A ousadia de um torturador, por Francisco Celso Calmon
Aos
torturadores cabe o arrependimento e o pedido de perdão às suas vítimas e
à nação brasileira. Esta é a única atitude digna que lhes resta.
A ousadia de um torturador
por Francisco Celso Calmon
O ex-prisioneiro político, jornalista Aluízio Palmar, e o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu, estão sendo processados pelo ex-tenente, advogado Mario Espedito Ostrovsk, no Juizado Especial Civil de Foz do Iguaçu, datado de 25/09/2019.Seis anos antes, em 28 de junho de 2013, o CDHMP realizou um protesto, na forma de escracho, em frente ao edifício, no qual o ex-agente da ditadura tem escritório.
O autor, autointitulado nos autos como de ilibada reputação, requer indenização por danos morais, no valor de R$ 39.920,00 (trinta e novel mil, novecentos e vinte reais). E se disse motivado à ação porque a sua neta de 15 anos lhe cobrou explicações sobre essas denúncias narradas pelo Centro de DH e Memória Popular.
A reputação do autor está em desonra desde 1985, quando veio a público o relatório do projeto BNM, promovido pelo Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, pelo Rabino Henry Sobel e pelo Pastor presbiteriano Jaime Wright.
Nesse relatório consta um dos casos dos mais perversos de tortura da ditadura militar sobre a jovem professora da escola rural no interior do Paraná, Isabel Fávero.
Seu depoimento está hospedado choca qualquer cidadão com um mísero de dignidade e humanidade.
Ainda nesse mesmo ano de 1985 O jornal Correio de Notícias, de Curitiba, publicou na capa, notícia que o governador José Richa, o exonerou da chefia da Assessoria de Segurança e Informações da Copel, devido as denúncias de torturas cometidas pelo ex-militar.
Nesse mesmo ano de 1985, portanto há 34 anos, o companheiro Aluízio publicou o livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, no qual já denunciava as barbaridades da ditadura, incluindo as desse ex-tenente da seção de informações do Exército.
Em 2013, na audiência pública perante à Comissão Nacional da Verdade – CNV – e da Comissão estadual, prestaram depoimentos Aluízio Palmar, Ana Beatriz Fortes, Alberto Fávero e Isabel Fávero, nos quais constam as terríveis sevícias que sofreram.
Essas denúncias aparecem também em “Notícias das torturas no Batalhão do Exército em Foz do Iguaçu, no site da Secretaria de Estado da Justiça – Paraná; Portal G1; Portal H2Foz.
Por duas vezes fugiu, desrespeitou uma Comissão com poderes do Estado brasileiro, e agora que passar de algoz em vítima.
Ele carrega a morte de um feto, impediu o nascimento de uma criança, além de atrozes torturas à mãe e o pai, prisioneiros, e sob ameaça de jogá-los do avião nas cataratas do Iguaçu, sob as mortalhas produzidas pelo AI5.
As vítimas da ditadura têm filhos e netos como os seus algozes. Uns sentem e sentirão orgulho de seus país e avós, outros sentirão vergonha. É parte de uma história não resolvida!
Aos torturadores cabe o arrependimento e o pedido de perdão às suas vítimas e à nação brasileira. Esta é a única atitude digna que lhes resta. É dessa forma que poderão obter a compreensão de gerações descendentes e fitar no mesmo plano seus inocentes parentes.
Nos autos, a parte Autora requer a realização da audiência de conciliação. Mas não há de se cogitar sequer de conciliação com torturadores. A tortura é crime hediondo, de lesa-humanidade, imprescritível e sem perdão. Há, sim, que processá-lo pelas graves violações aos Direitos Humanos e por essa crápula ousadia.
Durante a ditadura de 64 eram prepotentes pela força das armas e poder do Estado, na democracia viraram covardes fujões, no presente, sob a égide de um Estado Policial bolsonarista, de natureza nazifascista, mantido por milicianos, militares e togas deformadas, que estimula o ódio, a belicosidade e a arrogância de pronunciar um novo AI5, estão novamente se portando como tiranos.
O FMV-ES, integrante da RBMVJ, indignado com a ousadia desse torturador e solidário com o companheiro Aluízio Palmar e com a luta do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz de Iguaçu, afirma em letras másculas: A DITADURA MILITAR NÃO NOS CALOU E NENHUMA OUTRA TIRANIA NOS CALARÁ.
Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017).
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