segunda-feira, 10 de julho de 2023

OS MISTÉRIOS ENVOLVENDO O "HOSPITAL DE LIRA" EM MACEIÓ

 



Olá, tudo bem? 

Numa conversa durante o aniversário de um amigo em comum, em maio, descobri que o repórter Breno Pires, da revista Piauí, assim como eu, estava há meses tentando desvendar os mistérios de um hospital em Maceió, mais conhecido na capital alagoana como “Hospital de Lira”.

Desde 2021, nós dois ouvíamos de algumas fontes que o hospital Veredas, comandado pela turma do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, estaria sendo usado para desviar recursos do Ministério da Saúde. Só que por falta total de transparência, não tínhamos conseguido avançar muito na apuração. 

Em vez de correr para publicar a matéria antes um do outro, decidimos, naquela tarde de domingo, que continuaríamos a investigação juntos, a partir do que cada um havia levantado de informação até então. Colaborar com outros veículos em vez de competir é coisa rara na grande imprensa, mas é algo que valorizamos muito aqui na Pública. 

 
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Desembarcamos em Maceió no dia 6 de junho e iniciamos um verdadeiro périplo para abrir a caixa-preta do hospital filantrópico. Ouvimos dezenas de fontes, visitamos todos os órgãos fiscalizadores de Alagoas, mas nos surpreendemos com o silêncio e a falta de vontade em abrir as contas do hospital, além de outras situações, no mínimo, estranhas. Descobrimos, por exemplo, que a pessoa que ficou por 22 anos à frente da promotoria de Justiça das Fundações, responsável por fiscalizar os gastos do hospital, após se aposentar passou a trabalhar como consultora para o Veredas. E que o filho dela também ganhou um cargo no hospital. 

Naquela altura do campeonato, já sabíamos que desde a gestão de Ricardo Barros (PP-PR) no Ministério da Saúde entre 2016 e 2018, o Veredas vinha recebendo muito dinheiro. E que eram sempre aliados de Arthur Lira que estavam à frente das contas do hospital, como um político que já figurou em escândalos na Saúde e a prima do presidente da Câmara, que está até hoje no cargo. 

Graças a um trabalho de “formiguinha”, descobrimos que quase R$ 1 bilhão passaram pelas mãos dos aliados de Arthur Lira que comandaram o hospital nos últimos sete anos. No entanto, o Veredas se afunda em dívidas e não tem dinheiro nem para pagar os salários de seus funcionários. Por quê?

Fontes ouvidas em Maceió acreditam que os contratos de advocacia do Veredas são dutos por onde escoam milhões de reais. A partir dessa pista, descobrimos que o hospital está habituado a contratar advogados com projeção nacional e laços com o poder em Brasília. Além disso, tivemos acesso a um contrato de R$ 2,8 milhões firmado entre o Veredas e um advogado trabalhista de Arthur Lira, Adriano Avelino. O acordo previa o pagamento em duas parcelas ao advogado, independentemente do resultado da ação. 

As revelações da Agência Pública e da Revista piauí mostraram que uma análise detalhada desses repasses precisa ser feita urgentemente. A partir da reportagem, o Conselho Estadual de Saúde de Alagoas, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) já foram acionados. 

Agora, cabe aos órgãos competentes, enfim, cumprirem o seu papel. Quanto a nós, continuaremos virando do avesso para investigar o que acontece com o dinheiro público que, ao que tudo indica, não está indo para onde deveria. Podemos contar com você para isso?

 
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Um abraço,

Alice Maciel
Repórter da Agência Pública em Brasília

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