terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

 

Jornalismo que incomoda empresários poderosos

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Clarissa da Agência Pública aliados@apublica.org Cancelar inscrição

10:16 (há 12 minutos)

para mim

Olá!

Aqui é Clarissa Levy, repórter e produtora de podcasts na Pública. Como vai?
 
Outro dia estava pensando nos vazios que o jornalismo dito tradicional deixa quando cobre alguns assuntos espinhosos. Volta e meia eu escuto pessoas comentando “ah, a mídia nunca falaria disso” ou “ninguém mexe nesse vespeiro”. Mas o que faz com que um assunto, mesmo gerando indignação ou curiosidade, seja visto como delicado demais para ser abordado pela mídia?

As razões são muitas, claro. Mas percebo que várias vezes o tal vespeiro intocado envolve alguma grande empresa. Em muitos casos, é uma denúncia que resvala em algum poder financeiro (e político) muito grande. E parte do nosso trabalho aqui na Pública é justamente tentar mexer nesses vespeiros. 

Foi o que aconteceu no caso da máquina oculta de propaganda do iFood. Ano passado, passei meses reunindo documentos e ouvindo pessoas para desvendar como funcionou uma mega operação de propaganda montada pela empresa para desmobilizar entregadores num período em que eles fizeram várias greves. 

Descobrimos que agências de publicidade contratadas pelo iFood criaram perfis falsos em redes sociais e passaram meses disseminando narrativas anti-greve para entregadores. As agências chegaram até a infiltrar um funcionário em uma manifestação. Tudo isso com objetivo de desviar o foco do movimento dos entregadores. A reportagem chocou muita gente e fez o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a CPI dos Aplicativos na Câmara Municipal de São Paulo investigarem o caso e cobrarem explicações da empresa. 

Antes disso tudo, quando ainda estávamos tentando checar a veracidade das denúncias, o que nos guiava (e dava segurança) era a certeza de que, se a história fosse realmente verdade, iríamos publicá-la. Doa a quem doer. 

Isso porque a Pública é um veículo que se construiu sobre uma base sólida de autonomia e independência. Não dependemos de anúncios e nem precisamos deixar histórias de lado para evitar ferir parcerias comerciais. Prestamos contas ao interesse público. São as leitoras e leitores que nos inspiram e ajudam a continuar trabalhando. 

Dois anos atrás, quando investigamos os relatos sobre abusos sexuais cometidos pelo fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, também recebemos desabafos do tipo "ninguém publica nada sobre isso, já contei meu caso anos atrás e não saiu nada no jornal". Ainda que várias das vítimas tenham tentado processá-lo e algumas tenham compartilhado seus relatos com jornalistas antes de nós, a história permaneceu escondida por décadas. 

Nós ouvimos essas pessoas. Investigamos. E publicamos que, por mais de três décadas, o fundador de uma das lojas mais conhecidas do país teria abusado de meninas e mulheres. Muitas vezes, praticando a violência dentro da sede da própria empresa. 

Não é o caso de divagar aqui por que outros veículos não publicaram as dezenas de casos de abuso cometidos pelo grande empresário (e anunciante). Você pode imaginar o porquê. O que posso contar é por que aqui na Pública enfim pudemos trazer à tona as denúncias contra Samuel Klein. 

Hoje, essas duas reportagens são finalistas do True Story Award, troféu internacional que premia trabalhos jornalísticos aprofundados e de relevância social. Esse reconhecimento e a repercussão que as reportagens tiveram mostram que mexer nos vespeiros é essencial e pode impactar a vida de muita gente. 

Conseguimos investigar a gigante do varejo e a gigante do delivery porque temos uma equipe com independência e tempo para ir a fundo. Também porque investimos em contratar advogados que nos protegem de represálias judiciais. Mas, sobretudo, porque temos leitores que acreditam na importância de nosso trabalho. E nos ajudam a manter a Pública ativa. 

Nosso trabalho incomoda alguns. Mas também nos mostra quanto podemos contar com o apoio de outros. É por causa da retaguarda dos nossos leitores que podemos seguir trabalhando. Com eles, formamos uma aliança de pessoas que confiam na Pública e doam todo mês para que sigamos fazendo jornalismo de interesse público. Então, aqui vai um pedido: se puder, vem fazer parte da nossa base de aliados. O valor que couber no seu bolso fará chegar ainda mais longe o jornalismo que não se intimida diante dos poderosos. 

 
APOIO O JORNALISMO QUE MEXE NOS VESPEIROS

Um abraço e obrigada, 

Clarissa Levy
Repórter e produtora de podcasts na Agência Pública

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