Basta conferir a quantidade de dinheiro público que deputados federais e senadores estão destinando para irrigar as candidaturas de seus aliados e parentes. Com a facilidade das emendas Pix, o mecanismo mais usado para transferir recursos para cofres municipais e campanhas eleitorais, criado no governo Bolsonaro às vésperas do pleito de 2020.
Quando a festa dos Pix foi interrompida pelo ministro do STF Flávio Dino, no dia 1o de agosto, R$ 4,8 bilhões já tinham sido pagos neste ano – além de R$ 8,8 bilhões em 2023. Dinheiro público sem rastreabilidade que provavelmente já está no cofre de prefeitos escolhidos pelos deputados, até porque a legislação proíbe a transferência de recursos da União para municípios após o prazo de três meses antes das eleições.
Mas, se não podemos evitar a endinheirada interferência dos políticos federais nas eleições municipais, cabe a nós ao menos pular da barca ideológica e eleger critérios relevantes para escolher prefeitos e vereadores com base em competências e atribuições reais.
Vejo com desconfiança, por exemplo, obras urbanas de última hora e, principalmente, promessas de melhor desempenho na segurança pública, presentes em todos os palanques, já que as decisões de peso sobre esse tema estão fora das competências municipais.
Os avanços populistas nesse sentido, como o aumento de armas e poder de polícia das guardas municipais, só têm trazido mais problemas, como mostra a formação de milícia na Cracolândia, em São Paulo.
Para melhorar a segurança, o melhor que um prefeito pode fazer é manter as ruas limpas e bem iluminadas, oferecer políticas de geração de renda, inclusão, moradia, educação, saúde e lazer, além de um transporte público eficiente e bem fiscalizado (pelo menos sem celebrar contratos com facções criminosas, como aconteceu em São Paulo) – esse sim um serviço municipal essencial, de acordo com o artigo 30 da Constituição Federal.
Em outras palavras, o prefeito e os vereadores devem cuidar do bem-estar da população e zelar pelas condições ambientais que a cidade oferece a seus habitantes. O policiamento nas ruas deve ser cobrado das autoridades estaduais, e a investigação e repressão ao crime dos governos federal e estadual.
De acordo com o artigo 23 da Constituição, são competências municipais essenciais, em comum com a União e os estados, reduzir a pobreza e a desigualdade, promover a inclusão, organizar o trânsito, garantir o acesso de todos os cidadãos à ciência, à cultura e à tecnologia e preservar o patrimônio histórico, artístico e o meio ambiente, além de combater toda forma de poluição. |
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