Crise Política
Do dr. Ulysses a Temer
A singular e dolorosa trajetória de um partido resistente
que, em busca de poder, passou a se esmerar em traições
ASCOM- VPR
A eleição presidencial de 1989, a primeira disputa direta após a ditadura militar, deixou marcada na história do PMDB a grande traição cometida pelo partido. Ulysses Guimarães,
referência política importante da história republicana brasileira,
disputou a eleição pela legenda fundada em 1965, batizada então de MDB, e
por ele presidida a partir de 1971. Ganharia um “P” com a reforma
partidária imposta pela ditadura em 1979.
O candidato contava com a força eleitoral
do partido e com a histórica foto na qual erguia um exemplar da
Constituição, batizada de “Cidadã”, bem como com seu digno passado de
anticandidato em 1973 e de “Senhor Diretas Já”, em 1984.
Parecia uma arma eleitoral insuperável. Foi um fiasco,
para o orgulho do sóbrio e confiante Ulysses. Ele ficou em sétimo lugar
com modestos 3,2 milhões de votos, em um eleitorado de 82 milhões.
Esta foi a primeira deslealdade do PMDB.
Para isso, o partido abriu mão de tentar conquistar o poder pelo voto
popular. Assim, postou-se como guardião das tradições contra um operário
metalúrgico chamado Lula que, inesperadamente, ameaçava os candidatos
tradicionais.
Forçado pelas circunstâncias, o PMDB não
titubeou. Descartou Ulysses. Apostou todas as fichas em Fernando Collor,
um carioca desconhecido formado politicamente em Alagoas. Uma facada.
Seja qual for a explicação, Ulysses foi vítima da deslealdade do PMDB.
Uma traição. A primeira, mas não a última.
Posteriormente, em 1994, o
partido, sem condições de alcançar o poder, fechou com a candidatura de
Fernando Henrique Cardoso. Chamado até então de “príncipe da sociologia
brasileira”, foi reduzido à condição de sociólogo temporário.
Em 2002, após os oito anos de FHC, em boa parte
calamitosos, Lula venceu a disputa. Para formar uma base governista
sólida, convocou o PMDB como aliado. O PT reagiu. Rangeu os dentes. Cedeu, ao cabo, e entrou no jogo.
Ao fim de dois mandatos, Lula fez de
Dilma Rousseff a sua sucessora. Para suprir eventuais dificuldades
eleitorais escolheu Michel Temer como vice-presidente na chapa
governamental.
Contava com a influência do PMDB nos
confins do País. O partido não tinha identidade política. Era, e ainda
é, um ajuntamento de pessoas. Uma diversidade de interesses. Não olha o
Brasil, e sim seus interesses. O PMDB, mais uma vez, é o instrumento do
jogo de sempre.
O partido, supostamente aliado da presidenta Dilma Rousseff, tornou-se promotor da conspiração golpista.
E Michel Temer traiu.
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