Vamos olhar os votos de Maduro. Se tomarmos o número total e ampliarmos um decimal, a porcentagem seria de 51,199997%. Trata-se do número de votos mais próximo possível da porcentagem 51,2%, dentre cerca de 10 mil possibilidades, como bem explicou o economista uruguaio Fernando Esponda.
É bem possível que funcionários do governo venezuelano tenham trabalhado de trás para frente: decidiram uma porcentagem que seria adequada para o ambiente político do país, e então calcularam quantos votos seriam necessários.
Para comparação, Lula foi eleito com 60.345.999 votos, ou 50,902405%, enquanto Bolsonaro recebeu 58.206.354, ou 49,097595% dos votos. Uma eleição apertada, mas real.
Até hoje, o CNE não liberou os dados detalhados. Apesar de ter apurado, agora, mais de 96% das urnas, não se sabe quantos votos foram contabilizados em cada estado, em cada região ou em cada colégio eleitoral. É impossível checar a votação. (diferentemente do Brasil, onde o TSE sempre abre a base com todos os dados).
Mas, a se considerar que os dados de atas recolhidos pela oposição são verdadeiros, a realidade é aterradora para o chavismo. Nunca, ao longo de 25 anos, a população rechaçou-o tão fortemente. Maduro perdeu em todos os estados do país, e em 90% dos municípios, assim como em todos os estratos sociais, segundo uma análise do economista venezuelano Omar Zambrano.
Pode ainda haver novas trapaças, uma vez que os governistas insistem que houve um “ataque cibernético” contra o sistema do CNE durante a noite de votação. Como não foi oferecida nenhuma prova deste ataque, ouso dizer que é mais uma narrativa que vai ganhando corpo nos círculos chavistas, o que poderia levar até ao cancelamento das eleições. O site do CNE, aliás, está fora do ar desde as eleições.
Em vez de deixar o CNE concluir seu trabalho, o Supremo Tribunal de Justiça, agora, decidiu ser o responsável por avaliar os resultados das eleições, a pedido de Maduro. Chamou os candidatos a apresentarem as atas eleitorais, em uma reunião na semana passada. González Urrutia não foi e acusou que era mais uma armadilha.
Eu acho que Maduro acreditava de fato que venceria as eleições. Embora a grande maioria dos institutos confiáveis dessem larga vitória à oposição, havia pesquisas que o colocavam até 9 pontos à frente. Eram essas que lhe eram apresentadas como confiáveis.
É esse um dos problemas dos autocratas cercados de puxa-sacos (o mesmo vale para Bolsonaro): perdem, eles mesmos, contato com a realidade factual. Assim, Maduro deve seguir daqui em diante convencido de que está resistindo à ingerência americana, sem ouvir a vontade da maioria da sua população. |
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