terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

POR QUE A GRANDE IMPRENSA DEFENDE NUNES?

 

Olá,

As enchentes são um problema recorrente que assola o Brasil inteiro, e que vão ficando cada vez mais comuns em tempos de emergência climática. Este texto poderia ser sobre qualquer uma das cidades brasileiras, mas é sobre a maior metrópole do país

Após quase uma semana de ruas alagadas, moradores do Jardim Pantanal, área periférica da Zona Leste de São Paulo, agora contabilizam os prejuízos das enchentes que acontecem no local há pelo menos 30 anos e que têm sido cada vez mais comuns. 

Na visita da Agência Pública ao bairro, a reclamação constante dos moradores era de que a imprensa tradicional, com todo o seu poder de alcance, não dava espaço para reclamações e cobranças direcionadas ao prefeito Ricardo Nunes (MDB).  

O jornal O Globo publicou um editorial, em 5 de fevereiro, defendendo a ideia de Nunes em remover as famílias que vivem no bairro da zona leste paulistana, sob o argumento de que a construção de um dique custaria R$ 1 bilhão ao cofre da prefeitura, cujo orçamento é de cerca de R$ 112 bilhões, segundo o balanço de 2024. 

“Ele [Ricardo Nunes] falou que não valia a pena investir nessa comunidade, porque sempre acontecem [enchentes]. Então, ele quis dizer que nós estamos perdidos? Que não vale a pena tirar o mínimo do estado para investir em nós?”, disse à Pública Jacilene Geraldo dos Santos, de 33 anos, em tom de repúdio ao anúncio do prefeito sobre estudar a possibilidade de remoção. Ela e boa parte da família nasceram e cresceram no Jardim Pantanal.

No terceiro dia de enchentes, 3 de fevereiro, uma moradora foi entrevistada ao vivo por um jornal televisivo, mas quando passou a criticar a atuação de Ricardo Nunes frente às enchentes, o repórter pouco deu importância à denúncia que ela fazia e que foi contada pela Pública: quem havia feito o cadastro para o auxílio de emergência, no valor de R$ 1 mil, ainda não tinha recebido o benefício mesmo depois de vários dias. 
Imagens aéreas mostram casas alagadas e as ruas submersas pelas águas do rio Tietê no Jardim Pantanal em São Paulo. Foto: José Cícero/Agência Pública
Nunes fez uma visita ao Jardim Pantanal na quarta-feira, 5, com o intuito de conhecer as instalações da Prefeitura dentro da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Mururés, que tem servido de abrigo e ponto de apoio às famílias afetadas pelas enchentes. A recepção dele ocorreu sob os protestos de quem perdeu tudo do pouco que tinha. 

Em resposta aos protestos, o emedebista que saiu vitorioso no bairro nas eleições de 2024, autorizou a sua Guarda Civil Metropolitana (GCM) a lançar bombas de gás e balas de borracha contra os moradores, que já estavam suficientemente traumatizados com a pior tragédia ambiental do bairro em 15 anos. 

Além das casas e ruas alagadas, o cenário também era de insegurança alimentar e fome, uma vez que centenas de pessoas faziam filas imensas para pegar marmitas doadas por outros moradores do bairro e as cestas básicas da própria Prefeitura. 

Enquanto a grande imprensa tem classificado a tragédia, ao longo de décadas, apenas como inevitável e defende a retirada dos moradores de suas casas, a Pública vai na contramão: amplifica a voz de quem é historicamente ignorado pelo poder público e fiscaliza quem deveria solucionar o problema

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Um abraço,

Rafael Custódio
Repórter da Agência Pública

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