Políticas agrícolas
Só o grande interessa à economia?
A crise foi gerada para interromper um rearranjo distributivo, a favor
das classes baixa e média, em que ricos e corruptos perderiam dinheiro
Marcelo Pinto / APlateia
Sempre se espera ver mudanças depois de um tempo sem
visitar uma região do Brasil. Demorei um ano para voltar ao Vale do São
Francisco. Amigos, negócios, contradições e paixões me trazem aqui mais
amiúde. Na semana passada, não cheguei ao sertão. Fiquei quatro dias
urbanos, entre Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).
Essa realidade foi construída por brasileiros em região pobre do semiárido nordestino em que passava um grande rio. Pensou-se. Daí em diante vocês sabem a história. Talvez, apenas não imaginem o quanto no projeto e resultados foram importantes a estrutura fundiária difusa lá estabelecida no início e o atrativo disso na absorção de tecnologia agrícola.
Claro que a “lupa” ainda mostra vastas extensões de pobreza e inexplicáveis amontoados de lixo espalhados em áreas suburbanas e rurais. Mesma surpresa que se repete nas duas cidades principais no que se refere à expansão do verde pelo paisagismo. Não tem jeito. Sempre que lá estou me decepciono com a absurda falta de verde nas duas cidades. De praças, jardins, plantações conduzidas ao longo das orlas.
Seria injusto, mas pelo menos que assim fosse onde é enorme a concentração da riqueza. Por que o mérito do lindo verde das águas do Velho Chico e das plantações agrícolas não se estende ao paisagismo urbano? Tudo é asfalto ou chão batido. Não se pode acusar o clima, a seca. Se uvas, mangas, bananas, goiabas, melões, tomates, cebolas, coqueiros, verdejam, por que gramados, árvores, arbustos, flores, não?
Quem sabe uma ironia: “Olha aí, quando a gente quer, faz”. Ou lembrança de um passado não difícil de superar. “Vejam o que éramos e o que viramos”.
Mas não é intenção gastar a pouca munição de minha verborrágica AK-47 com as administrações municipais de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). Nem me preocupei com quem são eles ou a qual partido pertencem.
Deixo a ira da AK-47 para as monstruosidades, anunciadas aqui desde que o golpe começou a ser engendrado, que estão sendo cometidas contra o trabalhador rural, os direitos dos assentados caboclos, índios e quilombolas, a permissividade com que se vê a violência, a flexibilidade com as leis que controlam o uso de agrotóxicos, o descrédito às denúncias de entidades religiosas, o corte dos incentivos para desenvolvimento agrário. Deixem, pois, a AK-47 passar e anotem.
O comando das políticas agrícolas, através do Estado, mudou de mãos. Retorna o ideário que aos poucos fenecia de que só “o grande” interessa à economia. As leis favorecerão aos que produzem e exportam. Os subsídios, mesmo os indiretos, beneficiarão a produtividade, mesmo sem mais medi-la comparativamente, como anunciado pelo IBGE para o Censo Agropecuário 2016.
A campanha da TV Globo, agro é isso, aquilo, tudo de bom, não é dirigida a todo o universo rural brasileiro. É financiada pelos grandes complexos fabricantes de agroquímicos e tradings e pensada pelos barões da FIESP.
Não acreditem quando as folhas e telas cotidianas reproduzem, em contristadas expressões, os massacres contra índios, posseiros e assentados. Simulam, pois sempre deixam entrever um ar de dúvida sobre a autoria dos crimes. Verdade, William e Renata?
Você que está no campo vendo serem aniquilados mecanismos que garantem seus direitos de sobrevivência e trabalho, a ponto de serem remunerados como nas senzalas, saiba que
Deixaram isso perdurar 13 anos, levando-nos na distração de que já tínhamos feito muito e assim nos deixariam levar o barco, pois assim a população de expressava em eleições diretas. Burros, largamos suas mãos e nos amasiamos com os cortesãos e cortesãs da governabilidade para eternizar o projeto.
Para dar no que deu. E hoje quem temos para segurar um pouco da sanha fascista? Os movimentos sociais, ponto alto e ativo da reação de esquerda, CUT, MST, FETAG, CUT, Sindicatos, e outras linhas de frente dos movimentos sociais, que nem mesmo nos exigiram um pedido de perdão.
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