sexta-feira, 3 de outubro de 2014

EDUCAÇÃO DO CAMPO

1.3 A qualidade do ensino
Outra questão crucial é o fraco desempenho escolar na educação básica
contribuindo para o aumento do abandono e da evasão. Alguns especialistas
defendem o argumento de que o desempenho escolar é o resultado de dois fatores:
o capital sociocultural e a qualidade da oferta. Diante da precariedade do capital
sociocultural, decorrente do desamparo histórico a que a população do campo
vem sendo submetida, e que se reflete nos altos índices de analfabetismo, a
oferta de um ensino de qualidade se transforma numa das ações prioritárias para
o resgate social dessa população. A educação, isoladamente, pode não resolver os
problemas do campo e da sociedade, mas é um dos caminhos para a promoção da
inclusão social e do desenvolvimento sustentável.
A situação da educação básica na zona rural pode ser analisada a partir da
taxa de distorção idade-série, que indica o rumo do nível de desempenho escolar
e da capacidade do sistema educacional manter a freqüência do aluno em sala de
aula. Se a falta de sincronismo idade-série é um problema ainda a ser superado
nas escolas urbanas, o quadro na zona rural se mostra ainda mais grave. As séries
iniciais do ensino fundamental apresentam uma elevada distorção idade-série
com cerca de 50% dos seus alunos com idade superior a adequada. Esta questão
se reflete nas demais séries, fazendo que esses alunos cheguem às séries
finais do ensino fundamental com uma defasagem ainda maior, de 64,3%. No
ensino médio a inadequação idade-séria atinge 65,1% dos alunos (Gráfico 5).
Gráfico 5 – Taxa de distorção idade-série por nível de ensino
e localização – Brasil – 2002
Fonte: MEC/Inep
A Educação no Brasil Rural
22
A distorção idade-série apresenta grandes diferenças entre as regiões do
País, com destaque para o Norte e Nordeste, que chegam a atingir taxas de
distorção de 58,8% e 54,0%, respectivamente, para as séries iniciais do ensino
fundamental, e de 75,8% e 77,0% no ensino médio. A Região Sul apresenta taxas
de distorção idade-série de 16,9% para as séries iniciais do ensino fundamental e
de 36,6% para o ensino médio (Tabela 8). Esses dados revelam um cenário discrepante
entre as regiões no que concerne a esses indicadores.
Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural
Brasil 23,5 48,9 43,0 64,3 50,9 65,1
Norte 35,8 58,8 56,7 72,1 70,4 75,8
Nordeste 38,8 54,0 63,8 75,2 67,5 77,0
Sudeste 13,6 29,0 29,6 46,4 42,0 50,2
Sul 12,8 16,9 27,3 32,6 35,1 36,6
Centro-Oeste 22,4 34,7 46,9 56,4 52,4 59,7
Taxa de distorção idade-série
Regiões
geográficas
Ensino médio
Ensino fundamental
1ª a 4ª série 5ª a 8ª série
Tendo por base agora os dados do Saeb sobre desempenho escolar, reforça-
se a desigualdade entre a educação do campo e da cidade. A proficiência
média dos alunos da 4ª e 8ª série do ensino fundamental nas disciplinas de Língua
Portuguesa e Matemática é inferior ao da área urbana em torno de 20% (Tabela
9). A análise desses dados deve ser problematizada. Nesse sentido, Cano (2003)
analisando dados dos Estados de Minas Gerais e Paraná constata esse mesmo
desnível no desempenho dos alunos de áreas rurais. No entanto, observando os
fatores associados ao menor desempenho dos alunos da zona rural, verifica que
está associado às condições socioeconômicas e capital social mais desfavoráveis
destas populações. Quando essas condições são controladas (igualadas ao grupo
urbano), o desempenho dos alunos rurais é igual ou até ligeiramente superior ao
do grupo de alunos da área urbana.
Tabela 8 – Taxa de distorção idade-série por nível de ensino e localização
Brasil e grandes regiões – 2002
Fonte: MEC/Inep
Tabela 9 – Proficiência em Língua Portuguesa e Matemática na 4ª e 8ª séries
do ensino fundamental, por localização – Brasil – Saeb/2001
Fonte: MEC/

Nenhum comentário:

Postar um comentário