domingo, 23 de fevereiro de 2025

 

Se Lula está certo (e está), ou se reestatiza a BR ou a Petrobrás volta ao mercado de distribuição

A estatal sempre foi concebida para ser uma empresa “do poço ao posto", com capacidade para regular os preços no mercado interno

Publicado em 18/02/2025

A declaração de ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o "assalto" dos intermediários no setor de combustíveis não é apenas um desabafo político. Trata-se de uma constatação econômica inegável: desde que a BR Distribuidora foi privatizada no governo de Michel Temer, após o golpe de Estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff, o Brasil perdeu um dos principais instrumentos de regulação dos preços dos combustíveis.

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A Petrobrás sempre foi concebida para ser uma empresa integrada, atuando “do poço ao posto”, garantindo que o Estado tivesse controle sobre todas as etapas da cadeia produtiva de petróleo e derivados. Ao abrir mão do setor de distribuição, o governo ilegítimo de Temer fez com que a Petrobras perdesse sua capacidade de influenciar os preços na ponta, deixando essa tarefa nas mãos de empresas privadas que atuam prioritariamente em função do lucro. O resultado? Um mercado controlado por grandes distribuidores que não têm compromisso algum com a estabilidade dos preços e seus impactos no mercado interno.

A venda da BR Distribuidora foi um dos capítulos mais simbólicos do desmonte do Estado promovido por Temer e consolidado por Jair Bolsonaro. A justificativa para a privatização era sempre a mesma: reduzir a presença do Estado na economia sob o pretexto de tornar o setor mais "eficiente" e "competitivo". O que se viu na prática foi o contrário. A BR, que antes operava como um braço estratégico da Petrobrás para regular os preços dos combustíveis, foi transformada na Vibra Energia, uma empresa privada que segue as regras do mercado e responde apenas aos seus acionistas.

Lula está certo quando diz que os intermediários estão prejudicando o povo brasileiro. Mas esse problema não será resolvido apenas com discursos ou pedidos para que a Petrobrás “tome uma atitude” ou venda diretamente para grandes consumidores. A única solução concreta é fazer com que a estatal volte a ter controle sobre a distribuição de combustíveis no Brasil. Isso pode acontecer de duas formas: ou o governo reestatiza a BR Distribuidora, trazendo-a de volta ao guarda-chuva da Petrobrás, ou a estatal volta a atuar diretamente no setor de distribuição, comprando ou criando uma nova rede de postos que possa competir com os privados e reduzir a especulação sobre os preços.

A verdade é que uma empresa de petróleo sem uma rede de distribuição própria é como um exército sem logística. Sem esse controle, a Petrobrás perde sua capacidade de regular o mercado, tornando-se refém dos grandes distribuidores privados que, ao invés de ajudar a controlar os preços, apenas reforçam as distorções.

Se o objetivo do governo Lula é garantir que o povo brasileiro pague um preço justo pelos combustíveis, não há outro caminho senão devolver à Petrobrás sua capacidade de atuação plena no mercado. A privatização da BR foi um erro histórico, e corrigir esse erro não é uma questão de ideologia, mas de soberania econômica.

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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