sábado, 30 de agosto de 2014

Encontro debate saídas para a cultura do transporte individual

Em evento promovido por CartaCapital, especialistas defendem uma gestão de demandas que crie as bases de desenvolvimento das cidades para mudanças na relação entre emprego e trabalho
por Vanessa Perroni Carvalho — publicado 29/08/2014 16:49
Omar Freire
Ermínia Maricato
Ermínia Maricato, urbanista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, durante o evento
Pensar sobre os privilégios do transporte individual em detrimento do transporte público é um dos principais pontos para problematizar a mobilidade urbana, até porque este se liga também ao processo de construção da própria cidade. "Na década de 1970, o número de habitantes nas zonas rural e urbana eram quase equivalentes. Hoje 85% da população mora na cidade. A cidade absorveu esse fluxo de forma esparramada", explanou o superintendente da ANTP - Associação Nacional de Transportes Públicos, Luiz Carlos Mantovani Néspoli durante o evento Diálogos Capitais: Metrópoles Brasileiras - Mobilidade, promovido porCartaCapitalque aconteceu nesta sexta-feira, 29, em Belo Horizonte.
Segundo Néspoli, duas decisões fizeram com que a cidade se desenvolvesse de forma desorganizada. Uma foi a especulação imobiliária e a lucratividade do empreendimento em busca de loteamentos cada vez mais longe do centro urbano. Outra foi a decisão política de investir no automóvel.
"Cerca de 80% das verbas públicas são destinadas para absorver o transporte individual, que transporta apenas um terço da população", afirmou Ermínia Maricato, urbanista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. "Loteamentos cada vez mais longe e sem acesso ao transporte terminam numa conta que, no final, sai cara, pois é preciso implementar meios de mobilidade para essa população".
Assim, de acordo com os palestrantes, criou-se a cultura do transporte individual. E se faz necessária uma gestão de demandas como o Plano Diretor Estratégico, que crie as bases de desenvolvimento da cidade pautado na mudança da relação emprego e moradia. "Precisamos fortalecer os centros regionais e fazer com que as pessoas fiquem mais perto de onde trabalham", pontuou Ermínia.
Em sua fala, o diretor das áreas de Infraestrutura Social, Meio Ambiente, Agropecuária e Inclusão Social do BNDES, Guilherme Lacerda, atentou para o fato da responsabilidade não ser somente do executivo. "Ela envolve órgãos de controle, o Judiciário e a população, dentre outros. Nós fazemos financiamento para modelo motorizado, mas a grande maioria é destinada ao financiamento público", elucidou.
Para o presidente da BHTrans, Ramon Victor, outro impasse é a questão metropolitana. "Os municípios têm certo grau de autonomia, mas é preciso avançar nas discussões metropolitanas para uma melhor integração das frotas", ressaltou.
Dentre as medidas de curto prazo para começas a solucionar o problema estão: qualificar o transporte coletivo; criar o desestímulo ao uso do automóvel, com redução de vagas de estacionamento em prédios e centros comerciais; programa de melhorias da calçada e incentivo ao uso de bicicletas.
A longo prazo, foram pontuadas a redução da velocidade máxima permitida nas vias da cidade, para a diminuição de acidentes e o melhor tráfego de pedestres e ciclistas. Aumento do número de faixas prioritárias e integração de soluções como metrô, corredores de via rápida (MOVE em Belo Horizonte), e os ônibus convencionais. O maior número de possibilidades para a locomoção com a implantação da única entre eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário