quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

NA TRILHA DOS "KIDS PRETOS".

 



Olá,

O tempo tem provado que a crise golpista após as eleições de 2022 teve inúmeras digitais militares em seu planejamento e execução. A recente denúncia da PGR contra 34 envolvidos na tentativa de golpe escancarou o papel verde-oliva na trama envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, em especial, o dos membros da força de elite do Exército – os chamados “kids pretos” – responsáveis pelo ‘trabalho sujo’ para a tomada do poder.  

Pública te mostrou que coube aos “kids pretos” golpistas a missão de manipular extremistas acampados na frente dos quartéis e até o Alto Comando do Exército, para aderirem ao golpe, além de vigiar e arquitetar, clandestinamente, o sequestro e “neutralização” (o assassinato) do ministro do STF Alexandre de Moraes e dos então presidente da República e vice recém-eleitos.

Com a revelação de parte das evidências reunidas pela Polícia Federal ao longo das investigações e de trechos da delação premiada do tenente-coronel – e também “kid preto” – Mauro Cid, miramos no que muitos ignoraram: a parte mais violenta da trama nasceu dentro de um hotel do Exército localizado, vejam só, na unidade dos “kids pretos”, o Comando de Operações Especiais.

O manual de campanha de Operações Especiais do Exército define os “kids pretos” como oficiais preparados para atuar em “missões de alto risco”, com “dificuldade de coordenação e apoio”, aptos a se infiltrar em “ambientes hostis” visando “alvos de valor significativo”.

Militares envolvidos na trama dominam “táticas de operações” para cumprir missões “de inteligência, exploração e reconhecimento de comunicações clandestinas, operações em conflitos armados não convencionais”, “infiltração em território inimigo” e “manejo de crises em ambientes hostis”.

Pela primeira vez na história recente do Brasil, oficiais de alta patente das Forças Armadas são denunciados por tramarem um golpe de Estado. Mesmo assim, ainda faltam muitas respostas para entendermos, na plenitude, o envolvimento de militares da ativa e da reserva no caso – e a profundidade do golpismo dentro da caserna. Para isso, o jornalismo independente precisa seguir investigando, sem amarras. 
Sem anúncios ou patrocínio, temos liberdade editorial para mergulhar fundo nessas histórias. Nos ajude a seguir em busca das respostas, apoie a Pública e fortaleça reportagens que expõem o que o poder quer esconder.
Quero mais reportagens da Pública!
Um abraço,

Caio de Freitas
Repórter da Agência Pública em Brasília

domingo, 23 de fevereiro de 2025

LIDER DA OPOSIÇÃO

 A QUE PONTO CHEGAMOS COM NOSSAS REPRESENTAÇÕES, SEJA NA CÂMARA FEDERAL, SEJA NO SENADO.

NA CÂMARA TEMOS UM TAL DE GENERAL GIRÃO, QUE SEGUNDO UM BLOGLUEIRO É TÃO INSIGNIFICANTE QUE ESTAVA NO 08 DE JANEIRO,MAS, MESMO ASSIM NÃO É CITADO, MOTRANDO A SUA IMPORTÂNCIA NEGATIVA.

OUTRO DIA UM LIDER DA OPOSIÇÃO FOI FALAR, QUEM ERA ESTA GRANDE FIGURA? NADA MAIS, NADA MENOS DO QUE O HOMEM DO SACO PRETO,MAS, QUEM É? TRATA-SE DE ROGERIO MARINHO, UM FRACASSADO POLITICO DE UMA CAMINHADA DE FALCATRUAS, DAÍ O APELIDO DE SACO PRETO(ENVOLVIMENTO COM O LIXO) QUE FOI RESSLUCITADO PELO FACINORA CHAMADO BOLSONARO. É ESTAMOS A CADA DIA  PIORANDO NOSSAS REPRESENTAÇÕES.

 

Como a Meta silencia notícias incômodas  


Dizem que as salsichas e as notícias, é melhor não saber como são feitas. Pois hoje eu vou contar como notícias não chegam a ser feitas, como as Big Techs, mais especificamente a Meta, trabalham para que uma notícia incômoda não chegue ao público. 

A história começa assim. Dez dias atrás, recebemos uma imagem promocional do PL de Bolsonaro chamando para o 1º Seminário Nacional de Comunicação do Partido Liberal, “o maior evento de comunicação partidária do Brasil”. No centro, fotos sorridentes de Bolsonaro, sua esposa, Michelle, e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto. Abaixo, à esquerda, Meta, TikTok e Google eram listados como “parceiros”. 

Que as Big Techs estejam fornecendo treinamento de comunicação para políticos do maior partido da extrema direita brasileira é, por si só, bastante questionável; ainda mais levando em conta ser esse o partido que mais produz desinformação que é disseminada justamente nessas plataformas. (Afinal, metade dos políticos que espalham fake news é do PL.) 

Mais que o treinamento semanas depois do pronunciamento assustador de Mark Zuckerberg e depois de estarem todos os executivos ostensivamente se exibindo como troféus na posse de Trump, trata-se de uma enorme sinalização de que a aliança com o radicalismo de direita já atravessa fronteiras.

Pois nossa repórter Laura Scofield procurou as assessorias das ditas empresas e recebeu muitas respostas evasivas. Mas a Meta usou um artifício que tem empregado frequentemente e que joga contra o jornalismo de interesse público. 

Basicamente, em vez de oferecer uma entrevista que pode ser publicada, de maneira transparente, sua assessoria de imprensa oferece a “oportunidade” à jornalista de conversar com funcionários da empresa que, então, explicam que, na verdade, não é bem assim, que existem, sim, salvaguardas e as coisas são feitas de maneira ética lá dentro. 

Só que a jornalista não pode publicar nada disso. Tem que acreditar no que é dito a ela, em off, sem comprovação nenhuma e sem poder contrastar dados nem poder trazer a público de maneira transparente o que foi dito. Então, tal informação não poderá nem ser contestada, se for uma mentira. 

No caso do congresso do PL, muitos jornalistas ouviram, em off, que na verdade esse tipo de treinamento a políticos é um serviço gratuito, rotineiramente oferecido a diversos partidos. Laura pediu, oficialmente e por email, uma lista com as datas desses treinamentos, para que se pudesse comprovar como são realizados e de que maneira essas corporações estão distribuindo seus recursos internos treinando políticos de diferentes espectros. Não recebeu nada. Como você deve ter percebido, a matéria não foi publicada na Agência Pública.   

Depois que alguns sites publicaram sobre o evento, a imagem do evento foi alterada para mencionar apenas a "participação" das empresas. 

Ora, isso em nada muda o fato de que há um partido de extrema direita promovendo um evento sobre comunicação e propagandeando a participação de três das maiores empresas de tecnologia do mundo para treinar seus partidários, notórios por espalharem desinformação, insuflar seus opositores a questionar as eleições e tentar dar um golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. 

É ainda digno de nota que essas empresas ainda assim aceitam que isso seja propagandeado pelo partido, uma maneira clara de se legitimar e de demonstrar para o público interno que há aí uma aliança. 

Mas a história morreu e a vida segue. O que quero chamar a atenção é para essa prática desleal, porém corriqueira, que as Big Techs utilizam para desmontar histórias “sensíveis”, se valendo da boa vontade dos jornalistas que não têm como checar as informações passadas em off

Pra deixar claro o que significam esses termos jornalísticos: “off the record” significa que uma pessoa pode passar informações importantes para o jornalista, que depois deve corroborar de outras maneiras, sem citar a fonte. Ou pode citar apenas frases como “uma pessoa que conhece o tema”. O estratagema é usado, por exemplo, quando uma fonte interna quer vazar uma informação importante, como uma ilegalidade que está acontecendo dentro de uma corporação ou um governo, mas não quer se expor por segurança. É resultado de uma decisão pessoal, e não de uma estratégia corporativa.

O que tem sido feito pela Meta é algo completamente diferente: a empresa orienta seus funcionários a falar com a imprensa para dar a sua visão sobre o assunto, tentando demonstrar ao jornalista que a história não é bem assim, que não se trata de um escândalo. Mas sem assumir a sua posição diante da opinião pública. Trabalha apenas para que essas histórias jamais sejam publicadas.

E talvez seja importante lembrar: quando há algum problema com um produto ou um impacto negativo de uma empresa, o papel do jornalista é questionar a empresa, e a responsabilidade social desta é responder de maneira clara e, de preferência, corrigir o erro. Não é o que acontece com as Big Techs. 

“Mesmo não sendo uma postura assim, de pé na porta, que derruba a sua investigação, o que acontece é que, quando é um assunto sensível, a gente não tem segurança para fazer uma afirmação contundente. Então, muitas vezes essa prática enfraquece a matéria”, me disse um jornalista que cobre tecnologia para um grande jornal brasileiro e pediu para não ser identificado (uma fonte em off, aliás). Segundo ele, um dos momentos em que a prática foi muito utilizada foi justamente na época do desastroso pronunciamento de Zuckerberg.  
 
“Quando é algo mais sensível, eles têm esse costume de te colocar para falar com alguém que seja de relações governamentais, ou um advogado, tudo em off e no geral com essa conversa de que ‘não é bem assim’, e começam a esmiuçar dados técnicos que eu sinto que mais confundem do que ajudam”, diz ele. “Não ajudam porque não tem impacto no resultado final do problema que eu estou investigando, não resolve o problema.”

Para esse jornalista, entretanto, essa é apenas uma das maneiras que as Big Techs usam para pressionar jornalistas. Ele se lembra de ter recebido enorme pressão de uma assessora quando publicou uma reportagem que incomodou a Meta. “Ela me ligou inúmeras vezes querendo que eu mudasse, em pleno sábado.” O pedido era que a reportagem fosse mudada com base em uma conversa em off, o que foi negado. 

É essa também a postura adotada pelo Núcleo, site especializado em cobrir tecnologia. O fundador e editor, Sérgio Spagnuolo, me explicou que era comum que a Meta propusesse a seus repórteres a prática dos “esclarecimentos em background”.

“Antes era comum que um representante nos ligasse para dar esclarecinentos “em background”, que é quando não podemos citar nomes nem cargos, é quase um off, mas com posicionamento não semioficial. Ou seja, traz esclarecimentos, mas tira qualquer ônus de uma resposta oficial. 

Sérgio conta que há alguns anos decidiram deixar de aceitar esse tipo de conversa. “Entendemos que empresas bilionárias como a Meta são capazes de se posicionar oficialmente e se defenderem em caso de reportagens que tragam informações críticas a elas”, diz. 

“Isso não é construir fontes que falam em off sobre questões das empresas, e sim criar, tentar colocar um posicionamento oficial como se fosse parte da apuração da reportagem, não da resposta oficial, é uma tentativa de manipulação que a gente aqui do Núcleo não morde a isca”, conclui. 

Assim como Sérgio e meus colegas que citei na matéria, ao cobrir o setor da tecnologia percebo que a secretividade é usada por essas empresas como uma arma para impedir a crítica, por mais que os resultados maléficos de seus produtos estejam literalmente destruindo nossos cérebros e nossas democracias.  

É comum, por exemplo, que o Google e a Meta promovam visitas a suas empresas, para que os jornalistas conversem com os funcionários e fiquem impressionados com seus enormes salões de jogos e espaços coloridos para tirar uma soneca, mas tenham que assinar um documento dizendo que não podem mencionar nada do que foi falado lá dentro. “Eu nunca tinha visto isso, visitar uma sede de empresa e assinar NDA [non-disclosure agreement]  para não contar nada do que eu vi ali. E muito esquisito”, diz o jornalista. 

Ele me contou que a prática de tentar “derrubar” histórias faz com que sinta grande estresse ao cobrir essas empresas – e pode levar até a uma certa autocensura. “O que eu mais sinto é stress, principalmente quando tem essa situação de querer colocar o nosso trabalho em xeque, questionar nosso trabalho, mas sem tomar uma atitude clara e transparente. Isso nos desestimula de ir atrás de certos assuntos.” 

Portanto, saiba que as Big Techs participarão, sim, de um evento realizado pelo PL para treinar seus partidários, aqueles que são metade dos que espalham fake news no Brasil, e mantiveram sua decisão mesmo depois de o caso ter vindo à tona. Diferentemente dessas conversinhas em off, as decisões executivas dessas empresas são eloquentes o suficiente.    


Natalia Viana
natalia@apublica.org
Diretora Executiva da Agência Pública

 

O fim do carvão não está à vista

A demanda global por eletricidade deve aumentar nos próximos anos com os avanços da IA e os investimentos em data centers.

Publicado em 18/02/2025

As economias desenvolvidas têm reduzido o uso de carvão nos últimos anos, mas o mundo não está pronto para largar o vício em carvão, ainda não. Os mercados em desenvolvimento na Ásia estão aumentando sua geração de energia a carvão para atender à crescente demanda por eletricidade.

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Apesar das aposentadorias contínuas de energia a carvão nos EUA, da menor demanda por carvão na Europa e do fim da eletricidade a carvão de 142 anos no Reino Unido, a demanda global atingiu outro recorde no ano passado. E o consumo deve permanecer nesses altos níveis — ou até mesmo atingir novos recordes históricos — por mais alguns anos.

As economias asiáticas emergentes, lideradas pela China e pela Índia, têm sustentado o crescimento da demanda global por carvão nesta década. Elas planejam capacidade adicional de carvão para dar suporte aos seus respectivos booms de energias renováveis com energia de base 24 horas por dia, 7 dias por semana, e evitar crises de energia ou apagões como os que sofreram no início da década de 2020.

A capacidade global de energia a carvão operacional aumentou em 13% desde 2015, mostram dados do Global Energy Monitor (GEM). Desde 2015, quando os países chegaram ao Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, o mundo adicionou 259 GW de capacidade operacional de energia a carvão. No final de 2024, a capacidade total de energia a carvão operacional atingiu um recorde de 2.175 gigawatts (GW), enquanto outros 611 GW de capacidade estavam em desenvolvimento, de acordo com o Global Coal Plant Tracker do GEM.

A demanda global por carvão atingiu outro recorde em 2024, disse a Agência Internacional de Energia (AIE) em dezembro, esperando que o consumo mundial de carvão se estabilizasse até 2027.

O recorde anterior era de um ano antes. Em 2023, a demanda atingiu o recorde da época, e a AIE previu um consumo estável em 2024. Eles estavam errados — a demanda aumentou no ano passado, mostrou sua própria análise.

Apesar das previsões de estabilização, o consumo global de carvão pode continuar a aumentar neste ano e nos próximos anos também, dependendo de como a economia e as políticas de segurança energética da China evoluem nos próximos meses.

Um patamar na demanda global por carvão dependerá em grande parte da China, observou a AIE em dezembro.

“Fatores climáticos — particularmente na China, o maior consumidor de carvão do mundo — terão um grande impacto nas tendências de curto prazo para a demanda por carvão. A velocidade com que a demanda por eletricidade cresce também será muito importante no médio prazo”, disse o diretor de mercados de energia e segurança da AIE, Keisuke Sadamori.

A demanda global por eletricidade deve aumentar nos próximos anos com os avanços da IA e os investimentos em data centers.

O crescimento da demanda por energia em 2024 e 2025 deve estar entre os níveis mais altos das últimas duas décadas, disse a AIE em meados de 2024.

O aumento no consumo de eletricidade pode desacelerar a aposentadoria do carvão em economias desenvolvidas e aumentar ainda mais a demanda por carvão em mercados emergentes na Ásia, especialmente se o crescimento na capacidade de energia renovável não for suficiente para atender ao aumento na demanda de energia.

Embora a energia solar continue a impulsionar o crescimento da geração de energia dos EUA nos próximos dois anos, a produção de energia a carvão permanecerá inalterada em cerca de 640 bilhões de quilowatts-hora (kWh) em 2025 e 2026, disse a Energy Information Administration (EIA) no mês passado. A geração de eletricidade a carvão dos EUA foi de 647 bilhões de kWh em 2024.

As aposentadorias de carvão nos EUA devem acelerar este ano, removendo 6%, ou 11 GW, da capacidade de geração de carvão do setor elétrico dos EUA. Outros 2%, ou 4 GW, da capacidade de carvão seriam removidos em 2026, prevê a EIA. No ano passado, as aposentadorias de carvão representaram cerca de 3 GW de capacidade de energia elétrica removida do sistema de energia, que foi a menor quantidade anual de capacidade de carvão aposentada desde 2011.

Do outro lado do Atlântico, o ano passado viu um momento especial no sistema elétrico da Grã-Bretanha com o desligamento da última usina de energia a carvão restante no país. A usina em Ratcliffe-on-Soar foi fechada no final de setembro, encerrando 142 anos de geração de eletricidade a carvão no Reino Unido e tornando a Grã-Bretanha o primeiro país do G7 a eliminar o carvão.

Na União Europeia, a energia solar ultrapassou a geração de carvão em 2024, com a energia solar respondendo por 11% da eletricidade da UE e o carvão caindo abaixo de 10% pela primeira vez, mostraram dados do think tank de energia limpa Ember.

Mas na China e na Índia, os dois maiores usuários de carvão do mundo, respectivamente, o carvão ainda é rei, apesar do aumento nas instalações de energia renovável.
A geração de energia térmica da China, que é esmagadoramente dominada pelo carvão, aumentou 1,5% em 2024 em relação ao ano anterior para um recorde de 6,34 trilhões de kWh, à medida que o consumo de carvão no setor elétrico continua a crescer, assim como a produção e as importações da China.

Este ano, espera-se que a demanda e a produção de carvão da China continuem aumentando, e o combustível deve permanecer como a espinha dorsal do sistema energético do país, de acordo com a China Coal Transportation and Distribution Association.

Na Índia, o uso de carvão também está aumentando — a demanda cresceu em 2024 em mais de 5% para atingir 1,3 bilhão de toneladas — um nível que apenas a China atingiu anteriormente, segundo dados da AIE.

A Índia reduziu as importações de carvão, mas isso é apenas porque pretende aumentar a produção doméstica para obter mais carvão em casa. Com a expectativa de expansão da indústria e o aumento da demanda por energia, a Índia está pronta para usar mais de seu carvão doméstico de qualidade inferior para atender às suas necessidades de consumo.

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