quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

NELSON MALEIRO

NELSON MALEIRO - UM GIGANTE DA BAHIA

Nelson Maleiro, com a maça de golpear o gongo, em programa de calouros na TV.


Não se apaga a história, a memória, mas bem que a nossa anda precisando reacender alguns capítulos, oferecer maior visibilidade a muitos empreendedores pioneiros, que abriram novos caminhos e possibilidades, exatamente como fez Nelson Maleiro.
Na verdade, eu não escrevi quase nada nesta publicação. São transcrições, provisórias, de fontes citadas ao longo da postagem. Se eu me propuser a falar sobre Nelson Maleiro tudo o que poderei contar é de dois rápidos encontros que mantive com ele, na oficina da J.J. Seabra, (Barroquinha) quando da encomenda de umas ferragens para atabaques, ali pelo no início da década de 1980. Ele já era uma lenda, mas uma lenda viva e apenas para poucos, que conheciam a importância de seu trabalho. Quantos artesãos será que podemos encontrar na atualidade, os quais terão aprendido alguma fração da arte e da magia que se aconteciam naquela "tenda dos milagres"?  




"Nelson Cruz chega à vida no dia 20 de janeiro de 1909. Nasceu em Saubara, então distrito de Santo Amaro da Purificação. Aos 10 anos veio para Salvador onde começou a trabalhar como embalador na loja Bahia Elétrica, na Baixa dos Sapateiros. A partir daí, ele inicia sua gloriosa carreira de sucesso. Sua versátil criatividade de início se direciona para o fabrico de malas, o que lhe valeu o cognome com que toda a Bahia passou a lhe reverenciar: NELSON MALEIRO.
A arte sempre foi uma força que se apoderou daquele homem robusto que certamente ultrapassava a 100 quilos. Depois do fabrico de malas, colocou sua inteligência a serviço das alegorias que tanto marcaram o carnaval da Bahia. Inicialmente com os Cavalheiros de Bagdá, uma de suas criações mais expressivas. Em outro momento, colaborou com Os Internacionais, que durante vários anos teve o seu desfile abrilhantado pela "Lâmpada de Aladim" e pelo "Pandeiro Cigano", algumas das inúmeras invenções de Nelson Maleiro para o tradicional bloco."

Mercadores de Bagdá, forte presença de Nelson Maleiro no carnaval baiano.

"Atuante não só no carnaval, Nelson Maleiro já afamado na cidade de Salvador, também era presença marcante na Lavagem do Bonfim com sua bicicleta de vários lugares, sobre a qual levava alguma alegoria, enriquecida de alguma inscrição pertencente à festa.
A versatilidade era uma marca de Nelson Maleiro. Na década de 40, ele organizou a Orquestra de Jazz Vera Cruz, da qual participava tocando sax tenor. Maleiro foi também presença, vários anos, nas noites de Reis em Salvador, como integrante dos ternos Arigofe e Terno do Sol. Como desportista, foi remador do Clube de Regatas Vera Cruz.
Por tudo isso, Nelson Maleiro é figura inesquecível na cultura popular da Bahia. Se hoje a linguagem percussiva é destaque em nosso Carnaval, virando-se as páginas da história encontraremos Nelson Maleiro como precursor da fabricação e conseqüente valorização dos timbaus, agogôs, atabaques, tumbadoras e uma variedade de instrumentos: na medida em que não só os confeccionava como também sabia tocá-los muito bem."

Fonte: Cadernos de Educação do Ilê Aiyê - Vol. V - Pérolas Negras do Saber



GIGANTE DE BAGDÁ

"Nelson Cruz - Músico, criador de instrumentos de percussão, carnavalesco, artista, desportista, animador cultural e compositor.
Nasceu em 20 de janeiro de 1909, em Saubara, distrito de Santo Amaro da Purificação. Veio para Salvador aos 10 anos de idade, trazido por uma família amiga de seus pais para trabalhar como embalador na loja Bahia Elétrica. Mais tarde, tendo grande habilidade, dedicou-se a fabricar malas, recebendo a alcunha de Nelson Maleiro.
Os carnavais baianos sofreram grande influência de Nelson Maleiro pois era integrante do bloco Mercadores de Bagdá e depois, em 1959, com uma ala dissidente dos Mercadores, fundou o bloco Cavalheiros de Bagdá, que em 1960 saiu às ruas pela primeira vez no carnaval, sendo vencedor com sua criação de O Gigante de Bagdá.
Todos os anos, o bloco apresentava criações suas como: baleia jogando água no povo, dragão que expelia fogo, Tubarão, King-Kong, dentre outras."

Desfile dos Mercadores de Bagdá - 1959
Photo Pierre Verger©Fundação Pierre Verger

"Por muitos anos foi destaque do carnaval baiano, trabalhou para o clube carnavalesco Os Internacionais durante 9 anos, confeccionando os carros alegóricos deste bloco, como pandeiro, barco, lâmpada maravilhosa de Aladin, pirâmides do Egito e outros.
Foi o baiano precursor dos instrumentos de percussão pois fabricava, consertava e tocava instrumentos como: tamborim com e sem ferragem, bongô, timbau, atabaque, tumbadora, bateria completa, pandeiro, agogô, dentre outros.
Como percussionista inovador, apresentava-se tocando bombo com duas baquetas, em vários blocos como Vai Levando, Barroquinha Zero Hora, Ritmistas do Samba, Nega Maluca, etc...
Tocava também sax-tenor e barítono nos bailes da época com o jazz Vera Cruz, que criou, e nos ternos de reis onde participou, como: Arigofe, Estrela do Oriente e Terno do Sol, onde foi campeão por diversas vezes.
Fundou o clube de regatas Vera Cruz, participando de várias competições no Dique do Tororó com um barco de sua fabricação.
Participou da Hora da Criança nas apresentações das peças Narizinho e Monetinho, na orquestra, tocando maracas e cujas apresentações foram no teatro do Instituto Normal da Bahia.
Na Lavagem do Bonfim sempre se apresentava com uma bicicleta de seis lugares com frases como: A água que lava o bem e o mal, a água lava tudo, só não lava a língua desta gente.
No programa Escada para o Sucesso, da TV Itapuã, como o Gigante, "gongava" os calouros que desafinavam.
Como compositor fez a música Pescaria de Tubarão para os Cavalheiros de Bagdá.
Ao morrer, deixou 5 filhos (só tem 3 vivos), 14 netos e 2 bisnetos.
Muito católico, freqüentava o Mosteiro de São Bento e, no dia de seu aniversário, ia à igreja do Senhor do Bonfim, além de, toda Sexta-feira, distribuir esmolas na sua morada e local de trabalho, na Barroquinha."

Fonte: Talentos Musicais da Bahia: dos Inéditos aos Inesquecíveis.
Amandina Angélica Ribeiro de Santana e Milta de Azevedo Santos



"Em 1974, duas tradicionais agremiações carnavalescas de negros se extinguiram: a escola de samba Diplomatas de Amaralina e o clube Mercadores de Bagdá. Nelson Maleiro, a grande figura deste último, indignado com a falta de apoio dos poderes públicos, queirmou os instrumentos e adereços do Mercadores de Bagdá em plena via pública, após o carnaval. Desgostoso, esquecido, o "Gigante de Bagdá" morreu aos 73 anos, em junho de 1982."

Fonte:
Mário Gusmão: um príncipe negro na terra dos dragões da maldade - Jeferson Afonso Bacelar
Notas [105], pgs. 194-195

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