domingo, 9 de junho de 2013

PAI DE OITO FILHOS, ÍNDIO BALEADO PODE FICAR PARAPLÉGICO

Pai de oito filhos, índio baleado pode ficar paraplégico
Publicidade
 
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE
Baleado nas costas na terça-feira, o índio terena Josiel Gabriel Alves, 34, corre o risco de ficar paraplégico e continua internado na Santa Casa de Campo Grande. Ontem, sua família decidiu aceitar a oferta do governo federal para transferi-lo a Brasília.
"O médico disse que a chance é muito pouca de ele andar", explica o pai, o trabalhador braçal Saturnino Gabriel, 59, um dos familiares que se revezam na vigília diante do hospital -eles dormem sob a marquise da entrada.
A Santa Casa disse ontem que poderia realizar a cirurgia para retirar a bala, alojada próxima da medula espinhal. Os pais chegaram a concordar, mas, em reunião à tarde entre 28 familiares na grama do hospital, foram convencidos a aceitar a trasladá-lo.
"A única coisa que eu quero é ver meu filho andar", disse, chorando, a mãe, Abadia.
Defensor do traslado a Brasília, o líder Alberto Terena disse que o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) se comprometeu, durante reunião na quinta-feira, a dar toda assistência médica necessária.
Morador da terra indígena Buriti, em Sidrolândia (70 km de Campo Grande), Josiel é o mais velho de sete irmãos e trabalha na Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde. Estudou até a 7ª série e tem oito filhos.
Ele foi baleado quando andava de moto com outros indígenas em uma fazenda reivindicada pelos índios. Segundo seus companheiros, o disparo veio de uma caminhonete prata de cabine dupla.
O incidente ocorreu apenas cinco dias depois de o seu primo Oziel Gabriel ter sido morto durante confronto com policiais que cumpriam um mandado de reintegração de posse da fazenda Buriti, do ex-deputado estadual Ricardo Bacha (PSDB).
Até ontem de manhã, ninguém havia sido preso por causa dos episódios.
Desconfiados, os familiares não quiseram ser fotografados e só falaram com a Folha após consultar o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Eles haviam decidido não dar mais entrevistas depois que uma equipe de TV filmou Josiel numa maca de hospital e tentou entrevistá-lo no mesmo dia em que foi baleado, sem a autorização da família.
Marlene Bergamo/Folhapress
Indígenas e sem-terra durante protesto anteontemem Campo Grande pela ocupação das terras por índios terenas
Indígenas e sem-terra durante protesto anteontemem Campo Grande pela ocupação das terras por índios terenas

GOVERNO
Estudante de administração na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), a índia Célia diz que a situação piorou no governo de Dilma Rousseff, ao lembrar que foram policiais federais que comandaram a ação que resultou na morte do primo.
Com relação ao governador André Puccinelli (PMDB), ela diz que as cestas básicas só são distribuídas a cada quatro meses e são de má qualidade. No governo anterior, de Zeca do PT, a distribuição era mensal e com bons produtos, afirma. "Mas a gente não precisa de cesta básica, a gente quer a terra."
Os cerca de 5.000 terenas de Sidrolândia ocupam 2.090 hectares, mas reivindicam uma área de cerca de 17 mil hectares. Nas últimas semanas, quatro fazendas foram tomadas, aumentando a tensão entre índios e fazendeiros.
A crise levou o governo federal a enviar 110 membros da Força Nacional de Segurança à região. Com a desocupação suspensa, a principal missão é criar um cordão de isolamento entre indígenas e fazendeiros.
Na quinta-feira, o governo criou um fórum para discutir o conflito com participação de índios, fazendeiros, integrantes do governo, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e do Conselho Nacional do Ministério Público.

Nenhum comentário:

Postar um comentário