Os países europeus, por sua vez, que tradicionalmente são os que mais colocam recursos em financiamento climático, expressaram não estarem dispostos a se comprometer com um volume mais vultoso com medo da repercussão dentro dos próprios países.
Há um discurso, inflamado pela extrema direita em ascensão, em especial na França e na Alemanha, de que o dinheiro europeu não deveria ir para outros países, quando há questões internas complexas a serem resolvidas – inclusive os próprios impactos das mudanças climáticas.
A presidência da COP29, comandada por Mukhtar Babayev, ministro da Ecologia e dos Recursos Naturais do Azerbaijão, foi muito fraca e se deixou levar pelos europeus, hoje importantes compradores do gás natural extraído no Azerbaijão depois que o fluxo do gás russo foi cortado por causa da guerra contra a Ucrânia.
Não que Babayev tenha admitido isso. Nesta segunda-feira (25), um dia após o fim da cúpula, ele publicou um artigo no jornal britânico The Guardian lembrando que o valor inicial proposto pelas nações desenvolvidas era ainda menor, de US$ 250 bilhões – cifra que só apareceu na mesa na quinta-feira (21) cedo, faltando menos de 48 horas para o que deveria ser o fim da conferência (no fim da sexta-feira). As negociações acabaram se arrastando até a madrugada de domingo, mas sobrou pouco tempo para evoluir em algo melhor.
Babayev tentou se justificar, dizendo saber que o acordo é imperfeito. E buscou se eximir da culpa, trazendo à tona a pouca habilidade diplomática que o país exibiu ao longo de toda a conferência.
“É o negócio que quase não aconteceu”, escreveu. “Minha equipe de negociação e eu não apresentamos esta proposta de US$ 250 bilhões porque a consideramos suficiente para combater a crise climática, nem quisemos adiar o seu anúncio para os últimos dias da cúpula, deixando tão pouco tempo para alterá-la. Em vez disso, trouxemos isso para a mesa porque o norte global tinha simplesmente se mostrado irredutível aos nossos esforços para aumentar este número ou anunciá-lo mais cedo.”
Ele revelou ainda que foi por insistência dos países ricos que a proposta não fosse apresentada até o penúltimo dia. “Para o sul global isso, com razão, fez com que tudo parecesse um fato consumado. A minha equipe de negociação defendeu veementemente que os rascunhos fossem tornados públicos muito mais cedo. Mas isso não aconteceria.”
Segundo Babayev, a China, cobrada a colaborar com a meta financeira, estava se articulando para também colocar dinheiro na mesa e fazer com o que o recurso chegasse ao menos a US$ 500 bilhões, desde que explícito que era de modo voluntário e que os desenvolvidos fizessem mais. “Mas eles não fizeram”, disse o ministro.
Honestidade interessante, porém pouco típica do que reza a boa diplomacia, sempre cuidadosa em apontar o dedo ou revelar detalhes das negociações. Seja como for, a verdade é que os acontecimentos em Baku abalaram o multilateralismo.
O peso de tudo isso recai agora sobre o Brasil, sede da próxima COP. Bati um papo rápido com Ana Toni, secretária de Mudança de Clima do Ministério do Meio Ambiente, que participou ativamente dos esforços para melhorar o acordo e não deixar que Baku terminasse sem uma solução. Ela lamentou que tenha sido assim.
“A COP29 foi um triste reflexo da política nacional dos principais países ocidentais. Dos principais países desenvolvidos e doadores. Eles não mais conseguem convencer seus eleitores da importância da política multilateral do clima. Se esquecem que este é um problema global, que as emissões não têm fronteiras, e que somente soluções globais, que envolvam a todos, podem combater as mudanças do clima. Isso significa que, sem ajudar os países em desenvolvimento, não haverá solução global”, afirmou.
Nas redes sociais, ela complementou. “Ao Brasil, como presidente da COP30, resta agora a tarefa de recuperar a confiança no processo multilateral, que saiu esgarçada de Baku.” A competente diplomacia brasileira vai ter de sambar. |
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