Na reta final da campanha no primeiro turno, Flávio e Witzel
aliaram-se. Participaram unidos de compromissos eleitorais. Em 22 de
setembro, por exemplo, estiveram em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Era um ato de Flávio. “Agradeço também a presença aqui do candidato
Wilson Witzel, que estamos acompanhando em algumas agendas”, disse o
então concorrente ao Senado.
Ali, Flávio portou-se como um bom Bolsonaro, família chegada a uma
arma e uma farda, igual milicianos. “Bandido, com a gente, vai ser
tratado como bandido. Ou é cadeia ou é cemitério.”
Witzel era um completo azarão. Naquele dia, tinha 3% nas pesquisas.
Na véspera do dia D, 10%. No domingo, surpreendeu nas urnas. Foi o
primeiro colocado, com 39%.
Um dia depois, um morador de Rio das Pedras chegou ao trabalho e
contou uma história sinistra a colegas. No sábado à noite, véspera da
eleição, milicianos tinham feito correr uma ordem entre os moradores.
Era para votar no número 20. Nós, avisaram os milicianos, vamos conferir
a votação. Se o número 20 não tiver ido bem, todo mundo vai pagar.
Ninguém na comunidade sabia quem era Witzel, nem que ele era o 20 na urna. Com medo de retaliação, muita gente votou nele.
Na 179
a zona eleitoral do Rio, à qual pertence Rio das Pedras, o ex-juiz teve 34%. E teve 41% na 119
a zona, a de Itanhangá, local do alegado QG da milícia, onde o MP achou 50 mil reais cash e 290 cheques de valores gordos.
CartaCapital
tentou ouvir o morador de Rio das Pedras que relatou a história a
colegas de trabalho. Ele não quis. Ficou com medo: “Essa terra tem lugar
que não podemos entrar”.
Witzel defende que a polícia atire “na cabecinha” de bandidos, para alegria de policiais-milicianos.
Ele é também aliado dos Bolsonaro na facilitação de negócios com
armas, efeito esperado da liberação da posse e da licença tácita para
matar bandido (“É cadeia ou cemitério”). Em dezembro, pouco antes da
posse, foi a Israel, reuniu-se com dois fabricantes de drones e prometeu
comprar 50 deles para o Rio.
No dia da posse de Jair Bolsonaro, havia em Brasília um equipamento
de segurança chamado DataGo. Serve para rastrear, num raio de 6 km,
todos os números de celulares, ligações entre eles e o teor das
conversas. Quem comprou? O Exército. Quem fabrica? Israel.
Bem que uma ex-autoridade da área internacional do governo Temer diz:
Eduardo Bolsonaro, o caçula do presidente, tem negócios com empresas
israelenses. Será?
Witzel viajou a Brasília para a posse presidencial e levou de carona
no avião do governo um fã de Flávio e Jair, o juiz federal Marcelo
Bretas, o da Operação Lava Jato no Rio.
No dia da eleição de Flávio ao Senado, Bretas festejou no Twitter:
“Parabenizo os novos Senadores, ora eleitos pera representar o Estado do
Rio de Janeiro a partir de 2019, Flávio Bolsonaro e Arolde de Oliveira.
Que Deus os abençoe!”.
Agora anda aborrecido com “críticas prematuras” ao governo,
“claramente oportunistas”, conforme escreveu na rede social em 9 de
janeiro. Não explicou do que se queixava. Dá para imaginar. Seus ídolos
derretem.
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