Peça 1 – a precariedade do momento
Há um tipo de análise política estática, baseada na correlação de forças do momento, superdimensionando a estatura das instituições e incapaz de estimar a dinâmica de crescimento do bolsonarismo.
Segundo essa visão, Bolsonaro late, mas não morde. É um anão perto do poder ciclópico das instituições brasileiras. Portanto, o único desafio é jogar no campo eleitoral e impedir sua reeleição em 2022.
É até curiosa essa aposta nas instituições.
STF – rachado e desmoralizado, obtendo maiorias precárias e pontuais em favor da obediência à Constituição. E atento ao primeiro sinal de clarim.
Congresso – consegue montar maiorias em reformas liberais e segurar alguns exageros de Bolsonaro.
Judiciário – infiltrado por bolsonaristas em todos os níveis. Hoje em dia é o porteiro da delegacia, sem obedecer a nenhum critério técnico.
Ministério Público – ao nomear um ultradireitista para representar o MPF na Comissão de Direitos Humanos, o Procurador Geral Augusto Aras matou qualquer esperança de redução de danos na condução da corporação.
Polícia Federal – sob controle dos delegados da Lava Jato de Curitiba, com histórico de manipulação de inquéritos e de retaliação contra críticos internos e externos.
Mídia – ainda tem grande influência no Judiciário e no meio empresarial. Hoje em dia, está empenhada em exaltar o crescimento do Pibinho, em esconder as manipulações de Paulo Guedes com o câmbio, em varrer para baixo do tapete o caso Marielle e as suspeitas contra a Lava Jato.
Bolsonarismo – consolidado na área empresarial, com ampla penetração nas classes C, B e A, com canais de transmissão nacionais – neopentecostais, milícias, Polícias Militares, clubes de tiros, caminhoneiros. O Partido 38 será o grande agente coordenador de uma violência hoje em dia difusa.

Peça 2 – o fator militar

E a grande incógnita, as Forças Armadas.
Na sua gestão, o general Villas Boas montou o vínculo que faltava entre a força e os carbonários da reserva – liderados pelos generais Hamilton Mourão e Augusto Heleno. Hoje em dia, o Alto Comando do Exército tem um comportamento profissional. Mas não há a menor segurança de que seja permanente.
O que aconteceria se espocassem as grandes manifestações populares, emulando o que ocorre nos países vizinhos? O que ocorrerá com a demonização de Lula, a insistência da mídia em situá-lo como radical de esquerda?
Há uma resistência histórica das Forças Armadas contra qualquer forma de organização popular. É um sentimento que remonta os anos 30, quando tem início a profissionalização do Exército e a criação das academias militares. Esse sentimento tornou-se arraigado com a Intentona Comunista. Depois, com a criação do PTB e do sindicalismo. E permanece vivo contra o PT.
Uma mera mudança de atitude do Alto Comando imediatamente desmontaria o equilíbrio precário das instituições. As Forças Armadas, especialmente o Exército, tendem a emular o sentimento da classe média e das corporações públicas. E o Alto Comando é sensível aos sentimentos da tropa. No limite, poderá endossar medidas autoritárias, inclusive para manter o controle hierárquico da tropa, em uma quadra da história em que todas as formas de hierarquia estão sendo questionadas.
Qual o limite em caso de manifestações populares, com os manifestantes sendo insuflados pelos P2? Ou de expectativa de volta do PT ao poder?
Tem-se um barril de gasolina a descoberto, que poderá fazer o Colosso de Rhodes, das nossas instituições, desmontar como um castelo de cartas. Como falar em solidez das instituições sem conhecer o comportamento do fator central?

Peça 3 – as alianças políticas

Justamente pelo que foi exposto acima, reduzir todas as disputas nacionais ao Congresso, como se ele fosse início e fecho de todas as transformações sociopolíticas do país é de um simplismo extremo.
Toda estratégia política tem que incluir, nas variáveis de analise, a perspectiva de caminhada persistente de Bolsonaro rumo a um regime fascista e os avanços que tem obtido.
No campo político, significa o seguinte:
  1. Acelerar as tratativas de formação de alianças, tanto na esquerda quanto no centro-democrático visando eleições e a resistência institucional.
  2. Iniciar a sério as conversas para um pacto entre esquerda e centro democrático. Enquanto a mídia não sentir firmeza nesse movimento, continuará com esse jogo de amuos sem consequência contra Bolsonaro.

Peça 4 – pacto e redução de danos

Peça central será a definição de um programa de governo tendo como ponto central a melhoria das condições de vida da população, a redução das desigualdades e a recuperação do crescimento econômico. É um discurso da esquerda e que já vem sendo ensaiado pelo centro-direita racional. Os temas programáticos mais polêmicos deverão ser deixados para um segundo momento.
O pacto será um processo de redução de danos, visando impedir a deterioração ainda maior das políticas públicas, o avanço do arbítrio, o desmonte de instituições estratégicas.
A direita liberal tem que aceitar que desmonte social é caminho certo para o populismo de direita anti-globalização, anti-direitos humanos e anti-meio ambiente. E parar com esse devaneio de que será possível um pacto sem o maior dos partidos de oposição, o PT.
O PT tem que adiar os sonhos de pretender retomar o projeto social no lugar em que parou com o impeachment. E parar com esse sonho de que, por ser o maior partido de esquerda,  deve preservar sua hegemonia em todos os níveis.

A crise atual, com os ogros saindo da jaula e invadindo todos os poros da vida nacional, com milícias e neopentecostais assumindo a interlocução com periferias, com tribos de jovens sem espaço para atuação política mais aprofundada, exigirá uma profunda reflexão da sociedade brasileira – especialmente dos partidos políticos.
A inação da população, apoiando ou não reagindo ante a perda de direitos duramente conquistados, é a demonstração mais eloquente de que a vida política dissociou-se totalmente das expectativas do cidadão médio e o de periferia.
A recuperação dos partidos políticos, como agentes principais da organização política, dependerá fundamentalmente de sua democratização, da renovação, da abertura das portas para a jovem militância, para o acolhimento das minorias – como protagonistas principais das suas políticas públicas e não como meros apêndices.

Peça 5 – os interlocutores do pacto

Do impeachment para cá houve um enorme retrocesso econômico, político e social. Muitos setores envolvidos no impeachment, como autores e como vítimas, estão em processo de autocrítica interno e exigindo autocrítica pública dos adversários.  Melhor deixar essa hipocrisia de lado. Todo mundo sabe o que todo mundo fez no verão passado.
A melhor autocrítica é assumir a defesa intransigente da democracia e abraçar o pacto político com desprendimento.
Um dos problemas sérios é a falta de interlocutores representativos do centro democrático. Caberá ao arco da esquerda acelerar esse processo, identificando no centro-direita interlocutores confiáveis para as primeiras tratativas.
Essas reavaliações, avivadas pela tragédia Bolsonaro, ajudam a identificar alguns pontos em comum, em condições de serem endossados por um pacto mais abrangente:
  1. A defesa da democracia e dos direitos individuais.
  2. O combate à extrema miséria.
  3. A recuperação da racionalidade econômica.
  4. O enquadramento das corporações públicas.
  5. O combate a toda forma de extremismo.
  6. A recuperação dos sistemas de ciência, tecnologia, cultura.
O objetivo final do pacto será restaurar a democracia, as regras do jogo. E, em um segundo momento, recuperar a disputa das últimas décadas, entre centro-esquerda e centro-direita.

Peça 6 – o desafio de passar o pano

O primeiro teste do pacto serão as próximas eleições municipais. É crucial que as forças antibolsonaristas conquistem grandes capitais, reforçando o extraordinário consórcio de governadores do Nordeste.
Um grande teste é a proposta de uma dobradinha Fernando Haddad-Marta Suplicy para a prefeitura de São Paulo, Martha entrando pelo PDT.
Olha a encrenca:
  1. Martha foi uma prefeita progressista muito bem sucedida, com ampla penetração na periferia – território abandonado politicamente por Haddad, embora preservado administrativamente.
  2. Será fundamental para garantir a vitória de Haddad, seja atraindo o voto de periferia, seja reduzindo o enorme antipetismo das classes A e B.
  3. Há total compatibilidade entre suas ideias e os projetos sociais de Haddad e do PT.
Por outro lado:
  1. Foi defensora intransigente do impeachment e do governo Temer.
  2. Presenteou Janaina Paschoal com um buquê de flores em plena sessão do Senado.
  3. Votou até contra a PEC que proibia mulher grávida de trabalhar em ambiente insalubre.
  4. Tem ampla resistência de todos os que se empenharam em impedir o impeachment.
Da capacidade ou incapacidade do PT resolver esse dilema dependerá em muito o futuro da grande aliança. Sabendo-se que, do outro lado do muro, tem os Bolsonaros, Dórias e Witzel.

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Os golpistas nao abrem mao da agenda antissocial baseada em privatizações e extinção de direitos, Nassif. FOI POR ISSO QUE SE ASSOCIARAM AO GOLPE, Nassif. Os "liberais" jamais deram uma palavra pelos DHs, Nassif. Que "hegemonia" do PT, PT, PT, é essa, Nassif? O Partido jamais teve sequer 1/6 do Parlamento, e sempre apanhou da mídia inteira! Que "negociação" é essa cuja precondiçao é o "forfait" da outra parte? É um TREMENDO erro de avaliaçao, Nassif, achar que esse pessoal, que você e tantos outros insistem em chamar de "centro", não estejam enxergando a movimentação fascista. Não é. Simplesmente "é o que tem" contra o PT, PT, PT. O PACTO já foi feito lá atrás. E foi-se embora a Nova Republica... O que voce está suplicando, de modo até aflito, é a QUEBRA do pacto da direita. Estranhanente, procurando uma maneira de responsabilizar o Partido dos Trabalhadores por isso...
-> O que aconteceria se espocassem as grandes manifestações populares, emulando o que ocorre nos países vizinhos? -> Qual o limite em caso de manifestações populares, com os manifestantes sendo insuflados pelos P2? o emprego das FFAA como tropa de repressão interna tem um limite bastante perigoso para a classe dominante: o movimento de massas. uma coisa é uma patrulha do Exército brasileiro disparar mais de 80 tiros contra uma família de inocentes dentro de um carro, outra bem diferente é o massacre de centenas de pessoas numa grande manifestação de massa. foi assim durante El Caracazo em 1989, marco zero do Momento Chávez na Venezuela. até mesmo quando Piñera declara guerra ao povo chileno, o general encarregado do estado de emergência em Santiago contrapôs: "Sou um homem feliz, não estou em guerra com ninguém". o principal instrumento de repressão interna sempre foi a polícia militarizada e as milícias para-militares formadas principalmente por policiais - embora comandadas por oficiais das FFAA. não é por outro motivo que a ditadura instalada na Bolívia acaba de criar o seu GAT (Grupo Anti Terrorismo), formados por policiais e com todas as características de um esquadrão da morte. quem há poucos meses atrás apostaria num movimento de massas no Chile e na Colômbia? no Chile em 30 dias o movimento autônomo de massas conquistou aquilo que a frente ampla da Concertación não logrou em 30 anos: instaurar um processo constituinte. e Paro colombiano já obriga Iván Duque a negociar com as massas em movimento. o que faz o povo ocupar massivamente as ruas? qual o fator desencadeante? seja como for, sempre a ponta de lança do movimento é a juventude. a mesma juventude que é executada pela polícia assassina de um Estado terrorista, como no bárbaro crime de Paraisópolis. chega um momento em que esta juventude explode: "Foda-se!" -> A direita liberal tem que aceitar que desmonte social é caminho certo para o populismo de direita anti-globalização, anti-direitos humanos e anti-meio ambiente. -> E, em um segundo momento, recuperar a disputa das últimas décadas, entre centro-esquerda e centro-direita. -> Um grande teste é a proposta de uma dobradinha Fernando Haddad-Marta Suplicy para a prefeitura de São Paulo, Martha entrando pelo PDT. atrás de cada PM assassino existe um governador genocida. atrás de cada governador genocida existe um Estado terrorista. e atrás de cada Estado terrorista existe uma classe dominante genocida. a História tem uma dimensão trágica que nos apavora a todos (sem qualquer modéstia estou me incluindo): nossas circunstâncias estão completamente fora de nossa alçada. no Chile, as pessoas se dão conta disto: "Se ficamos em casa nos matam, se saímos às ruas nos matam também. Então é melhor que saiamos." agimos como se estivéssemos numa encruzilhada, mas já não há nenhuma escolha a ser feita. a opção se deu muito tempo atrás. nada vai nos levar de volta. aquele mundo está extinto. por mais que supliquemos, a vida não permitirá nenhum retorno. mas para aqueles que compreendem estarem vivendo os últimos dias de um mundo, a morte adquire um sentido diferente. esta compreensão é uma força que nenhuma resignação pode conter. e neste desespero, que é transcendente, se acha uma antiga sabedoria. de que a pedra filosofal sempre poderá ser encontrada, apesar de escondida enterrada na lama. isto até pode parecer algo trivial, em face da aniquilação. até que a aniquilação acontece. então, todos os grandes planos e os grandes projetos enfim são expostos tal como são. vídeo: The counselor https://www.youtube.com/watch?v=X89AXNO6TBw .
O passado nos espera "Guerra é paz", " Liberdade é escravidão", "Ignorância é força", esses são lemas do governo no livro "1984", escrito por George Orwell em 1949. A história se passa em um universo distópico em que um partido único controla todos os cidadãos através do monitoramento sistemático e da repressão. O governo é dividido em ministérios criados para manter o regime, o Ministério da Verdade é responsável pelas falsificações de documentos e registros históricos, o Ministério da Paz pela guerra e o Ministério do Amor é o que faz a repressão à população. Olhando o Brasil de 2019 parece que estamos sendo governados por um ajuntamento de figuras dignas de uma criação Orwelliana. Temos um ministro das relações exteriores que se auto denomina antiglobalista, conclama Donald Trump como a salvação do mundo ocidental e reconhece o governo de um presidente auto-proclamado. O ministro do Meio Ambiente foi condenado por improbidade administrativa sob a acusação de falsificar mapas para favorecer mineração em áreas de proteção ambiental. O ministro da Educação destila, diariamente, sua falta de educação no Twitter, com frases cobertas de erros de português e ataques às universidades federais. Em resposta a um dos maiores desatres ambientais ocorridos no litoral brasileiro, o secretário da pesca afirmou que não havia risco de contaminação dos cardumes pois peixe é um bicho inteligente e foge da mancha de óleo. O Ministro da Justiça, que ganhou o emprego ao prender o principal adversário do seu chefe na corrida presidencial, ora faz as vezes de vigário, perdoando crimes de aliados que tenham se arrependido verdadeiramente, ora a de advogado da família do patrão impedindo as investigações de rachadinhas e assassinato. Na Fundação Palmares, um negro que é contra movimento negro defende que a escravidão chegou a ser benéfica aos descendentes, visão que não deve ser compartilhada pela maioria negra e pobre que ainda vive os reflexos da escravidão e do racismo estrutural brasileiro. Da Funarte partem ataques aos artistas, do Ministério de Direitos humanos sinais de que direitos humanos são só para homens direitos, seja lá o que isso signifique. Tudo ocorrendo sob o comando de um presidente que foi deputado por 7 mandatos sem ser político; que é um cristão defensor da tortura e da pena de morte; que se elegeu fazendo uso extensivo de fakenews e vive repetindo que "a verdade vos libertará"; que lança o nome de seu filho para se tornar embaixador sem fazer nepotismo; que ataca a imprensa, as mulheres, os gays, a justiça, o legislativo, os aliados, a oposição, os movimentos sociais, o próprio partido, o presidente da França, a mulher do presidente da França, o Leonardo de DiCaprio... Depois de ter prometido unir o país. No livro 1984, o Ministério da Verdade desenvolveu o duplipensar, que corresponde a um conceito segundo o qual é possível ao indivíduo conviver, ao mesmo tempo, com duas crenças diametralmente opostas e aceitar ambas. Só assim podemos entender esse governo desgovernado que atenta contra as garantias que o levaram ao poder, guiado pela ideologia de um ex-astrólogo, ex-islâmico e atual filósofo auto-diplomado e eterno charlatão enrustido. Nos habituamos ao duplipensar, nos acostumamos a um governo que junta astronauta e terraplanistas, que quer uma polícia assassina, que abriga milicianos cristãos, que levou uma horda de ignorantes ao poder e a um presidente que bate continência para a bandeira de outro país enquanto repete "Brasil acima de tudo". Nada mais nos choca, perdemos a capacidade de nos indignar e permanecemos na inércia enquanto somos levados rumo à Idade Média, com uma breve parada em 1984.
— Victor