profissionais e dirigida pelo jornalista Thiago Domenici, diretor e editor da Agência Pública reconhecido pela coordenação de investigações cruciais na Pública, como os casos Samuel Klein e iFood, estará atuando a todo vapor, investigando os três poderes, os lobbies no governo, apontando privilégios e impunidade, revelando interesses privados que prejudicam a gestão pública, monitorando os processos de implantação de políticas públicas que reduzam de fato a desigualdade, aumentem a participação política e protejam os direitos humanos e o meio-ambiente. Isso em um cenário de reconstrução de instituições e em um contexto global de emergência climática cujos efeitos já recaem sobre os mais pobres - dos morros de São Sebastião às periferias das grandes cidades, de aldeias às roças familiares afetadas por secas e inundações. 

Grandinhas que estamos, queremos inovar a cobertura socioambiental que iniciamos em 2012 com o primeiro especial da Amazônia, mostrando de forma cada vez mais contundente a relação entre lobbies e decisões tomadas nos centros de poder e a realidade da vida de cada um de nós, principalmente dos mais vulneráveis. Por isso convidamos para fazer parte do nosso time a jornalista Giovana Girardi, uma das profissionais mais experientes na cobertura de ciência e clima. Buscamos maior relevância para nossa cobertura socioambiental sem deixar de sujar os sapatos no jornalismo de campo, aquele que vai até os lugares onde as violações de direitos são cometidas, que cada vez mais, são os mesmos que pensam em soluções para o futuro.

Comemoramos uma Agência Pública muito mais forte do que aquela que nasceu dos sonhos de três jornalistas mulheres em 2011. Uma organização vibrante que se transforma à medida que chegam novos profissionais, com diferentes backgrounds e ambições. E que surpreende até as suas fundadoras com o vigor de seu jornalismo investigativo feito a muitas e habilidosas mãos, mantendo a fé no jornalismo investigativo como ferramenta para a sociedade brasileira mudar o país e as vidas de todos, todas, todes.

Feliz aniversário, Pública!



Marina Amaral
Diretora executiva da Agência Pública

marina@apublica.org

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