“Branco é uma metáfora do poder” ou: Porque você deve assistir “Eu Não Sou Seu Negro”
Postado em 10 de fevereiro de 2017
Presença de prestigiados ativistas negras e negros. Foto: Angela Peres
Branco é uma metáfora do poder
Por Douglas BelchiorAssisti, nesta sexta dia 10/02 pela manhã, em uma sala de cinema repleta de nagras e negros, em uma sessão especial para esse público, o documentário indicado ao Oscar 2017 “EU NÃO SOU SEU NEGRO”. Sobre o impactos que me causou: Estou cansado de depender de “heróis brancos”, de líderes brancos, de políticos aliados, muitos até cheios de boa vontade, mas brancos! E quando digo “branco”, não é só na origem racial ou na cor da pele. Falo de brancos na forma de fazer, de pensar, de agir, de construir política, de se auto proteger e os seus iguais raciais, de sabotar a organização, as iniciativas e as lideranças negras, de manter as estruturas de tal forma organizadas que sempre estarão na condição de ajudar os negros e os negros de depender de ajuda, da compreensão e dos favores dos brancos. Afinal, no limite do entendimento racional humano, não existe branco ou preto. Existem seres humanos. Mas, como bem afirma James Baldwin, “Branco é uma metáfora do poder”. Metáfora essa, que não fomos nós, negras e negros, quem inventou! Em alguma esquina da história essa corrente, essa permanência estamental racializada vai se quebrar. E eu vou me empenhar pra isso!
Mas porque palavras tão duras? Por que assisti, repito, o documentário “Não Sou o Seu Negro”, irmanado à minha comunidade. Sugiro à você que assista também.
Angela Peres, em matéria para o site Todos os Negros do Mundo, descreve com primor o que foi esta manhã.
Pré-estreia de “Eu não sou seu negro”
Por Angela Peres do site Todos os Negros do MundoQuando preenchi o questionário para assistir à pré-estreia do filme Eu não sou seu negro – um dos concorrentes ao Oscar de melhor documentário – havia um campo sobre qual movimento social eu militava. Parei para pensar. Fui aluna Educafro, parte de um coletivo negro na universidade, professora da Uneafro e escrevo e apresento para um portal de notícias chamado Todos Negros do Mundo. Ainda assim, tive dificuldades em enquadrar minha “militância”. Mal sabia eu que esse filme me apresentaria caminhos para pensar atitudes para além de enquadramentos classificatórios.
Presença de prestigiados ativistas negras e negros. Foto: Angela Peres
Alguns rostos conhecidos e uma expectativa geral. O que veríamos ali era a história dos Estados Unidos da América, uma história real e ocultada. Três amigos: Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King. E uma testemunha: James Baldwin, o autor do manuscrito “Remember this house”, que baseou o filme.
Presença de prestigiados ativistas negras e negros. Foto: Angela Peres
As diversas camadas apresentadas passam por vidas sacrificadas por uma luta, Lorraine – a jornalista assassinada e esquecida, um presidente indiferente, brados e choros anônimos, entrevistas em emissoras de televisão, atores brancos e negros que interpretam o status quo, um filósofo que não sabe o que lutar para sobreviver e disputas. A sutileza do filme está em mostrar que as principais disputas não são fotografadas, são as disputas de ideias. “Branco é uma metáfora do poder”.
Presença de prestigiados ativistas negras e negros. Foto: Angela Peres
Homens que querem aliviar a culpa que sentem por oprimir dizendo que mulheres são dramáticas, brancos que tentam aliviar a culpa que sentem dizendo que negros são amargos ou revoltados, tudo isso diz respeito às estruturas de dominação. Enquanto não pensarmos com mais seriedade sobre elas, ou enquanto a maioria continuar indiferente às mortes que continuam ocorrendo, estaremos longe de acabar com essa guerra silenciosa.
Utilizo a primeira pessoa do plural porque considero muitos aspectos semelhantes com a realidade brasileira, principalmente a desigualdade, a violência policial traduzida em números de genocídio e a indiferença de todos aqueles que não querem discutir a questão.
Quantas salas de cinema passarão o filme no Brasil? Muito poucas! Por quê? Talvez pensem que ao contarmos essa história, estaremos contra os brancos. Mas estão enganados. Estamos contra uma estrutura opressora, a não ser que seja a favor dessa estrutura, pode ir ao cinema tranquilamente. Minha vontade é que muitos, muitos brancos tenham coragem de assistir para desconstruírem essa ideia de negro que eles mesmos inventaram. É, eu não sou sua negra!
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