Autora de pedido de impeachment divide opiniões como professora
Fabio Braga/Folhapress | ||
Os juristas Janaina Paschoal (à frente) e Helio Bicudo (à dir.) em ato na faculdade de Direito da USP |
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"Minha cabeça tá fraca hoje –gastei", ri a professora Janaína Paschoal, durante a aula de Direito e Religião, disciplina que ministra na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com aulas às sextas-feiras.Na véspera, 28 de abril, a advogada havia "gastado" a cabeça no Senado, na defesa da abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Antes mesmo de ganhar notoriedade como uma das pessoas que assinou aação contra Dilma (ao lado dos juristas Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo), Paschoal já era figura polêmica no Largo São Francisco.
Entre os alunos, divide opiniões. "Antes [do pedido de impeachment], ela era vista como uma professora mais ou menos séria", afirma o estudante Gabriel Fazzio, 24. "Depois, todo mundo começou a tirar uma onda com ela."
Não é a opinião de Bernardo Fico, 21. Para ele, a advogada é "uma das professoras mais dedicadas".
"Ontem ela estava em Brasília e hoje está aqui, dando aula, desde as 13h", diz.
Mesmo contrário ao processo de impeachment de Dilma e a certas posições expressadas pela docente em sala de aula, ele diz julgá-la uma boa professora.
BLINDADA
A advogada ficou conhecida por fazer discursos inflamados quando defende o processo de afastamento da presidente –o mais famoso, proferido em 5 de abril na própria faculdade, virou meme.
A fala ficou marcada pelo momento em que a advogada gira uma bandeira nacional sobre a cabeça, gritando que "o Brasil não é a república da cobra", referência a discurso em que o ex-presidente Lula se identificou como jararaca.
As críticas e os memes acabaram gerando, no entanto, uma reação dentro das correntes de esquerda da faculdade, contrárias ao impeachment da presidente –que consideraram machistas as alegações contra a advogada.
"Nenhum professor homem que fala de forma eloquente na sala de aula é tachado de louco", afirma Fico.
"Não gostei do discurso [de Paschoal], mas foi uma coisa de situação, não representa o que é a Janaína", afirma outro aluno, Rodrigo Pires, 33, que diz não ter opinião sobre o afastamento de Dilma.
E, na aula, Paschoal é mais comedida. Gesticula bastante, mas não eleva o tom de voz, e arranca risadas da sala não muito cheia.
Para a estudante Ana Lidia Cavalli, membro do Levante Popular da Juventude, "a Janaína não é nossa aliada, não é aliada das mulheres, é contra o aborto, contra um monte de pautas feministas, mas é muito ruim dizer que ela é louca, que está possuída".
A advogada se disse, em aula, contrária à lei do feminicídio: "Me parece que é dizer que a vida da mulher vale mais que a do homem".
Segundo Cavalli, no entanto, é "preocupante que a gente possa blindá-la, não fazer críticas só porque ela é mulher". "A fala dela é inflamada de propósito, para desvirtuar o discurso dela, que é bem vazio", afirma.
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