Delegado liga corrupção de Aécio à Polícia Civil de Minas!
DCM mergulha no porão do Mineirinho, Serra e Alckmin
publicado
22/01/2018

O Conversa Afiada reproduz reportagem de Joaquim de Carvalho no DCM:
Documentos originais de uma investigação
que envolve o delator da lista de Furnas e do mensalão mineiro, Nílton
Monteiro, foram encontrados no escritório do advogado Joaquim Engler
Filho, personagem do submundo do poder construído durante os anos de
Eduardo Azeredo no governo do Estado e, mais tarde, consolidado com
Aécio Neves. Os autos da investigação, denominada VPI, estavam
desaparecidos havia quatro anos. Foram encontrados no cumprimento de um
mandado de busca e apreensão determinado há pouco tempo pela Justiça, em
um inquérito que se revela explosivo.
O delegado Rodrigo Bossi de Pinho, chefe
do Departamento Estadual de Investigações sobre Fraudes, é quem conduz
esse inquérito. Em uma certidão assinada no dia 19 de janeiro (ler ao final da reportagem),
em que relata a apreensão dos autos no escritório do advogado, ele diz
que esse trabalho tem por objetivo apurar “a existência de uma
organização criminosa que se utilizou do sistema judiciário mineiro para
encobrir denúncias de corrupção ocorridas no Governo do Estado de Minas
Gerais anteriormente”.
O delegado diz que essa organização
contava com apoio de policiais civis. “Em tese, (a organização)
utilizava-se de ardis, tais quais subtração de autos processuais e de
peças processuais, falsas perícias e documentos, além de falsos
testemunhos”, escreveu. Para identificar os criminosos, o delegado
separou a investigação por temas. Os autos desaparecidos fazem parte do
capítulo sobre a chamada Lista de Valério.
Essa lista, com assinatura do
publicitário Marcos Valério, relaciona políticos e outras autoridades,
incluindo juízes (alguns das cortes superiores), que receberam recursos
do caixa 2 administrado por ele durante os anos de Eduardo Azeredo no
poder (janeiro de 1995 a janeiro de 1999).
Quando veio à tona, a lista foi
desmentida, inclusive pelo seu suposto autor, Marcos Valério. Agora as
coisas mudaram e, sigilosamente, até Valério, que está preso por conta
do mensalão de Brasília (também chamado mensalão do PT), tem colaborado
com as investigações.
Rodrigo Bossi de Pinheiro é um policial
discreto, que evita dar entrevista, mas, como revela na certidão
emitida, já deu alguns passos na direção de desmascarar a quadrilha.
Nílton Monteiro, o delator dos maiores
esquemas de corrupção em Minas Gerais, também colabora com a polícia e é
peça-chave no inquérito.
Por conta de suas denúncias, ele já foi
alvo de atentados, com incêndio do carro na garagem de sua casa, que
feriu um parente seu. Ele continua recebendo ameaças, mas não desistiu.
Monteiro era um operador dos esquemas de caixa 2 mantidos por um antigo deputado mineiro, o milionário Sérgio Naya, já falecido.
Monteiro se deu bem no submundo da
corrupção até ser passado para trás numa negociação milionária de venda
de créditos de ICMS da mineradoras Samarco para a empresa de energia do
Espírito Santo, a Escelsa. Quando isso aconteceu, Naya, seu padrinho e chefe, já tinha perdido o poder.
Nílton passou então a denunciar aqueles que o haviam passado para trás — derrubou o esquema de poder no Espírito Santo,
tucano, entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000. Depois, foi
para cima dos mensaleiros do esquema do PSDB em Minas, e implodiu o
esquema de Aécio Neves e Dimas Toledo em Furnas.
Nílton sempre apresentou munição pesada
enquanto soltava a língua — como recibos de depósitos, contratos de
mútuo, notas promissórias, fotografias e as famosas listas.
Por que listas com contabilidade de propina? Porque este é o instrumento mais poderoso de chantagem.
No caso de Dimas Toledo, em Furnas, a
lista foi enviada aos recebedores de dinheiro desviado da estatal,
desviados e entregues por orientação de Aécio Neves (Bolsonaro está na
lista, mas ali é um peixe menor, os graúdos são Serra e Alckmin).
A lista de Valério teria tido a mesma
finalidade, mas ficou no meio do caminho, e foi desacreditada quando
Valério a desmentiu, mas, ao que começa a se revelar agora, a assinatura
da lista é autêntica, e Valério já se mostrou disposto a contar como e
por que o dinheiro foi entregue.
Nílton Monteiro ficou com boa parte dos
documentos que Naya guardava para cobrar os políticos e outras
autoridades a quem corrompia. Algumas notas promissórias originais que
estavam em poder de Nílton, com débitos milionários de grã-finos que
bebiam da fonte de Naya, foram apreendidas pela Polícia Civil no governo
de Aécio Neves/Antonio Anastasia, e desapareceram.
Esta é a origem da investigação
preliminar cujos autos foram encontrados agora no escritório do advogado
Joaquim Engler, Nessa investigação, Monteiro tinha denunciado o homem
forte da Polícia Civil no governo tucano, Márcio Nabak, pelo sumiço das
promissórias.
Engler não é um nome menor no esquema de
corrupção. Era amigo de Nabal, detentor de sua confiança. Tanto que
levou inquérito original para seu escritório.
Ender também foi advogado de Nílton
Monteiro e, ao que tudo indica, operaram juntos. Quando os créditos da
Samarco foram vendidos para a empresa de energia capixaba Escelsa,
Engler teria se associado a outra quadrilha de golpistas, para ficar com
uma comissão de 61 milhões de reais, pagas recentemente mediante
autorização de um juiz.
Nílton Monteiro ficou a ver navios.
A Samarco é uma empresa que já teve
controle da Vale, que ainda tem participação lá. E a Vale sempre foi um
feudo político dos poderosos de Minas Gerais — lembre-se da conversa de
Aécio Neves com Joesley Batista, em que ele ofereceu uma diretoria da
empresa ao dono da J&F.
Com ajuda do delator Nílton e a
colaboração de Marcos Valério, o delegado Rodrigo parece ter puxado o
fio do novelo. Se não tirarem sua mão desse inquérito, o delegado pode
ir longe e revelar os esquemas de poder efetivo em Minas Gerais, o
estado que é a síntese do Brasil.
.x.x.x.PS: o que os documentos da Polícia Civil estavam fazendo no escritório do advogado? Engler disse que recebeu em confiança, mas não conseguiu devolver, porque nunca encontrou Nabak na delegacia nas vezes em que esteve lá para devolver. Com isso, a denúncia de que Nabak fez desaparecer as promissórias nunca foi investigada a sério.
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