Fui ouvir o Rodrigo Lima, que é sócio-diretor da Agroicone, uma consultoria voltada para o desenvolvimento sustentável do agro, e ele disse achar essa estratégia um pouco injusta porque vai jogar um peso muito maior sobre o agronegócio.
Por que, perguntei para ele? “É que assentamento e área quilombola são terras públicas, ou seja, a gestão é pública, da União e do Incra. Então alocar as emissões que ocorrem dentro dessas áreas como sendo da agropecuária é uma escolha política, não técnica”, disse Lima.
Insisti nisso com o Aloisio Melo e ele discorda. “Os assentamentos são destinados à atividade produtiva. A rigor, sim, eles são áreas públicas, federais ou estaduais, mas elas são destinadas à atividade agropecuária. Por isso se entendeu que faria mais sentido agregar isso dentro do plano setorial de agricultura e pecuária”, explicou.
Como o objetivo é pensar em políticas públicas para a redução das emissões, elas têm de ser pensadas no contexto dos instrumentos de incentivo, de financiamento a todo o setor, com articulação entre os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário.
Entre os planos setoriais há um outro focado em desmatamento e restauração florestal, que foi chamado de Conservação da Natureza. Ele foca nas áreas públicas que são destinadas à proteção ambiental, como terras indígenas e unidades de conservação, e também nas áreas públicas não destinadas, onde há ainda um vazio fundiário. Desmatamento que ocorre nessas áreas conta para este setor, dentro da gestão do Ministério do Meio Ambiente.
Para Lima, “alocar as emissões de desmatamento em assentamento para agropecuária é legalmente questionável” e ele já antevê que vai ser objeto de debate. O plano vai entrar em consulta pública na terça que vem, dia 28, para receber comentários e só depois sai a versão final, mas eu também já imagino que vai abrir uma nova queda de braço com o agro.
Plano de energia ainda permite aumento de emissões
Para finalizar, vale a pena também falar do plano setorial para energia, que prevê ainda uma certa estabilidade de emissões no plano mais ambicioso (com um aumento de 1%), mas podendo chegar a uma alta de 44% na margem menos ambiciosa do plano. Isso até 2035, bem o período que o Brasil estima que ainda vai aumentar a sua produção de combustíveis fósseis. A estratégia prevê neutralidade de carbono para 2050.
“O Brasil, que tinha 88% de renováveis em 2024, poderá cair para até 82,7% em 2030 e, mantido esse patamar até 2035, estará regredindo em vez de liderar”, aponta uma análise feita pelo Instituto Talanoa sobre os planos setoriais.
“A justificativa? Eventos climáticos extremos podem exigir maior uso de térmicas fósseis. Em outras palavras: a crise climática causada pelos fósseis pode ser motivo para… usar mais fósseis. Um paradoxo perigoso”, alerta a organização. |
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