domingo, 24 de novembro de 2024

ESCRAVIDÃO NO BRASIL: QUEM SÃO OS ANTEPASSADOS DE POLITICOS ?

 

Em maio deste ano, fiz uma viagem de férias com a minha mãe, dona Cida. Fomos para Santa Rosa do Piauí, cidade vizinha de onde ela nasceu e viveu a infância e adolescência antes de se mudar para São Paulo. 

Mas, você deve estar pensando, o que essa viagem tem a ver com meu trabalho na Pública

Bom, na mesma época, eu estava imersa nas pesquisas do Projeto Escravizadores, iniciativa da Agência Pública que identificou vínculos de 33 políticos com antepassados escravocratas. Depois de quase um ano pesquisando a genealogia de autoridades brasileiras, algo me incomodava: a “facilidade” de encontrar registros sobre famílias poderosas contrastava com a dificuldade de acessar informações sobre meus próprios antepassados.

Foi aí que, nas minhas férias, continuei trabalhando, mas dessa vez na minha própria genealogia.
Para a metodologia do Projeto Escravizadores, criei planilhas e pastas para cada autoridade que pesquisamos, com o objetivo de organizar a papelada. Na Pública a gente costuma investigar pessoas a partir de redes sociais, entrevistas, documentos públicos, dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, e claro, gastando a sola do sapato em apurações em campo. Mas, investigando parentescos, descobri um novo mundo de fontes. Por exemplo, nos registros paroquiais e civis, como certidão de nascimento, consigo ver dados sobre o recém-nascido e mais duas gerações acima, seus pais e avós, além de informações sobre datas e locais. Com um único documento, conseguia identificar três gerações de familiares.

Acessei alguns registros pela plataforma FamilySearch, mas tive dificuldade em encontrar informações da minha própria família, ainda mais da minha mãe, uma mulher negra como eu. 

Isto foi algo que também reparamos no levantamento do projeto, tivemos dificuldade em mapear a genealogia de pessoas negras e indígenas, por falta de dados sobre pessoas escravizadas ou antepassados libertos. A memória documental dessas pessoas geralmente é mencionada só pelo primeiro nome, por um apelido, e normalmente associado ao escravizador. É o caso, por exemplo, do assento de batismo de uma escrava dos possíveis tataravós do governador Tarcísio de Freitas. O registro menciona “Martha, filha de Delfina, escrava de Ana Rosalina Pacheco de Freitas”.

Essa busca pelas minhas origens me fez refletir: “E se, ao desenterrar histórias, eu descobrir antepassados escravizadores? O que faço com essa informação agora?”. 

Muitos investigados desconhecem seus vínculos com a escravidão, mas é aí que entra o papel da justiça reparatória. Não podemos mudar a história nem somos responsáveis pelos crimes de nossos antepassados, mas o que fazemos com essa informação é, sim, nossa responsabilidade.

Por isso, te peço para somar nesse projeto. Queremos seguir pesquisando essas conexões. Nosso objetivo é investigar ainda o Judiciário e outras autoridades do Executivo e Legislativo, como os deputados. Mas precisamos de você para isso.

Cada contribuição fortalece nosso jornalismo independente e nos dá mais liberdade para investigar as conexões do Brasil com seu passado escravocrata – um trabalho que exige tempo, dedicação e muitos recursos.


Achou essas revelações importantes e quer ajudar a manter viva a memória desse passado? Junte-se a nós! Com a partir de 20 reais você já ajuda a financiar investigações que fazem a diferença.
✊Quero fazer parte desse projeto!
Um abraço,

Bianca Muniz
Analista de dados da Agência Pública

Nenhum comentário:

Postar um comentário