Por que a campanha “Moro mente” é capaz de brecar a farra do ex-juiz. Por Donato

Foto: Mauro Donato
POR MAURO DONATO
Antes
mesmo do ato começar, tão logo a imagem de Sergio Moro surgiu no telão
do Salão Nobre da faculdade de Direito no largo São Francisco, uma
ruidosa vaia tomou conta do ambiente.
Com o espaço
lotado (plateia inferior e galeria superior) e mais centenas de pessoas
do lado de fora, a campanha “Moro Mente” pretende ser didática,
pedagógica e rodar todos os estados do país.
A Associação
Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) quer mostrar à população
quais foram “as violações de direitos cometidas pelo ex-juiz e apontar
as mentiras que ele conta para justificar sua atuação criminosa durante a
Lava Jato”.
Falar de Moro
não pode ser no passado. Afinal de contas, ele continua extrapolando
limites éticos e do cargo que ocupa. Por isso a indignação só faz
aumentar.
O “herói” que
foi desmascarado em menos de seis meses pelo mesmo instrumento que o
alçou (os vazamentos), não terá vida fácil. “Lula livre e Moro na
cadeia” foi frase dita por mais de um orador ontem, muitos deles
juristas de peso.
“Não aceitamos
julgamento que corrompe a noção de Justiça, de violação das práticas. O
Judiciário está em dívida com o povo, é hora do STF colocar as coisas no
devido lugar. Moro não tem condições de permanecer à frente do
Ministério por ter feito conluio com Bolsonaro ao tirar Lula da disputa
presidencial” disse a desembargadora Kenarik Boujikian.
Moro é o
representante mor de um sistema jurídico excludente, que propicia todo
tipo de abusos de poder. Sua conduta inaceitável diante do ordenamento
jurídico foi fundamental para o esquema de perseguir, processar e
condenar adversários de Jair Bolsonaro.
“Lula tem
cinquenta anos de carreira política. Não seria derrotado por um Whatsapp
qualquer, sem o suporte da Lava Jato de Sergio Moro”, afirmou Fernando
Haddad, também ele vítima do processo ilegítimo.
Inflamado, Haddad demonstrou ainda irritação ao comentar a interferência de militares.
“A todo momento
que o STF tenta fazer justiça, entra na linha um militar fazendo coação,
dizendo que tem 300 mil homens armados”, declarou ele em referência ao
general Eduardo Villas Bôas, que duvidava da lisura do processo
eleitoral e incitava seus seguidores a questionar as urnas eletrônicas.
Se Bolsonaro não vencesse a chapa iria esquentar, é que deixava
implícito.

Sergio Moro é
personagem central de uma farsa que criminaliza a política a abriu
caminho para uma aberração como Bolsonaro. Com seu discurso de combate à
corrupção, o que fez foi corromper a democracia.
O próprio pacote
anticrime é uma solução fake. Amplia um estado penal que persegue e
encarcera pobres, negros, ativistas e movimentos sociais.
Sergio Moro é
uma farsa, mas ele não mente sozinho. Por isso o movimento “Moro Mente” é
tão necessário. É preciso de fato repensar um sistema Judiciário que
considera “normal” os diálogos nos quais um juiz claramente orienta uma
das partes.
A campanha
pretende colocar à prova os atos de Moro que, no fundo, confirmam o que
muitos suspeitavam desde o início: a operação Lava Jato era um balaio de
abusos e injustiças seletivas.
Sua mais recente
traquinagem de enviar documentos sigilosos a respeito do laranjal do
PSL para Bolsonaro (e agora negar-se a atender o pedido divulgar cópia
daquilo que enviou) demonstram o quanto ele faz parte do aparelhamento
bolsonarista.
Moro foi peça
chave na eleição de Bolsonaro e agora é conivente nos acobertamentos e
engavetamentos de processos da família miliciana.
Sem justiça com jota maiúsculo não há democracia. Não é, portanto, sob esse regime que estamos vivendo. Fora Moro.

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