quinta-feira, 3 de maio de 2018

MST: começa a 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária

"Se fosse uma feira do agronegócio, não haveria mais do que 5 produtos"
publicado 03/05/2018
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Feira é a prova de que a produção do MST resiste à paralisação do processo de desapropriação de terras (Reprodução/MST)

“Arrisco a dizer que esta é a maior feira do Brasil do ponto de vista da diversidade”, afirmou João Paulo Rodrigues, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sobre a terceira edição da Feira Nacional da Reforma Agrária.
O evento começou nesta quinta-feira (3) e ocorre nos próximos quatro dias, até o domingo (6), no Parque da Água Branca, zona oeste da capital paulista. Na feira, serão comercializados mais de 1,2 mil itens produzidos nos 23 estados e Distrito Federal onde o movimento está organizado.
“Se fosse uma feira do agronegócio, duvido que haveria mais do que cinco produtos: soja, cana de açúcar, papel, boi… Sem falar da quantidade: 330 toneladas de produtos é um número que, por si só, fala sobre a reforma agrária”, disse Rodrigues em coletiva de imprensa.
O coordenador do MST pontuou que a feira ocorre em um contexto de conturbada crise política no país e de uma crescente onda de ódio. Por isso, a estratégia é desconstruir a imagem que a população tem do movimento. "Queremos dialogar com a sociedade a partir da produção. A principal tarefa da reforma agrária hoje é a produção de alimentos saudáveis. Isso é uma mudança radical", afirmou.
Rodrigues pontuou que a feira é uma amostra de que MST permanece produzindo no campo, ainda que o cenário seja de paralisação do processo de desapropriação de terras no país.
"Entramos no segundo ano sem uma família assentada no país. Possivelmente, vamos terminar esse ano com pequenas áreas de assentamento, locais que há dois anos já estavam homologadas. É um ano que não temos nada a comemorar do ponto de vista da reforma agrária", denunciou.
Ele também lembrou do aumento da violência do campo. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os assassinatos por conflitos de terras no país cresceram 105% desde 2013. "Quanto menos famílias se assentam, mais pessoas são assassinadas no campo", declarou Rodrigues.
Programação
Débora Nunes, que também integra a coordenação nacional do MST, reiterou a importância da feira para desmistificar o movimento. "Não é mudar a imagem do movimento, mas estreitar o diálogo com a sociedade. É importante que a sociedade enxergue os objetivos do MST", ponderou.
Para além da comercialização de produtos, Nunes também pontuou o aspecto cultural e de formação do evento. "Nossa feira traz as diversas dimensões da vida e do cotidiano dos sem-terra, para que a sociedade possa conhecer a dinâmica da vida camponesa", afirmou a dirigente.
O evento traz na programação shows de artistas como Martinho da Vila, Otto e Ana Cañas, e seminários sobre a agroecologia e o genocídio negro.
No sábado (5), a presença de artistas e políticos é esperada no evento, como os pré-candidatos à Presidência da República, Manuela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT).
Dados
No Brasil, existem mais de 1,1 milhão de famílias assentadas  — sendo que 400 mil delas integram o MST, de acordo com o movimento. A organização popular está presente em 1.226 municípios e cultiva cerca de 8 milhões de hectares de terra por todo o país. 
Você pode conferir a programação completa da 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária aqui.

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