No último dia 13, a FPA levou suas queixas ao Mapa. “Estão atribuindo ao setor emissões que não são de sua responsabilidade e impondo metas desproporcionais, enquanto deixam de contabilizar o que preservamos e sequestramos de carbono”, afirmou o vice-presidente da FPA, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), após participar de audiência com o ministro Carlos Fávaro.
Jardim, repetindo um argumento bastante usado pela bancada ruralista para todo tipo de regulação que tenta se impor ao setor, disse que o Plano Clima “concentra a maior carga de obrigações justamente sobre quem já preserva e produz com responsabilidade, adotando uma abordagem punitiva ao agro”.
A FPA também elaborou uma cartilha listando o que eles chamam de “narrativas” do Plano Clima. No documento, a frente parlamentar pede reformulação da proposta em alguns aspectos, como ter um plano setorial específico para tratar de emissões de gases de efeito estufa relacionados a desmatamento e que sejam incluídas as remoções de gases ocorridas em propriedades rurais privadas.
E ainda afirma: “Outro ponto crítico, que precisa estar claro desde o início, é que a soma das emissões atribuídas ao setor agropecuário inclui, em grande parte, áreas fora de sua responsabilidade, como assentamentos rurais, glebas públicas não destinadas, unidades de conservação, territórios de comunidades tradicionais e até o desmatamento legal. Apesar disso, a obrigação de reduzir essas emissões é imputada integralmente ao setor privado, distorcendo sua participação real no total e inflando artificialmente a meta de corte”.
Nesta quarta-feira (27), representantes do governo envolvidos no Plano Clima também foram chamados em audiência na Comissão de Agricultura do Senado para explicar os pontos.
Em que pese o fato de que, na demanda sobre as remoções, o agro tem razão – hoje o gás carbônico que é absorvido pelas atividades agrícolas e também pelas áreas de vegetação nativa dentro das propriedades não é descontado das emissões, por um problema de metodologia internacional que o governo reconhece que precisa ser revisto – no resto parece mais um esforço do setor para tentar aliviar qualquer tipo de regulação e compromisso com a meta de zerar o desmatamento do país.
Assim como ocorreu com toda a pressão da bancada ruralista para mudar o licenciamento ambiental no Brasil. O setor incluiu no PL a isenção da necessidade de fazer qualquer tipo de licenciamento para todos os imóveis que estiverem incluídos no Cadastro Ambiental Rural (CAR), mesmo se ele não estiver validado. O presidente Lula vetou isso, mas a FPA promete derrubar o veto.
É uma novela que não vem de hoje. Pelo Código Florestal, os donos de terras no Brasil são obrigados a deixar um percentual de suas propriedades com vegetação nativa, no formato de Reserva Legal e Área de Preservação Permanente. E por essa regra, o setor sempre vai argumentar que já é muito conservacionista. E que nunca é reconhecido por isso.
Por outro lado, costuma ignorar alguns fatos importantes sobre a responsabilidade sobre o desmatamento no país. Veja alguns dados apresentados pelo Relatório Anual de Desmatamento do MapBiomas – que é uma espécie de raio-X sobre a evolução do uso do solo no país.
Na versão mais recente, deste ano, relativa a dados do ano passado, o RAD aponta que:
- Apesar de apenas 0,8% dos imóveis cadastrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) terem algum registro de desmatamento em 2024, eles respondem por 88,7% de toda a área desmatada no país.
- Do total de 62.508 imóveis cadastrados no CAR com desmatamento validado em 2024, 46,3% foram reincidentes, ou seja, já tiveram registro de desmatamento em anos anteriores.
- 38,8% dos imóveis no CAR com alerta de desmatamento estão concentrados na Amazônia; Já o Pantanal (99,5%) e o Cerrado (95,5%) têm quase a totalidade do desmatamento no bioma em 2024, em áreas cadastradas no CAR.
- O desmatamento por pressão da agropecuária responde por mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos. |
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