quarta-feira, 30 de maio de 2018

AS INCELENÇAS

As Incelenças, também denominadas Incelências (em língua portuguesa: Excelência, por corruptela), Cantigas de GuardaCantigas de Sentinela ou Benditos de defuntos constituem uma forma de expressão musical típica de localidades do Ceará, Sertão Nordestino, cidades do Vale do Paraíba e, em escala maior, em outras regiões do Brasil.[2] O termo Incelença remete a uma ampla coletânea de pequenos cânticos executados especialmente em virtude de falecimentos. De forma similar, podem ser também executados sob a cabeceira dos enfermos terminais, substituindo a extrema unção na ausência de sacerdote e apressando-lhes a morte, diminuindo-se-lhes, então, o sofrimento.[1] Neste âmbito, credita-se às Incelenças a propriedade de despertar nos agonizantes o remorso sobre os pecados, incitando-os ao arrependimento.[3] Não obstante associadas, no mais das vezes, aos ritos mortuários, há registros de sua utilização em meio a preces contra males infecciosos, inundações ou mesmo para amenizar as duras estiagens que castigam a região do semi-árido.[2] Em outras acepções, porém, a utilização destas cantigas fora dos contextos estritamente fúnebres é considerada um agouro de morte.[4]
Marcadas pela perpetuação de sua oralidade (estendendo-se de pai para filho e de benzedores para jovens através da memória), as Incelenças apresentam uma estrutura rítmica bastante simples e compõem-se sempre de doze estrofes - o número dos apóstolos de Cristo[5] -, idênticas à primeira exceto pela marcação numeral no início de cada uma. A execução de tais cantigas é feita sem acompanhamento instrumental, sendo, geralmente, iniciada por uma ou mais vozes femininas, que cantam os primeiros versos de cada estrofe e às quais se segue um coro em uníssono, entoando os demais.[6] Outras vezes, embora mais raramente, podem ser rezadas, cantadas em solo, uníssono ou coro.[7] Seja como for, acredita-se que uma vez iniciada a execução das incelenças não podem ser interrompidas, nem mudados seus executantes, sob pena de a alma do falecido não alcançar a salvação.
Embora tenham sido, no passado, parte integrante da generalidade dos velórios sertanejos, a severa repressão policial,[6] em parceria com o descaso das autoridades católicas, tornou a utilização das Incelenças restrita às zonas rurais mais isoladas e distantes das grandes aglomerações urbanas.[6] Atualmente, entretanto, medidas pontuais vêm sendo tomadas para reavivar a tradição das Incelenças em certos contextos[8]

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